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Falta de perícia trava ação contra delegado que baleou ambulante em Fernando de Noronha

O delegado Luiz Alberto Braga de Queiroz responde por tentativa de homicídio por balear o ambulante Emmanuel Pedro Gonçalves Apory em Fernando de Noronha

Por Diario de Pernambuco

Delegado baleou ambulante durante festa em Fernando de Noronha, em maio de 2025

Falta de laudos periciais tem travado o andamento da ação criminal contra o delegado Luiz Alberto Braga de Queiroz, de 37 anos, acusado de balear por ciúmes o ambulante Emmanuel Pedro Gonçalves Apory, de 26, durante uma festa em Fernando de Noronha, em 5 de maio. Por causa dos ferimentos, a vítima precisou amputar a perna.

Em junho, o Ministério Público de Pernambuco (MPPE) denunciou o delegado por tentativa de homicídio doloso, por motivo fútil e sem chance de defesa para a vítima, além de omissão de socorro. Já o acusado alega ter agido em legítima defesa.

Passados dois meses da denúncia, no entanto, o delegado ainda não apresentou resposta formal à acusação. Segundo os advogados, o motivo é que algumas perícias, como a análise de conteúdo de câmeras de segurança, seriam indispensáveis para a defesa e ainda não ficaram prontas.

A tese foi acolhida pelo juiz Rogerio Lins e Silva, da Vara Única do Arquipélago de Fernando de Noronha, do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE), na sexta-feira (8).

“Aduz a defesa que, ao tempo do recebimento da denúncia, este juízo expressamente determinou a juntada dos referidos laudos periciais, todavia, até a presente data, a diligência não foi efetivada pelo órgão técnico competente”, registra o magistrado, em despacho.

“Neste contexto, considerando que a ausência dos laudos periciais compromete diretamente o exercício da ampla defesa (art. 5º, inciso LV, da Constituição Federal), impõe-se o acolhimento do pleito defensivo, de modo a resguardar a regularidade do feito e a higidez da fase postulatória da defesa.”

Denúncia

A denúncia do MPPE traz o depoimento de oito testemunhas. Segundo elas, o primeiro contato de Luiz Alberto com a vítima ocorreu em 3 de maio, em uma academia em Noronha.

Na ocasião, Emmanuel teria se apresentado à namorada do delegado e demonstrado interesse em se consultar com a mulher, que é nutricionista. De acordo com os relatos, eles teriam trocado número e, para confirmar o telefone, Emmanuel teria enviado uma mensagem.

Já na noite do dia 4, durante um evento, Luiz Alberto e a mulher estavam com amigos na festa. O delegado afirmou ter visto Emmanuel exibindo a rede social de sua namorada para conhecidos.

Segundo relata, o perfil tem “fotos do seu trabalho e pessoais, a exemplo de traje de biquíni, com clara demonstração de provocação ao declarante”. À Polícia, o delegado declarou que comentou com a parceira, que teria respondido: “Este macho escroto até mensagem está enviando para mim”.

Agressão

De acordo com o inquérito, o delegado agrediu Emmanuel quando ele estava a caminho do banheiro. “Assim, Luiz Alberto iniciou o confronto buscando intimidar e desmoralizar o oponente, deslocando-o energicamente para um canto, estapeando o seu peito e apontando o dedo no seu rosto”, relata a denúncia.

A investigação concluiu que a ação provocou uma “reação física da vítima, que teria sido usada pelo delegado como justificativa para legitimar a agressão”. Após balear o ambulante, Luiz Alberto teria, também, fugido da cena do crime e deixado a vítima “em sangramento ativo e abundante”.

“Só não chegou a óbito por conta dos procedimentos de contenção e estanque de sangue, com uso improvisado de torniquete realizado por um ilhéu”, conclui a Polícia Civil, no inquérito.

Ao apresentar a denúncia, o MPPE solicitou ainda o afastamento do cargo do delegado, o recolhimento de suas armas de fogo e a suspensão dos seus direitos políticos.

Em petições anteriores, a defesa do delegado já tentou afastar a tese da promotoria. À Justiça, os advogados negam que Luiz Alberto tenha comportamento agressivo e atribui à vítima suposta prática de stalking.