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As engrenagens por trás das quadrilhas

Quadrilha Raio de Sol, com sede no do Hipódromo, conta com 220 pessoas na equipe, entre dançarinos, produção, equipe técnica e de apoio

Por Diario de Pernambuco

Quadrilha Raio de Sol na expectativa de iniciar apresentação

Por trás do colorido dos figurinos, da sincronia dos passos e da emoção das apresentações no ciclo junino, existe um universo de trabalho coletivo, dedicação e amor pela cultura popular. A Quadrilha Raio de Sol, uma das mais tradicionais e premiadas de Pernambuco, hoje com sede no bairro do Hipódromo, no Recife, movimenta cerca de 220 pessoas entre dançarinos, equipe técnica, direção artística, produção e apoio logístico.

Uma estrutura que nasce da família e se expande para o mundo. A Raio de Sol tem raízes em Águas Compridas, Olinda, mas há anos deixou de ser apenas uma quadrilha de bairro para se tornar um grande coletivo multicultural. Segundo João Pedro, diretor e também noivo da quadrilha, a estrutura é familiar desde a base. “Aqui, quando dizemos que somos uma família, não é força de expressão. A direção, por exemplo, é formada por mãe, filha, genros, amigos próximos. Tudo é resolvido num ambiente de muita cumplicidade”, conta.

Este ano, a quadrilha trouxe um número recorde de participantes: são 122 dançarinos adultos, 39 crianças na quadrilha mirim, 32 pessoas na produção e apoio de bastidores e cinco na direção. O número elevado exigiu até mudança no tradicional formato das fileiras, que agora contam com cinco casais em vez de quatro. “Tem gente da produção que se desdobra pra montar e desmontar cenário em tempo recorde. Cada apresentação é uma logística de guerra. Tudo isso com muita paixão”, afirma João Pedro.

Embora a origem seja olindense, hoje os integrantes da Raio de Sol vêm de diferentes municípios da Região Metropolitana do Recife e até de cidades mais distantes, como Itamaracá, Ipojuca, Cabo de Santo Agostinho e até Tamandaré. “A gente deixou de ser uma quadrilha de um bairro só. Temos integrantes de toda parte. Isso só mostra a força e o alcance do nosso trabalho”, destaca João.

Amor e dedicação

Se engana quem pensa que existe remuneração para os brincantes. “Muito pelo contrário”, reforça João. “Cada componente paga pelo próprio figurino, pelo transporte, pela alimentação. Os custos são altos. Quem dança quadrilha, investe na quadrilha.” Há, em casos pontuais, apoio de parceiros e a possibilidade de captação de recursos via editais culturais, mas ainda assim são raros.

Os profissionais contratados, como figurinistas, costureiras, maquiadores e cenógrafos, recebem por seus serviços, mas a maioria dos envolvidos faz tudo por amor. “Quem trabalha nos bastidores recebe pelo serviço prestado. Já quem dança, investe e muito”, diz o diretor.

A quadrilha também é espaço de formação e transformação de vidas. Um exemplo é João Marcos, estudante de dança da UFPE, que usa sua vivência junina para quebrar paradigmas dentro da academia. “A quadrilha me impulsionou a buscar formação na dança. Levo o corpo popular para dentro da universidade, que ainda é muito eurocêntrica”, comenta.

Patrícia Fernandes, bailarina, passista de frevo e ex-rainha do Carnaval do Recife, destaca a inclusão promovida pela quadrilha. Ela dança com um parceiro cadeirante, numa iniciativa inédita na Raio de Sol. “É uma quebra de barreiras, a primeira quadrilha do estado a incluir um dançarino cadeirante de forma oficial. Um marco para a acessibilidade na cultura popular.”

Nos bastidores da beleza, Fia Cachinhos, maquiadora oficial da Raio de Sol e atualmente com 37 semanas de gravidez, segue firme no ciclo junino. “É muita emoção. Não posso dançar este ano, mas sigo contribuindo com a maquiagem artística, que é uma marca da nossa quadrilha”, relata. Fia elaborou um plano de maquiagem sofisticado para a temporada, misturando arte, identidade cultural e muito brilho.

O ciclo junino é mais que festa para quem vive a quadrilha por dentro. É resistência, tradição e orgulho. São meses de ensaio, custos pessoais e dedicação. Mas, na hora da apresentação, tudo se transforma em emoção. E, para quem vê, fica a impressão de que tudo ali é só alegria e festa.