Editorial Tragédia humanitária

Publicado em: 23/06/2018 03:00 Atualizado em: 25/06/2018 09:06

“O sapo não pula por boniteza, mas porém por precisão.” O provérbio capiau imortalizado por Guimarães Rosa em Sagarana se ajusta à condição dos imigrantes. Ninguém deixa sua pátria por turismo, em alegre caravana na busca de aventura. Abandona casa, família, amigos e história por necessidade. Não raro se trata de questão de vida ou morte.

Expulsos por guerras, violência, pobreza, fome, perseguições, catástrofes ambientais ou abuso dos direitos humanos, africanos, americanos e asiáticos batem à porta de outros países na esperança de encontrar condições de sobrevivência. Carregam na bagagem enorme vontade de trabalhar, se integrar à sociedade e ajudar no desenvolvimento da nação que os venha a acolher.

Dados da ONU informam que, ao fim de 2017, havia 68,5 milhões de pessoas que compunham a população de refugiados ou deslocados. A cifra tende a aumentar como vem ocorrendo há cinco anos. Trata-se, sem dúvida, de complexa crise imigratória que afeta países desenvolvidos e em desenvolvimento. Entre os primeiros, sobressaem Estados Unidos, Itália, Grécia, Espanha e Alemanha.

As nações, ricas ou pobres, não são obrigados a abrir as fronteiras para estrangeiros. Mas não podem agir inspirados em modelos nazistas como fez o presidente da maior potência do planeta. Donald Trump envergonhou as consciências civilizadas do mundo ao separar pais de filhos e prender uns e outros em centros de imigrantes ilegais mantidos a quilômetros de distância. Forçado por pressões internas e externas, voltou atrás. Mas o estrago está feito.

Os Estados Unidos, cujos estudantes aprendem na escola o “destino manifesto” — vocação inalienável dos americanos para disseminar e defender a democracia no planeta —, pisaram a imagem de líder do mundo livre. A política indecente e desumana adotada por Trump jogou na sarjeta a bela trajetória do país que ajudou a moldar os mais caros valores da democracia ocidental.

Nada autoriza a afirmação de que a tragédia humanitária bateu ponto final. A calamidade se agrava ano após ano. A onda migratória — que cresce vertiginosamente desde 2014 — constitui desafio para a comunidade internacional. O conjunto das nações tem de encontrar saída justa para tratar a questão tendo por norte o respeito aos direitos humanos. Segundo a ONU, 70% dos refugiados estão em apenas 10 países. Há que compartilhar responsabilidades. Ser solidário é a palavra de ordem. Vale lembrar: países da União Europeia e da América contaram com os estrangeiros para construir a riqueza de que usufruem hoje.

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