Narsson Figueiredo tornou-se guardião da memória do Diario de Pernambuco
Jornalista idealizou cápsula do tempo que foi aberta na comemoração dos 200 anos do jornal
Publicado: 07/11/2025 às 21:11
Abertura da cápsula do Diario de Pernambuco (Foto: Cryslli Viana/DP Foto)
Entre os nomes que ajudaram a preservar a história do Diario de Pernambuco, o jornal mais antigo em circulação da América Latina, destaca-se o de Narsson Figueiredo, funcionário dedicado, intelectual e apaixonado pela memória pernambucana. Foi ele o responsável por idealizar a criação de uma cápsula do tempo, entregue ao Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano (IAHGP) em 1929, contendo registros da comemoração dos 100 anos do jornal, celebrados em 7 de novembro de 1925. A cápsula, lacrada, foi aberta na cerimônia de 200 anos do periódico.
A iniciativa partiu da certeza de que o Diario de Pernambuco seguiria firme no futuro. “Ele acreditou que o Diario ia durar mais 100 anos e também teve essa ideia porque ele era uma pessoa de ideias além do seu tempo. Era uma pessoa muito inteligente, irreverente e tinha atos que nos surpreendiam. O que a gente está precisando hoje é de pessoas que sejam criativas, ousadas, como ele foi há 100 anos”, afirmou a neta do jornalista, Lúcia Helena Figueiredo.
Dentro da cápsula aberta nesta sexta-feira (7) havia uma carta escrita pelo jornalista, relatando com brevidade a sua trajetória.
“Nasci no Povoado São João dos Bombos, município da Victória - Pernambuco, numa quinta-feira, aos 14 de abril de 1887, primogênito e legítimo filho do Cap. Eng. Sergio Figueirêdo e Silva e Maria Figueirêdo e Silva. Vim para o Recife em 2 novembro de 1901 como telegrafista da Estrada de Ferro Central (hoje Great Western) até março de 1906, quando deixei a Estrada, entrei para a Livraria Francesa, à rua 1º de Março nº 9 (esta Livraria acabou e o prédio reformado é hoje uma casa de café e frutas do país)”, registrou.
Narsson Figueiredo mudou-se para o Recife ainda jovem e começou a trabalhar como telegrafista da Estrada de Ferro Central (Great Western) em 1901, profissão que exerceu até 1906. Nesse período, chegou a testemunhar a passagem do então presidente Afonso Pena por Jaboatão.
Paralelamente, Narsson se envolvia com o cenário cultural e intelectual pernambucano. A partir de 1907, seu nome começou a aparecer em registros do Diario de Pernambuco, participando de grêmios literários, teatrais e culturais de Jaboatão. O poeta e cronista Mauro Mota, em texto publicado no Diario em 1970, destacou o jovem como “orador de excelente eloquência”.
Em 14 de novembro de 1912, casou-se com Laura Vieira de Mendonça Figueiredo. Dois anos depois, surgiram as primeiras menções formais à sua atuação no Diario de Pernambuco, em 1914. Trabalhou na redação até 1931, e mesmo após seu desligamento, seu nome continuou aparecendo nas páginas do periódico, carinhosamente apelidado de “Nosso Velho Diario”.
Além do vínculo profissional com o jornal, Narsson manteve intensa participação no Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano. Tornou-se sócio efetivo em 1928, com presença constante nas reuniões e comissões da instituição. Suas intervenções, quase sempre, tratavam de temas relacionados à história da imprensa e à trajetória do próprio Diario de Pernambuco.
Em 7 de abril de 1955, Narsson registrou estar trabalhando em uma biografia detalhada de Antonino José de Miranda Falcão, fundador do Diario e figura central da história da imprensa brasileira. Falcão, que participou da Confederação do Equador e foi preso por isso, fundou o periódico em 7 de novembro de 1825, fazendo dele um marco da liberdade de expressão e do jornalismo nacional.
Ao longo dos anos, Narsson Figueiredo publicou diversos textos na revista do Instituto Arqueológico e ainda foi sócio correspondente do Instituto do Ceará, sócio fundador da Associação de Imprensa de Pernambuco e sócio efetivo do Instituto Histórico de Olinda.