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200 ANOS

Conflitos pelo mundo ganharam coberturas extensas no jornal

Publicações do Diario influenciaram o Recife, trouxeram referências, e imortalizaram as dores das guerras

Jorge Cosme

Publicado: 07/11/2025 às 02:30

 1944. Credito: Arquivo/DP. Segunda Guerra Mundial. Civis holandeses buscam abrigo sob uma trincheira onde soldados britanicos lutam em Boxtel./ Arquivo/DP.

1944. Credito: Arquivo/DP. Segunda Guerra Mundial. Civis holandeses buscam abrigo sob uma trincheira onde soldados britanicos lutam em Boxtel. ( Arquivo/DP. )

Em 1853, o Diario começou a acompanhar o conflito entre russos e turcos, na chamada Guerra da Crimeia. Os locais de combate foram inspiração para batizar engenhos em Pernambuco (Sebastopol, Crimeia, Malakoff), o que indica a influência exercida pelo jornal.

Os comerciantes de tecido também começaram a anunciar os materiais trazidos da Europa com denominações das frentes de batalhas mais famosas. A Torre Malakoff, no Bairro do Recife, tem nome em homenagem a uma das torres da fortaleza de Sebastopol.

Durante a Guerra do Paraguai, o Diario de Pernambuco não só iria informar os andamentos, com base em relatórios do Ministério da Guerra e correspondências do Rio de Janeiro, como também se engajaria em uma campanha patriótica. O jornal chegou a organizar uma banda de música, com subscrição popular, para doá-la a batalhões voluntários.

Em 17 de janeiro de 1865, o Diario publica decreto que cria os Voluntários da Pátria, com o objetivo de sustentar no exterior “a honra e integridade do Imperio”. Em 22 de junho daquele mesmo ano, o veículo anunciava que mais um corpo de voluntários da pátria seguia para a corte.

“Pernambuco orgulha-se de ter filhos como este, que se impuseram o nobre e duplo dever de expelir do solo pátrio as hordas paraguaias que o invadiram pelo lado de Mato Grosso, onde seus irmãos gemem sob o jugo insuportável do tirano Lopez, invasão que pretendem também levar a efeito pelo lado do Rio Grande do Sul, e lavar a nódoa salpicada sobre o nosso pavilhão pelos selvagens daquele Estado”.

Na edição de 18 de março de 1870, o jornal iniciou uma série de três grandes artigos sobre a Guerra do Paraguai, que já era considerada concluída. Naquele mesmo mês, o 53º Batalhão dos Voluntários da Pátria retornou ao Recife. "Honra a Pernambuco! Honra à Veneza Brasileira", diz o artigo.

O mesmo texto destaca que Pernambuco festejou a volta dos "bravos filhos", que voltaram do Paraguai "cobertos de glória e envoltos em um poético manto de luz".
Primeira Guerra Mundial. A edição de 29 de junho 1914 traz uma informação oriunda de cabo submarino de Viena, capital da Áustria: "Foi assassinado a tiros o herdeiro do throno da Austria, archiduque Francisco Fernando, cuja esposa também faleceu no conflito". Era um marco do que viria a se tornar a Primeira Guerra Mundial.

O periódico vivia um novo momento. Desde 1º de janeiro de 1914, o Diario havia passado para um formato menor, mas que, com uma moderna impressora rotoplana que substituita a Marioni do tempo dos Figueiroa e Rosa e Silva, conseguia utilizar mais recursos gráficos. É nesta época que surgem as primeiras fotos publicadas pelo jornal.

Em 1918, o jornal divulga o saldo do primeiro grande conflito armado do século 20: oito milhões de mortes, 20 milhões de feridos e cinco milhões de desaparecidos.
Segunda Guerra Mundial. "Com o bombardeio de Varsóvia, hoje pela manhã, a Alemanha inicia a guerra", anunciava o jornal em 1º de setembro de 1939.

Durante a Segunda Guerra Mundial, o Diario de Pernambuco se modernizou e passou a usar uma série de recursos para noticiar o conflito. Os textos eram publicados em sete colunas, com mapas e diagramas.
A edição que anunciava a invasão da Polônia pelos alemães, em 1º de setembro de 1939, foi extra, saiu às ruas com quatro páginas e tinha o objetivo de dar aos leitores as informações mais recentes sobre os planos de Hitler.

Em seguida, o jornal circulou com sua edição padrão da época de 12 páginas. Posteriormente, o Diario passou a contar com um "suplemento de guerra", que trazia textos analíticos sobre a situação em todo o mundo.

