PM que matou ex-companheiro em Petrolina se torna ré por homicídio qualificado
Justiça acolheu denúncia do MPPE, que aponta motivo torpe e emboscada no assassinato do policial Lucas Emanoel Marinho

A policial militar Marleide da Silva Pereira, de 35 anos, virou ré pelo assassinato do ex-companheiro e também PM Lucas Emanoel Marinho, de 33 anos. Ele foi morto a tiros na manhã de 9 de março de 2025, no bairro Portal da Cidade, em Petrolina.
A denúncia, oferecida pelo Ministério Público de Pernambuco (MPPE), foi aceita pela Vara do Tribunal do Júri e a acusada responderá por homicídio duplamente qualificado: motivo torpe e recurso que dificultou a defesa da vítima.
Segundo o Ministério Público, o crime foi planejado e executado por Marleide através “de emboscada e com recurso que dificultou ou tornou impossível a defesa da vítima”. O promotor Júlio César Soares Lira, autor da denúncia, sustenta que Marleide atraiu o ex-companheiro para a casa onde morava sob a justificativa de que os filhos precisavam de companhia quando ela fosse trabalhar.
“Já na manhã do dia fatídico, a autora ao perceber - pelas câmeras de segurança - que a vítima chegou, saiu da casa com a arma em punhos e iniciou os disparos com arma de fogo”, diz a denúncia.
De acordo com os autos, Marleide teria enviado uma mensagem à vítima um dia antes do crime, pedindo que ele fosse à sua casa cuidar dos filhos sob o pretexto de que ela estaria no trabalho. Quando Lucas chegou à residência, por volta das 6h, foi surpreendido por Marleide, que saiu da casa com uma arma de fogo e iniciou os disparos.
“Ato contínuo, aproximou-se do veículo e continuou os disparos, atingindo a vítima, pelo menos 15 (quinze) vezes na região dorsal esquerda, nádegas, braço direito e região peitoral direita”, narra a peça do MPPE, com base no laudo tanatoscópico.
De acordo com os autos, a vítima, que também era policial militar, estava com sua arma de fogo na cintura, mas não chegou a reagir. O exame pericial revelou que o revólver estava com todas as munições intactas e sem cartucho na câmara, o que indica que ele foi surpreendido pelos disparos logo ao estacionar o carro.
Após executar os tiros, a acusada acionou o sobrinho, Jhonatan Gabriel, para conduzi-la até a Companhia da Polícia Militar em Juazeiro, na Bahia, onde se apresentou voluntariamente. Em seguida, compareceu à Delegacia, acompanhada de advogado.
Ainda segundo o inquérito, Marleide e Lucas foram casados e tinham dois filhos menores. O casal estava separado há cerca de um ano e enfrentava conflitos relacionados à venda do imóvel onde Lucas morava, além de desentendimentos provocados pelo novo relacionamento amoroso mantido por ele
Decisão da Justiça
A juíza Elane Brandão Ribeiro, da Vara do Tribunal do Júri de Petrolina, ao receber a denúncia, destacou que a peça acusatória cumpre todos os requisitos do artigo 41 do Código de Processo Penal, incluindo descrição clara dos fatos, identificação da autora e classificação jurídica precisa.
“Assim, estando comprovada a materialidade e sendo suficientes os indícios de autoria, havendo a existência, em tese, de crime capitulado no Código Penal e/ou na legislação extravagante, e presente justa causa para instauração da ação penal, recebo a denúncia”, decidiu a magistrada.
A decisão ainda determina a citação de Marleide para apresentar resposta à acusação em até dez dias. Caso não o faça, será nomeado defensor público para representá-la. O processo segue como Ação Penal de Competência do Júri, e Marleide poderá ser levada a julgamento popular.