Migração venezuelana e desenvolvimento de Pernambuco

Alexandre Rands Barros
Economista, PhD pela Universidade de Illinois e presidente do Diario de Pernambuco

Publicado em: 31/03/2018 03:00 Atualizado em: 01/04/2018 11:09

Pernambuco hoje se defronta com oportunidade interessante de promover uma grande ação humanitária, ao mesmo tempo que dá uma grande contribuição para seu desenvolvimento. Para isso tem que se fazer uma política de baixo custo, mas bastante fora dos padrões tradicionais de políticas de desenvolvimento utilizadas nos últimos cinquenta anos. A oportunidade existe por circunstâncias específicas, mas pode gerar um impulso importante para o desenvolvimento do estado. A política sugerida aqui elevaria a disponibilidade de capital humano médio de nossa população e fomentaria novos negócios no estado.

Há uma quantidade imensa de venezuelanos que estão deixando seu país rumo a países vizinhos. As estimativas são de que mais de 4 milhões de cidadãos da Venezuela deixaram ou deverão deixar em breve seu país, buscando melhores condições de vida no exterior. Esse total representa mais de 10% da população do país. Entre os imigrantes há pessoas de todas as origens de formação, inclusive pessoas de nível superior de várias áreas, incluindo médicos, engenheiros, economistas, etc. Todos fogem dos desmandos de um presidente que acha que vale tudo para se manter no poder e desestrutura completamente as estruturas produtivas sociais. É uma situação lamentável pela qual o país, nosso vizinho, está passando.

Imigrações de mão de obra qualificada representam uma fonte importante de propulsão do desenvolvimento econômico em qualquer país. Os imigrantes são sempre selecionados por arrojamento e disposição para o trabalho. Gente frouxa e sem iniciativa não se aventura em processos de migração. Quando são qualificados, então, unem grande capacidade de trabalho com capacidade de inovar e melhorar processos produtivos. Por isso, imigrantes qualificados são desejados por todos os países, inclusive países desenvolvidos como a Austrália e o Canadá. Em livro a ser publicado em breve enfatizo que a maior parte das desigualdades regionais no Brasil surgiram exatamente por causa da maior imigração de mão de obra europeia qualificada para o Sul e o Sudeste. Ou seja, mesmo no Brasil já temos experiência importante de promoção do desenvolvimento a partir de mão de obra qualificada. Em livro de 2016 (Roots of Brazilian Relative Economic Backwardness, New York: Elsevier) mostro que 94% da diferença de PIB per capita entre Brasil e
EUA em 1900 também pode ser explicada pelas imigrações de mão de obra qualificada para os dois países. Ou seja, a atração de venezuelanos qualificados pode consistir em importante política de desenvolvimento para Pernambuco no momento.

Para a realização de tal projeto de imigração o estado deveria definir uma série de projetos que possa utilizar a mão de obra venezuelana qualificada que se encontra saindo do país. Esses projetos seriam reunidos em uma empresa criada pelo governo do estado, mas que seria financiada como uma sociedade anônima, por investidores e com vendas de ações. Essa empresa conduziria essas imigrações, captação de recursos necessários aos investimentos e implementação dos projetos. Para isso, o que é necessário é a elaboração dos projetos. Isso pode ser feito com mobilização da elite pensante do estado, que possui muita gente qualificada e com boas ideias. Não seria difícil desenvolver tal política, com muito pouco investimento público, já que seria conduzida por uma empresa privada que conseguiria captar recursos no exterior e no mercado de capitais. Os resultados de tal política para o desenvolvimento do estado podem facilmente ser superiores, por exemplo, ao impulso dado pela refinaria Abreu e Lima e, certamente, com bem menos recursos públicos. Em momentos de dificuldades temos que pensar fora da caixa para poder fomentar o desenvolvimento do estado. Essa seria uma politica nesse contexto.

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