O veículo anuncia na mesma edição ter sido "o primeiro jornal a afixar um despacho urgente, comunicando o bombardeamento de Varsóvia pela força aérea alemã". "O discurso de Hitler, no Reichstag', continua o jornal, 'reunido esta manhã, foi perfeitamente ouvido no Recife, sendo de destacar que o Fuhrer carregou bem nas palavras quando disse a sua phrase hoje histórica: 'Resolvi falar com a Polônia na única linguagem que ella deve ouvir'", acrescenta, na grafia da época.

Em Edição Extraordinária, em 8 de dezembro de 1941, o jornal tratava da mobilização dos Estados Unidos e o conflito contra o Japão. “Os pontos de vista dos dois países eram profundamente antagônicos. Os Estados Unidos pleiteavam o respeito à liberdade dos povos da China, da Indochina e do Sião, enquanto os japoneses sustentavam que o seu expansionismo, através dos territórios desses países, era algo vital para sua subsistência. Apesar dos esforços dos Estados Unidos para conduzir o Japão ao bom caminho, não foi possível deter a ambição dos imperialistas de Tóquio, que projetam assim para o hemisfério ocidental a guerra, com todos os seus horrores”, assinala.

Outra capa emblemática é de 29 de janeiro de 1942. Traz a manchete: "O Brasil solidário com os Estados Unidos", anunciando, assim, que o país entrava em guerra contra o Eixo formado por Alemanha, Itália e Japão.

SINAIS DO FIM

Em 7 de agosto de 1945, o Diario registrava que a guerra estaria acabando também no Japão.
Com o título "Hiroshima reduzida a pó e fumaça", o texto diz que "O Departamento de Guerra informou, esta noite, que uma impenetrável nuvem de pó e fumaça cobriu a área do objetivo, aos o lançamento da primeira bomba atômica em Hiroshima, no Japão".

De imediato, morreram 78.150 pessoas em Hiroshima. Três dias depois, seria a vez de Nagasaki. Em 2 de setembro daquele ano, anuncia a manchete: "Assinada a ata de rendição incondicional do Japão".

Os últimos dias de abril de 1945 foram seguidos de notícias da Europa com indícios do fim da grande guerra. De Roma, dia 28, noticiou-se que a capital italiana aguardava o regresso de Mussolini prisioneiro, que teria sido capturado no norte do país ao tentar escapar disfarçado de soldado alemão.

De Paris, no dia 30, chegava a informação que os cadáveres de Mussolini e Farinacci foram pendurados em uma viga, presos por arames, e incendiados. Antes de ser jogada gasolina sobre o corpo de Mussolini e sua amante, o povo vaiou o chefe fascista que governou a Itália por 20 anos. Em 30 de abril, Moscou informava que o edifício do Reichstag havia sido capturado pelo Exército Vermelho durante os combates travados nas ruas de Berlim.

“FIGURAS E FACTOS”


A foto de Adolf Hitler apareceu no jornal muitos anos antes, na seção "Figuras e Factos" da edição de 27 de janeiro de 1924.


"Uma das personalidades de mais vigoroso destaque da Bavieira actual: Adolf Hitler, leader do movimento emancipacionista", escreve.

Em 20 de junho de 1933, o veículo publica nota sobe uma reunião de adeptos do nazismo no Recife.
Na mesma edição, o jornal publica que Carlos de Lima Cavalcanti, interventor federal de Pernambuco, declarou em telegrama ao chanceler Hitler e ao ministro Goebbels assegurar ardente simpatia e sincera admiração por ambos.

"Que o sr. Interventor Federal tenha pelo sr. Hitler e pelo doutor Goebbels tão 'ardente simpatia e sincera admiração' não há nada de estranhável. Ambos são personalidades tão 'marcantes' do nosso tempo que só podem despertar interesse. São homens que se admiram ou se odeiam; mas que não passam indiferentes", escreve o jornal.

O Diario criticava naquela ocasião a utilização de representações diplomáticas pelo interventor para transmitir as mensagens, já que só o ministro dos negócios exteriores poderia utilizar esse caminho.

"Como o sr. Hitler e o dr. Goebbels representam uma ideologia política especial, marcadamente antidemocrática e mesmo reacionária (no sentido antirrevolucionário) essa extemporânea manifestação pode dar lugar a interpretações que o momento brasileiro não comporta", alertava o periódico.

