Editorial Sub-representação feminina

Publicado em: 23/10/2018 03:00 Atualizado em: 23/10/2018 09:19

As mulheres vêm conquistando espaços em setores antes marcadamente masculinos. É o caso da magistratura e das Forças Armadas. Sobretudo no setor público, cuja seleção mediante concurso público leva em conta a meritocracia, cresce o número de representantes do erroneamente chamado sexo fraco. As presidências da República e do Supremo Tribunal já foram ocupadas por elas. Hoje, a Presidência do Tribunal Superior Eleitoral e a chefia da Procuradoria-Geral da República estão sob a batuta feminina.

Apesar do belo exemplo, é pouco, muito pouco. Vale o exemplo do Congresso Nacional. Nas eleições de 2018, o percentual de eleitas para a Câmara dos Deputados passou de 10% para 15% — de 53 parlamentares para 77. O Senado manteve o número do pleito de 2010, quando também foram disputadas 54 das 81 cadeiras. Então e agora, 7 candidatas chegaram à Câmara Alta.

Nesse universo, causa estranheza outra sub-representação. Trata-se da eleição de negras. Elas são 25,38% da população, mas ocupam 2% dos assentos legislativos federais. Pode-se dizer que o cenário foi pior. É verdade. Em 2010, apenas três se elegeram. Em 2014, 12. Em 2018, conforme levantamento do Correio Braziliense, as urnas aclamaram 13 — 12 deputadas e uma senadora.

Sem dúvida, registram-se progressos. Mas lentos. Para chegar à paridade, levar-se-á tempo. As mulheres são 51% da população. Justo seria que ocupassem metade das cadeiras na Câmara e no Senado. O atraso nos coloca em situação desconfortável. Entre 190 países, o Brasil ocupava em setembro a 156ª posição na ranking mundial de igualdade no Parlamento da Inter-Parliamentary Union (IPU).

As causas do desequilíbrio são várias. Uma delas: a mulher se lançou tarde na disputa eleitoral. Só em 1932 conquistou o direito de votar. O movimento feminista, na década de 1960, lhe deu ousadia não só para escolher, mas para ser escolhida. O ingresso nas universidades, a disputa pelo mercado de trabalho, a descoberta da pílula anticoncepcional contribuíram para deixar para trás a cultura sintetizada pelo Padre Vieira: a mulher só deveria sair de casa em três ocasiões — no batizado, no casamento e na morte.

Outra razão para a defasagem: a resistência dos partidos políticos. Apesar da lei de 1997, que obriga as siglas a lançar 30% de candidaturas femininas, houve pouco (ou nenhum) empenho para levá-las adiante. O investimento privilegiava a corrida masculina. Em maio deste ano, o TSE decidiu que o percentual não se restringia ao registro de candidatas. Abrangia o fundo público de financiamento de campanha.

Com recursos disponíveis e o barateamento das campanhas graças às mídias sociais, espera-se que a história mude de enredo. O desempenho das eleitas no dia a dia do mandato contribuirá — e muito — para atrair novas mulheres e conquistar a confiança dos eleitores. Elas precisam ter claro que foram eleitas para servir ao povo, não para servir-se dele. São funcionárias públicas cujo salário é pago pelo contribuinte.

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