Editorial O embate de dois gigantes

Publicado em: 27/06/2018 03:00 Atualizado em: 27/06/2018 08:53

O mundo assiste, perplexo, à guerra comercial que se inicia entre as duas maiores potências econômicas do mundo, Estados Unidos e China. Guerra declarada recentemente pelo presidente norte-americano, Donald Trump, sob o questionável argumento de que sua preocupação é proteger o país do que ele chama de “roubo” intelectual e tecnológico que estaria sendo praticado pelos chineses. Ao anunciar tarifas para a importação de produtos que contêm tecnologia, Trump coloca em risco o funcionamento normal e saudável das trocas comerciais globais, o que pode comprometer o crescimento econômico de todo o planeta, o que certamente não interessa a ninguém.

O gigante asiático reagiu imediatamente às sanções impostas pelos EUA e anunciou retaliação na mesma proporção, o que causou nervosismo em praticamente todas as bolsas de valores do mundo, que sofreram quedas significativas. A intenção do mandatário norte-americano é atingir o programa chinês batizado de Made in China 2025 — a política industrial que incentiva o desenvolvimento de tecnologias consideradas estratégicas para a economia do futuro, como robótica, informática e de equipamentos aeroespaciais.

Economistas especializados em comércio internacional acreditam que os Estados Unidos não alcançarão o objetivo, que é o de proteger os produtos norte-americanos de "concorrência desleal" e reverter o deficit comercial em relação à China. Trump acusa o país asiático de usar subsídios e empresas estatais para estimular os setores de produção tecnológica. Também denuncia os chineses de exigir a transferência de tecnologia de empresas norte-americanas que buscam se inserir no gigantesco e promissor mercado chinês.

O que Trump não esperava é a reação negativa de grandes empresas do país, que não concordam com a imposição, num primeiro momento, de tarifas sobre a importação de US$ 50 bilhões em produtos do país asiático. Empresários dos Estados Unidos acreditam que este não é momento apropriado para o início de uma guerra comercial entre as economias mais importantes do mundo. Na avaliação dessas corporações, a imposição de tarifas coloca o custo das práticas comerciais consideradas desleais por Trump nos ombros dos consumidores, fabricantes e fazendeiros norte-americanos.

Analistas concordam que o presidente dos EUA, ao impor barreiras à importação de produtos da China, espera que o país asiático acabe cedendo e abra mais seu mercado às empresas norte-americanas. No entanto, poucos acreditam que isso vá acontecer, pois o programa Made in China 2025 é o pilar da economia da nação asiática.

O certo é que todos têm a perder se esse embate se intensificar e perdurar, inclusive o Brasil. Isso porque o custo de uma guerra comercial é pago por todos, em razão da instabilidade gerada na economia global altamente integrada. O cenário prolongado de uma disputa entre as duas maiores economias globais afetará todos os países, já que diminuirá o ritmo de crescimento econômico mundial.

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