MC Tocha recebeu até R$ 10 mil para fazer show em festas ilegais no Presídio de Igarassu
Segundo a PF, detentos tinham regalias do Presídio de Igarassu, como shows de MC Tocha, bebidas alcoólicas e acesso a celulares
Em depoimento à Polícia Federal (PF), o cantor de brega funk Hemerson da Silva Ferreira, conhecido como MC Tocha, de 32 anos, confirmou que recebeu entre R$ 8 mil e R$ 10 mil para cantar no Presídio de Igarassu, no Grande Recife. O artista também relatou ter visto presos usando celulares e tomando bebidas alcoólicas durante festas ilegais.
Com envolvimento de presos e agentes públicos, o suposto esquema de privilégios no Presídio de Igarassu foi alvo da Operação La Catedral, deflagrada pela PF. O inquérito foi finalizado em 28 de abril e contou com o depoimento de outras sete testemunhas – entre elas, ex-motoristas e mulheres que foram convidadas para as festas.
Em junho, o Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) acatou a denúncia e tornou réus o ex-secretário executivo de Administração Penitenciária e Ressocialização (Seap) André de Araújo Albuquerque, o ex-diretor do presídio Charles Belarmino de Queiroz e mais doze pessoas.
O Diario de Pernambuco teve acesso à íntegra do depoimento. Nele, Tocha confirmou que esteve “uma ou duas vezes” na cadeia com “no intuito de cantar, somente”. Afirmou, ainda, não “recordar quem o contratou para fazer o show no presídio”.
O artista não é investigado pela Operação La Catedral, que saiu de sigilo após o TJPE acolher a denúncia.
Depoimento
O músico relatou que “entrou pela porta da frente, foi revistado e que chegou a ver mais de um policial penal na entrada e saída do presídio”. Tocha disse, também, que não sabe quem liberou sua entrada na penitenciária.
Uma foto incluída no inquérito mostra o artista ao lado do preso Lyferson Barbosa, conhecido como Mago ou Lobo, tomando cerveja. Na investigação, o detento é apontado como líder do esquema de corrupção e tráfico de drogas na unidade.
No depoimento, MC Tocha declarou ter conhecido Lyferson durante suas visitas à prisão para cantar e visitar amigos presos.
Para a PF, a reunião desses depoimentos ajuda a evidenciar que a “realização das festas no presídio era conhecida, tolerada e, em alguns casos, diretamente coordenada por membros da administração da unidade".
Em nota, o advogado Thúlio Mendes de Souza, que representa MC Tocha, afirmou que o músico foi "ouvido exclusivamente na condição de testemunha em um inquérito referente a fatos ocorridos nos anos de 2021 e 2022. Ele não foi indiciado, denunciado ou investigado, tampouco é réu no processo em questão".
"À época dos acontecimentos, MC Tocha foi contratado apenas como artista e sua participação se restringiu à realização de apresentações musicais. Ele não possui qualquer envolvimento com atividades ilícitas, com a operação em curso ou com os demais citados no processo", disse no texto. "Sua oitiva teve como objetivo colaborar com as autoridades para o esclarecimento dos fatos. Reforçamos que o artista segue exercendo sua carreira com total transparência e responsabilidade".