Editorial Mundo novo, mas não admirável

Publicado em: 12/04/2018 03:00 Atualizado em: 12/04/2018 08:32

Para que se tenha uma ideia da dimensão que tomaram as redes sociais, vejamos o que nos traz o noticiário de ontem. Pelo Twitter, o presidente da nação mais poderosa do planeta, Donald Trump, ameaçou a Rússia, em relação aos supostos ataques químicos realizados contra cidade da Síria. “A Rússia promete derrubar todos os mísseis disparados contra a Síria”, postou o presidente norte-americano. “Prepare-se, Rússia, porque eles chegarão, lindos, novos e ‘inteligentes’! Não deveriam ser sócios de um animal assassino com gás que mata seu povo e aprecia!”, concluiu, referindo-se ao homem forte da Síria, Bashar Al-Assad.

Sabemos todos do perfil polêmico de Trump, mas isso não elimina o inusitado do fato: um presidente prometendo guerra de mísseis, em recados a dois outros governantes (de Rússia e Síria). O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, reagiu destacando que o governo russo não participa “de tuíte-diplomacia”, declarando que “apoiamos abordagens sérias e continuamos achando que é importante não dar passos que possam desestabilizar ainda mais a frágil situação já existente”.

A expressão “tuíte-diplomacia” é uma boa definição, e rejeitar esta forma de as nações se relacionarem é um alento para os desejosos de soluções conciliatórias em conflitos. Acontece, porém, que o Ministério das Relações Exteriores da Rússia, por meio de sua porta-voz, Maria Zakharova, respondeu a Trump… usando outra rede social, o Facebook. Defendendo o governo sírio, disse que “os mísseis devem atingir os terroristas, e não um governo legítimo que combate o terrorismo internacional em seu território há vários anos”.

Longe desse conflito, mas no meio de outro caso polêmico (o escândalo do uso ilícito de dados pela empresa de inteligência Cambridge Analytica), o Facebook anunciou ontem a liberação de uma nova ferramenta capaz de permitir que os usuários impeçam o acesso de aplicativos de terceiros conectados ao seu perfil na rede social. Com o mesmo mecanismo o autor da conta pode excluir postagens e fotos “que o aplicativo fez em seu nome”. Além disso, possibilita identificar quais serviços estão autorizados a acessar suas informações pessoais.

Pelos casos mencionados dá para ver como estamos vulneráveis às consequências do uso das redes - tanto da parte dos outros como a nossa própria (ameaçada de vazamento de dados privados). A ferramenta criada pelo Facebook não surgiu de uma polêmica entre seguidores, ou por algum fervor repentino do seu criador para proteger os inscritos - surgiu como resposta ao escândalo da Cambridge Analytica, que resultou na coleta irregular de dados de 87 milhões de pessoas. Estamos imersos em um admirável mundo novo, para usar expressão de livro famoso de Aldous Huxley. Um mundo em que somos todos vulneráveis, potenciais alvos - diretos ou indiretos - de quem pode causar danos tanto às pessoas quanto às nações.

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