Filme pernambucano 'Ainda Não É Amanhã' traz debate do aborto à tona
Longa de estreia da pernambucana Milena Times, 'Ainda Não É Amanhã' chega hoje aos cinemas trazendo para as telas a discussão do aborto no Brasil
Publicado: 05/06/2025 às 06:00

Filme 'Ainda Não é Amanhã' (Foto: Divulgação)
Ela tinha um nome, um futuro, sonhos guardados na mochila da escola. Mas uma gravidez indesejada desabou tudo e a empurrou para os riscos do aborto clandestino. No Brasil, histórias como essa se repetem cerca de 500 mil vezes por ano, afetando, sobretudo, mulheres jovens, negras e de baixa renda. É a partir desse retrato que Ainda Não é Amanhã, primeiro longa da cineasta pernambucana Milena Times, narra a trajetória de Janaina, que é mais uma vítima da criminalização do aborto. Nesta quinta-feira (5), às 19h30, será exibida uma sessão especial no Cinema da Fundação (Sala Derby).
O filme acompanha a jovem de 18 anos criada pela mãe (Clau Barros) e pela avó (Cláudia Conceição) em um conjunto habitacional da periferia do Recife. Bolsista em uma faculdade de Direito, Janaína (Mayara Santos) carrega o sonho de ser a primeira pessoa da família a conquistar um diploma universitário.
Quando descobre que está grávida, ela passa a confrontar os seus planos, o legado das mulheres que a criaram e as possibilidades para o seu futuro, mergulhando em um processo doloroso e solitário de tomada de decisão em uma sociedade que não lhe oferece alternativas seguras.
A estudante repete o destino das mulheres de sua família, em que a maternidade não é opção, mas uma imposição. “O filme olha para essa gravidez a partir de outro ponto de vista, que abre espaço para uma escolha diferente. Sem qualquer julgamento sobre as decisões das gerações anteriores, mas, no caso dessa personagem, a maternidade não é seu desejo mais íntimo”, aponta a diretora Milena Times, em conversa com o Viver.
Na preparação para viver Janaína, Mayara Santos se debruçou sobre os desejos e atravessamentos da personagem para entender a raiz de sua decisão de não ser mãe. “Mesmo tendo um posicionamento sobre o direito de escolha, eu, pessoalmente, ainda colocava outros fatores na frente, como a condição financeira, vulnerabilidade social, falta de educação sexual”, afirma Mayara, que também faz a sua estreia em longa-metragens e faturou o prêmio de Melhor Atriz no Festival do Rio. “Só depois percebi que, antes de tudo isso, é simplesmente porque ela não quer. E ela sustenta essa escolha, encara, peita, mesmo em meio a tantas adversidades”, revela. Afinal, escolher também é resistir.

