Ato no Recife marca 5 anos da morte do menino Miguel, que caiu de prédio
Mirtes Renata, mãe do menino Miguel, disse que o ato também cobra agilidade da Justiça para resolver o caso
Publicado: 02/06/2025 às 19:55

Caso aconteceu em 2 de junho de 2020 (Foto: Marina Torres/DP Foto)
Exatos cinco anos após o trágico fim da vida de Miguel Otávio, que morreu ao cair de uma das Torres Gêmeas do Recife, no bairro de São José, um ato popular em pedido de justiça marcou o dia de ontem (2). A manifestação foi liderada pela mãe do pequeno, Mirtes Renata Santana de Souza, em frente ao local onde perdeu o filho, em 2 de junho de 2020. Por volta das 15h, em frente aos famosos edifícios no centro do Recife, ela iniciou a mobilização.
“É um dia muito triste porque (estou) há 5 anos sem meu filho. Hoje eu estou aqui no local em que ocorreu o crime, o local onde a criminosa mora, para marcar essa data. Os cinco anos sem Miguel, os cinco anos da partida dele e cinco anos sem justiça. A mulher que cometeu um crime contra meu filho está aí em cima vivendo a vida dela como se ela tivesse acontecido”, comentou Mirtes, se referindo a Sari Corte Real, condenada pelo Tribunal de Justiça de Pernambuco pela morte de Miguel.
“Hoje a gente tá aqui não só para marcar os 5 anos da passagem de Miguel, mas também cobrar do Tribunal celeridade com relação ao caso dele. Mais de 1 ano da sentença que acabou reduzindo a pena dela. Por conta de diversas intercorrências o processo passou um bom tempo parado, sem andamento nenhum”, disse. Mirtes cobrou a prisão de Sarí, que foi condenada, em 2022, a oito anos e seis meses de prisão, por ter deixado Miguel sozinho no elevador. Em novembro de 2023, a pena foi reduzida para sete anos, após ela ter recorrido da decisão. Ela continua em liberdade, após recorrer novamente na Justiça.
“Estou aqui para fazer essa cobrança junto com movimentos, organizações que estão aqui junto comigo e a gente vai até o final, até que a (Sarí) Corte Real seja presa, porque não basta condenação. Tem que haver a prisão dela também. Porque para ela toda essa morosidade do judiciário está muito confortável”, declarou. Para Mirtes, a demora dos processos do caso está diretamente ligada ao fato de Miguel era uma criança negra e sem grandes condições monetárias, além do enfrentamento de uma família influente no Estado.
Com o luto pela perda do filho atravessado pela necessidade de buscar por justiça, Mirtes explicou a dificuldade que é continuar atrás das respostas, e disse que só conseguirá processar a perda quando tudo acabar. “Hoje, eu digo que eu tenho um uma casquinha bem fininha no meu peito, com relação a partida do meu filho. E toda vez que é uma movimentação, o pessoal mete o dedo na minha ferida. E eu preciso que isso se acabe, eu preciso que seja feita a justiça pela morte do meu filho, para eu poder viver o luto, porque eu não vivi o luto”, falou emocionada.
Mirtes explicou que também pretende lutar pelo aumento da pena. "A gente vem pedindo para que seja aumentada a pena para 12 anos. É o que a gente colocou nos nossos embargos de declaração”, disse. A manifestação seguiu para a frente do prédio do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE), onde foi encerrada o início da noite.
Já a advogada de Mirtes, Marília Falcão, falou sobre a etapa na qual o processo se encontra. “Juntamos uma petição enviada ao Ministério Público. Esperamos que a resposta seja no sentido da justa responsabilização criminal. Afinal são cinco anos de espera”, explicou. O Ministério Público de Pernambuco tem até 10 de junho para avaliar os recursos e comunicar oficialmente se concorda ou não com a sentença proferida pelo TJPE contra Sarí.
O que diz o TJPE
Procurado pelo Diario de Pernambuco, o Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) respondeu sobre o andamento do caso. Confira a nota na íntegra:
“A apelação Criminal 0004416-62.2020.8.17.0001, na qual figuram como apelantes a ré Sari Mariana Costa Gaspar Côrte Real e a assistente de acusação Mirtes Renata Santana de Souza, genitora da vítima, tramita na 3ª Câmara Criminal do TJPE.
Em 19 de maio de 2025, a defesa de Sari Mariana Costa Gaspar Côrte Real interpôs embargos de declaração contra o último acórdão da Terceira Câmara Criminal que julgou as apelações. Atualmente, o processo encontra-se na Diretoria Criminal para cumprimento de determinações do relator dos recursos de apelação, Des. Cláudio Jean Nogueira Virgínio, proferidas no dia 12 de maio de 2025.
Após efetivadas as diligências necessárias pela Diretoria Criminal, o processo seguirá para o Gabinete do Des. Eudes dos Prazeres França, enquanto relator dos recursos de embargos de declaração interpostos pela ré e pela assistente de acusação”, informou.
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O que diz a defesa de Sarí
O Diario também procurou a defesa de Sarí Corte Real. À equipe de reportagem, um dos advogados chamou o caso de “tragédia e injustiça da acusação”. “Hoje completa cinco anos de uma grande tragédia envolvendo o Miguel, e por outro lado também de uma injustiça da acusação que se faz à Sari. Hoje esperamos o julgamento, confiantes de que no final a gente demonstra a improcedência da acusação”.
De acordo com a defesa, a imprevisibilidade do fato da morte do Miguel é determinante para que Sarí não seja culpada.
“Tecnicamente, qualquer pessoa só pode ser responsabilizada por um delito quando existe previsibilidade de resultado. E dentro das condições dessa tragédia, por todas as pessoas que foram vistas no processo, não existe não existia nenhum tipo de previsibilidade daquele resultado. Então ela está sendo responsabilizada pelo resultado”, explicou.
Relembre
Miguel Otávio Santana da Silva morreu em 2 de junho de 2020, durante o lockdown da pandemia de COVID19, após cair do nono andar de um dos prédios das famosas Torres Gêmeas do Recife, no bairro de São José. A mãe dele, Mirtes Renata, trabalhava à época para a família de Sarí Côrte Real e Sérgio Hacker.
Momentos antes da morte de Miguel, Mirtes desceu do edifício para passear com o cachorro da patroa. Miguel ficou sob os cuidados de Sarí, que fazia as unhas em seu apartamento. O garoto pediu pela mãe, e Sarí o deixou no elevador da unidade e apertou o botão da cobertura.
Miguel desembarcou um tempo depois no nono andar, de onde caiu de uma altura de 35 metros. Ele não resistiu aos ferimentos e faleceu. Desde então, sua mãe continua buscando por justiça.

