Editorial Déficit de civilidade

Publicado em: 25/06/2018 03:00 Atualizado em: 25/06/2018 08:58

Ganhou as redes sociais e destaque no noticiário nacional e internacional o machismo explícito de um grupo de torcedores brasileiros em Moscou, capital da Rússia, país que sedia a Copa do Mundo. O grupo induziu a mulher a repetir palavras de baixo calão, protaganizando uma situação constrangedora, uma violência inominável. O vídeo foi postado na internet e provocou profunda indignação.

Machismo, misoginia, homofobia e comportamentos congêneres foram ultrapassados pela etapa civilizatória em que se encontra grande parte da humanidade. Estão desconectados com os avanços da ciência e descontextualizados das sociedades mais modernas e bem-educadas. Aliás, os torcedores do Brasil produziram uma imagem péssima do país, ao lado de outros latinos, que, igualmente, revelaram o quanto estamos atrasados no quesito civilidade.

Vários integrantes do grupo machista foram identificados. Um deles é oficial da Polícia Militar de Santa Catarina. O comando da corporação avisou que ele será punido tão logo retorne ao Brasil por atitude “incompatível com a profissão e o decoro da classe, previsto no Regulamento Disciplinar e no Estatuto da PMSC”. Um advogado pernambucano, corre o risco de ter o registro cassado pela Ordem dos Advogados do Brasil.

A OAB condenou o comportamento dele. Em nota, a entidade destaca que “a preconceituosa atitude causa vergonha para todos nós, brasileiros, e vai na contramão do atual contexto de luta contra a desigualdade de gênero, em que cada vez mais instituições públicas e privadas estão em busca de soluções conjuntas para que nenhuma mulher sofra qualquer tipo de violência ou discriminação”.

Punições à parte, o episódio impõe reflexão e mudanças nas relações entre gêneros no Brasil. A manifestação machista, registrada em Moscou, é cotidiana no Brasil, acrescida de violência física e psicólogica contra as mulheres, que se traduz em assédio, estupro, espancamento e até feminicídio.

Um estudo da organização não governamental International Women's Day (Ipsos), divulgado no fim do ano passado, envolvendo 20 mil mulheres e homens de 27 países, colocou o Brasil está no topo do ranking da violência sexual, depois do assédio e da violência física. Os dados brasileiros são, na maioria das vezes, subestimados, pois boa parte das mulheres sente vergonha de denunciar o agressor ou medo de uma retaliação que pode lhe custar a vida. Romper o silêncio ainda é obstáculo a ser vencido.

O atraso que existe no Brasil resulta, em boa parte, da má qualidade da educação. Pessoas bem-educadas e bem formadas tendem a respeitar as outras, independemente do sexo ou da orientação sexual. Investe-se muito em grandes obras, incentiva-se o crescimento das grandes empresas, milhões são destinados a megaobras, como estratégia de desenvolvimento econômico. É uma aposta equivocada. Não há crescimento sustentável sem investimento pesado em educação.

Os comentários abaixo não representam a opinião do jornal Diario de Pernambuco; a responsabilidade é do autor da mensagem.