A Poesia Completa de Alberto da Cunha Melo

Raimundo Carrero
Escritor e jornalista

Publicado em: 12/03/2018 03:00 Atualizado em: 12/03/2018 10:14

“Um artista nunca morre. A obra dele continua. Assim, a obra de Alberto da Cunha Melo continua. E nós continuamos com ele e com ela. Eternamente.”. Escrevi estas palavras em outubro de 2007, quando se anunciou a morte do poeta. Fiquei desolado, é verdade, mas convencido de que ele continuaria entre nós com os seus poemas.

Ano passado, a Editora Record publicou a sua Poesia Completa com cerca de mil páginas, mas somente terça-feira passada chegou entre nós, como se viesse numa Maria Fumaça do século passado, em discreto ou discretíssimo lançamento no Paço Alfândega. Algo profundamente constrangedor, feito em voz baixa, sem a necessária aclamação que merece e reclama esta obra genial.

É certo que Alberto era um poeta quieto e humilde, mas sua poesia vive em voz alta, forte, altaneira que impressiona o leitor, o analista e o ouvinte. A Editora Record, aliás, não tomou os cuidados óbvios para o lançamento nacional para escritor de tão alto porte.

Alberto começou a publicar em 1966 com Círculos Cósmicos, num tempo revolucionário em que a política ocupava as ruas e os discursos inflamados estendiam-se pelos rádios até se transformarem em lutas de fuzis e metralhadoras, sequestros e passeatas e que, pouco a pouco forjaram o seu mundo. Basta verificar esta Poesia Completa.

De minha parte, tenho predileção por Oração pelo Poema, de extrema gravidade mas composta em linguagem coloquial, a criar cumplicidade com o leitor, transcendendo para o belo e para o transcendental até Poemas à Mão Livre, quando o radicalmente político começa a ocupar as suas palavras.

Tal é a sua intensidade poética que a escritora Cláudia Cordeiro passou a chamá-lo de poeta da resistência, em reflexões e análises que publicou regularmente. Alberto é hoje muito estudado nos meios acadêmicos, merecendo atenção especial do professor Alfredo Bosi.

Convido, ainda, os leitores para uma leitura de livros especiais como Yacala e O Cão de Olhos Amarelos que reúnem a maturidade do escritor cujo livro principal foi lançado, justamente, no feriado da nossa Data Magna, a marcar, sobretudo, a festa de nossa maturidade poética.

Uma pena que o livro tenha sido lançado quase em segredo, sem a distribuição óbvia de convites sobretudo a amigos que ainda têm laços de amizade com a família.

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