Quadrilha desviou R$ 2 milhões em golpes no DPVAT em Pernambuco, diz Polícia Civil
As informações foram repassadas pela Polícia Civil de Pernambuco, em coletiva de imprensa, nesta sexta-feira (15)
Segundo a Polícia Civil de Pernambuco, as fraudes em indenizações do Seguro Obrigatório para Proteção de Vítimas de Acidentes de Trânsito (DPVAT), cometidas pela suposta quadrilha alvo da Operação Sinistro, podem ter causado um prejuízo de mais de R$ 2 milhões.
A ação, coordenada pela Delegacia de Polícia de Repressão ao Estelionato, cumpriu 19 mandados de prisão e outros 19 de busca e apreensão em Pernambuco, São Paulo e na Paraíba, na quinta-feira (14). Entre os alvos, estão médicos, fisioterapeutas, um vereador e um policial civil. Duas empresas também tiveram os bens bloqueados.
A delegada Viviane Santa Cruz, que está à frente das investigações, explicou que o esquema começou a ser investigado em 2021, após o Ministério Público de Pernambuco (MPPE) receber uma denúncia anônima.
Conforme revelou o Diario de Pernambuco, o grupo identificava vítimas de acidentes de trânsito, reais ou fictícias, e produzia boletins de ocorrência, laudos médicos e demais documentos falsos para embasar os pedidos de indenização. Segundo a delegada Viviane, a investigação mostrou que o grupo estaria em atuação pelo menos desde 2016.
“Médicos e fisioterapeutas fraudavam atestados e relatórios de perícias médicas, dizendo que a pessoa precisou de algum tratamento. Inclusive, anexavam recibos, dizendo que a pessoa recebeu um tratamento médico, foi atendido e que, após perícia, apresentavam um grau de de invalidez, mas, na verdade, aquela pessoa não teria”, contou.
Esquema
Segundo ela, o grupo recebia por WhatsApp prontuários médicos de vítimas de sinistros de trânsito. Por esse motivo, a Polícia acredita que pode haver “participação de outras pessoas nesse processo”.
“Conversamos com algumas vítimas dos acidentes de trânsito. Elas contaram que quando ainda estavam no hospital, recebiam telefonemas de pessoas que diziam que elas tinham direito ao seguro DPVAT. Alguns, inclusive, chegaram a se passar por advogados, sem serem”, detalhou a delegada.
Essas pessoas seriam os intermediários, eles que fariam a ponte entre as supostas vítimas e a empresa seguradora. “Eles colocavam nos pedidos, os contatos da própria empresa intermediária. Então, a seguradora jamais ia conseguir entrar em contato com eles para confirmar, por exemplo, as informações do pedido de indenização”, disse.
De acordo com a delegada, o princípio do esquema se dava na confecção do boletim de ocorrência, na delegacia de Glória do Goitá, mesmo quando o acidente acontecia a quilômetros de distância.
“O esquema era complexo, porque havia acidentes que ocorriam em Jaboatão dos Guararapes, mas eram registrados em Glória. Boletins feitos há 200 km do local da ocorrência, sem que a vítima estivesse presente nesses registros”, pontuou.
Com a indenização dos laudos falsos, o grupo ficava com 30% a 60% dos valores, conforme a Polícia Civil.
Seguradora
O Diario de Pernambuco apurou que a Seguradora Líder seria a responsável pelo repasse dos valores indenizatórios e teria tido o prejuízo de mais de R$ 2 milhões. A reportagem tentou contato com a empresa por e-mail, mas não obteve retorno até a publicação desta matéria.
Outra empresa investigada é J&S Assessoria, ligada a Jonnathan Nascimento Gomes de Lima, que é apontado como um dos líderes do esquema. Segundo a investigação, ele teria acesso a prontuários de unidades de saúde, o que possibilitaria encontrar casos para fraudar o DPVAT.
Outro líder seria o médico Victor Felipe Crispim Clemente, de acordo com fontes da Polícia Civil. A reportagem não conseguiu contato com a defesa deles.
A lista de alvos inclui, ainda, o ortopedista Pedro Marques dos Santos Júnior, que declara inocência, e o vereador de Carpina, na Mata Norte, Wagner Emanoel Henrique Aleixo da Silva (PSOL).
No inquérito, o político, que é fisioterapeuta, e outros quatro profissionais são suspeitos de assinar documentos para atestar que as vítimas de acidentes de trânsito, reais ou fictícias, realizaram sessões de terapia.
Já o policial civil Severino Evaldo do Nascimento, que também foi preso, seria responsável por organizar o registro das ocorrências na delegacia de Glória do Goitá, na Mata Norte, que davam início às fraudes. Procurada, a Secretaria de Defesa Social (SDS) não se pronunciou sobre a prisão.