Editorial Pobre país sem educação

Publicado em: 31/07/2018 03:00 Atualizado em: 31/07/2018 08:45

Educação é coisa muito séria. Não há país no mundo que tenha conseguido resolver seus problemas crônicos, como a pobreza extrema, sem que fosse adotado um plano para ampliar o acesso à escola e para melhorar a qualidade do ensino. Exemplos no mundo não faltam. Infelizmente, o Brasil não faz parte desse time de vencedores. É verdade que, ao longo de um par de anos, o país deu passos importantes para educar sua população. Mas boa parte das conquistas acabou se perdendo no meio do caminho. Em vez de avançarmos, estamos regredindo. E não há perspectiva de melhora.

Desde os anos 1970, o total de crianças entre quatro e 17 anos nas escolas passou de 48% para 94,2%. Contudo, observa-se hoje um quadro de atraso na aprendizagem, de evasão escolar e de incompatibilidade com boas práticas internacionais. Muitas escolas, sobretudo nas periferias das grandes cidades, se tornaram palcos de violência. Alunos desrespeitam os professores, o tráfico de drogas corre solto e aulas são interrompidas por causa de tiroteios entre polícia e bandidos. No meio dessa guerra, estudantes perdem a vida.

A percepção é de que nenhum dos candidatos que se apresentam para comandar o país a partir de 2019 tem conhecimento pleno do descalabro da educação. Quando tocam no tema, falam de forma genérica, como se tivessem fórmulas mágicas que, da noite para o dia, resolverão todos os problemas. Muitos só estão preocupados com as verbas que terão para aplicar no sistema de ensino. O problema, como não se sabe, não é dinheiro. Mas, sim, a má distribuição dos recursos. Destina-se menos que o necessário para os ensinos básico e médio e muito para o universitário. Ou seja, não se prepara a base. Quando chegam às universidades, o que vemos são analfabetos funcionais.

A situação é tão dramática, mostra pesquisa da ONG Todos pela Educação, que, entre os adolescentes de 15 a 17 anos, que deveriam estar no ensino médio, apenas 84,3% estudam. Estima-se que a maioria dos jovens que estão fora das salas de aulas é de meninas — um contingente de 1,2 milhão —, afastadas por fatores como gravidez precoce e violência. De cada 100 alunos que entram na escola, 76 terminam o ensino fundamental e 59 concluem o curso médio. E desses 59, minguados 7,3% têm conhecimento adequado de matemática. Não é só: dos jovens de 18 a 24 anos, 28% não trabalham nem estudam.

A desmotivação para o aprendizado não se restringe aos alunos: 49% dos professores não recomendam a profissão para os jovens. Pior: ser professor no Brasil não é a opção dos melhores estudantes, o que interfere na atuação dos profissionais nas salas de aula. De cada 10 brasileiros que ingressam no curso de pedagogia, sete tiram notas abaixo da média do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Dois não têm nota suficiente para sequer pedir o certificado de ensino médio. Outro grande problema nas escolas são as indicações políticas para os cargos de diretores. Isso ocorre em pelo menos 74% dos municípios.

Diante desse cenário assustador, é difícil pensar num Brasil moderno, produtivo, rico em pesquisas científicas e inserido num mundo cada vez mais tecnológico. Ou o país prioriza a educação de verdade, sem populismo, ou estará condenado a crescer pouco, a frequentar as estatísticas do atraso e a conviver com um fosso enorme separando ricos de pobres, um passaporte para a violência. O relógio está correndo. Mas ainda é possível construir um futuro promissor. Basta os governantes quererem.

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