PÓS-GUERRA

Na edição de 4 de julho de 1947, o jornal publica que, com a decisão da União Soviética de não participar do plano anglo-franco-americano para a reconstrução econômica da Europa, com a ajuda financeira dos Estados Unidos, diversas capitais europeias destacaram que o mundo ficou "irreparável e perigosamente dividido em dois campos antagônicos".

Em janeiro de 1973, o Diario traz que o presidente Richard Nixon, dos Estados Unidos, anunciou ao mundo que o país chegou a um acordo com o Vietnam do Norte para encerrar “honrosamente” a guerra da Indochina. Ao mesmo tempo, o ministro das Relações Exteriores do Vietnam do Norte comunicava, em Hanói, que o acordo foi assinado em Paris após três horas e 40 minutos de conversa.


Em Saigon, o presidente do Vietnam do Sul, Nguyen van Thieu, relatava que os países envolvidos no conflito do Sudeste Asiático alcançaram o acordo de paz. O anúncio de Nixou causou euforia no mundo.
Em 10 de novembro de 1989, diz a capa do Diario: "Alemanha Oriental abre fronteiras à liberdade".

Texto destaca a "decisão histórica" da Alemanha Oriental de abrir completamente suas fronteiras, com efeito imediato, a cidadãos que pretendam emigrar em definitivo. "As mudanças repercutiram positivamente em Moscou e em todo o Ocidente".

No interior do jornal, a reportagem tem o título "Todo mundo já pode sair: cai o muro de Berlim".
"O muro de Berlim foi construído em 1961, isolando o lado ocidental, que passou a ser abastecido por uma ponte aérea, na época do Governo John Kennedy", acrescenta a notícia no Diario de Pernambuco, que chama a divisão de "muro da vergonha".

“GUERRA AO TERROR”

Antes que a resposta dos Estados Unidos ao atentado de 11 de setembro de 2001 recebesse o nome de Guerra ao Terror, o Diario já escancarava em sua histórica manchete do dia seguinte ao ataque: “Terror atinge o coração dos Estados Unidos”. Na mesma capa, uma aspa do então presidente George W. Bush indicava a postura que o país adotaria: "Não faremos distinção no castigo aos terroristas e quem os abriga".


Após os atentados às Torres Gêmeas e ao Pentágono, os Estados Unidos iniciaram a chamada "Guerra ao Terror", tendo como primeiro alvo o Afeganistão, onde estava a Al-Qaeda, organização terrorista responsável pelos ataques e que seria protegida pelo regime do Talibã.


Em 7 de outubro de 2001, ocorreu o início da invasão. No dia seguinte, o Diario assim anunciou: "Começa a Guerra do Afeganistão". A capa também informava que bombardeio atingiu Cabul e mais cinco cidades e que o Talibã informava que as bombas feriram e mataram civis.

O Iraque foi outro país que entrou na mira de Bush, que discursou na ONU em 2002 acusando o país de Saddam Hussein de esconder armas de destruição em massa. "Bush afirmou que um ataque contra Saddam Hussein é 'inevitável'", traz o Diario de Pernambuco na capa de 13 de setembro daquele ano.
A foto da capa da edição de 16 de fevereiro de 2003 é a mobilização ocorrida em Londres pedindo o fim da guerra do Iraque. "Protestos semelhantes aconteceram em todos os continentes".


No interior, a seção Mundo apresentava que "pacifistas saíram às ruas em todo Mundo, em gigantescas manifestações de oposição aos planos de Bush". Segundo o jornal, as marchas foram as maiores do mundo desde a época da Guerra do Vietnã.


SAÍDA DOS EUA

Em 15 de dezembro de 2011, os EUA encerraram oficialmente a Guerra do Iraque. O DP divulgou o tema da seguinte maneira na capa: "Depois de 113 mil mortes, EUA deixam o Iraque". Dentro da edição, o título diz "Para eles, o Iraque acabou", referindo-se aos soldados e aos EUA.


O vácuo de poder deixado no Iraque é considerado um propulsor para a cristalização do Estado Islâmico, que se afirma publicamente como califado em 2014.


Em 1º de julho de 2014, escreve o Diario: "Criação do Estado Islâmico em zonas da Síria e do Iraque pelos sunitas inicia uma nova era para a jihad internacional e preocupa o mundo".

Mais recentemente, o jornal também acompanhou a retirada das tropas americanas do Afeganistão, marcando os 20 anos dos ataques às Torres Gêmeas.

Em poucos dias, o Talibã conquista cidades importantes do país. Em 16 de agosto de 2021, o jornal destaca na capa: "Talibã assume controle do governo do Afeganistão".

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