Silvia Buarque e Guida Vianna vivem mãe e filha em peça no Recife
Com Silvia Buarque e Guida Vianna, peça que explora a complexa relação entre mãe e filha abre temporada hoje na Caixa Cultural Recife
Publicado: 22/05/2025 às 09:39

Silvia Buarque e Guida Vianna (Foto: Nil Caniné/Divulgação)
Na família, o sangue que une também pode ser o veneno que separa. É nesse terreno movediço, de expectativas frustradas, segredos e reconciliação, onde se forja o espetáculo A Menina Escorrendo dos Olhos da Mãe, em cartaz a partir de hoje e que segue até o dia 31, na Caixa Cultural Recife, com as atrizes Silvia Buarque e Guida Vianna. A peça atravessa três gerações de mulheres para dar luz a questões urgentes, como a homofobia, lutas históricas feministas e construção de um novo lugar para a mulher na sociedade contemporânea.
Com texto de Daniela Pereira de Carvalho e direção de Leonardo Netto, o drama familiar é construído em duas camadas temporais. A trama começa com um confronto carregado de tensão, no quarto de um hotel, onde Elisa (Guida Viana), aos 70 anos, é surpreendida pela visita da filha Antonia (Silvia Buarque), de 50, após décadas de distanciamento causado pela rejeição à sua homossexualidade. Quando o relógio avança meio século, os papéis se invertem: Antonia (agora vivida por Guida) vive seu próprio acerto de contas ao conhecer Helena (Silvia), sua filha que foi forçada a abandonar.
Sem recorrer a grandes pirotecnias cênicas, A Menina Escorrendo dos Olhos da Mãe se sustenta na potência das interpretações. Em alta voltagem, a peça não apenas espelha as dores que insistimos em calar, mas as golpeia com a força de um martelo. “Gosto desse tipo de desafio”, explica Silvia, também produtora da montagem, em conversa exclusiva com o Viver. “É sempre instigante quando o texto nos coloca frente a frente com emoções tão complexas”, completa.
As atrizes dividem entre si os fardos de Antônia, como se carregassem as duas metades de um mesmo coração partido. Para Guida, que conhece os desafios da maternidade na vida real, foi um aprendizado valioso após mergulhar em vivências que destoam das suas. “Foi doloroso, sim, mas também transformador. Ser mãe não cabe em certezas absolutas”, reflete ela, que foi indicada oito vezes a prêmios de melhor atuação.
O que acontece no palco não fica apenas nele. Após as sessões, o elenco costuma ouvir relatos emocionados de mães e filhas de todas as idades que se reconhecem nas dores, nos conflitos e nas tentativas de reconciliação que a peça apresenta. “A arte provoca esse milagre de nos fazer sentir menos sozinhos em nossas dores mais íntimas”, afirma Silvia Buarque.
Essa sensibilidade artística parece nascer das suas vivências pernambucanas, mesmo que esporádicas. “Quando eu tinha 15 anos, passei um mês inteiro em Olinda durante o Carnaval. Nem sei como meus pais, Chico e Marieta, deixaram eu viver isso sozinha, ainda tão jovem”, relembra, em meio a risadas. O estado não é apenas cenário de lembranças para Silvia, mas também parte da sua linhagem, sendo bisneta de Cristóvão Buarque de Hollanda, que nasceu em Rio Formoso, na Mata Sul.
Por outro lado, Guida Vianna vem a Pernambuco pela primeira vez a trabalho, depois de algumas visitas como turista. “Estar no Nordeste é como voltar às origens do Brasil, sabe? É mergulhar em um país mais autêntico, mais profundo. Tomara que a peça toque também o coração do público daqui”, afirma. E tocará, porque se a arte exige da atriz o dom de vestir dores alheias, a plateia lhe oferece o reconhecimento imediato de quem vê sua própria história refletida em cena.

