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INQUÉRITO

"Foco era lucro", diz polícia sobre morte após 'harmonização" no bumbum

Dados sobre conclusão de inquérito do caso de Adriana Barros Lima Laurentino, de 46 anos, foram divulgados nesta quarta (28). Médico já foi denunciado à Justiça

Diario de Pernambuco

Publicado: 28/05/2025 às 14:11

ADRIANA BARROS 
/REPRODUÇÃO/REDE SOCIAL

ADRIANA BARROS (REPRODUÇÃO/REDE SOCIAL)

A Polícia Civil detalhou, nesta quarta (28), as informações sobre a conclusão do inquérito do caso da mulher que morreu após se submeter a uma ''harmonização'' no bumbum, em uma clínica em Boa Viagem, na Zona Sul do Recife.

Para a corporação, o médico Marcelo Alves Vasconcelos "focou no lucro e não no bem-estar da paciente", ao executar o procedimento em Adriana Barros Lima Laurentino, de 46 anos, no início deste ano.

O profissional de saúde foi indiciado pela polícia, por homicídio e exercício ilegal da medicina, e denunciado pelo Ministério Público de Pernambuco (MPPE).

Procedimento

O procedimento foi feito com polimetilmetacrilato. É uma substância conhecida como PMMA, que não é recomendado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para uso em fins estéticos.

Adriana Barros foi encontrada morta no banheiro de casa. A polícia mostrou no inquérito que ela se queixou de dores intensas, logo depois de ser liberada pela clínica Bodyplastia, onde se submeteu a essa intervenção.

Segundo a polícia, o procedimento estético é chamado de bioplastia de glúteos.

Histórico

No dia 26 de dezembro do ano passado, Adriana decidiu que iria até a clínica de Marcelo. Ela soube desse serviço por meio de redes sociais. A clínica oferecia "harmonização corporal".
Ela agendou uma consulta para o dia 10 de janeiro deste ano e pagou, antecipadamente, R$ 500.

"Na consulta, o médico avaliaria pessoalmente o corpo da paciente e indicaria a quantidade de mililitros necessária para obtenção do resultado pretendido", disse a polícia.

Para aplicar cada mililitro do produto, o médico cobrou R$ 60. O mínimo a ser aplicado era 180ml. Assim, o procedimento custaria a partir R$ 10.800.

Ainda segundo a polícia, Adriana se queixou do valor. Um funcionário da clínica informou "que seria necessário aplicar 90ml em cada parte das nádegas".

Tragédia

Ainda no dia 10 de janeiro, a vítima saiu de casa por volta das 9h, sem que a família soubesse, e foi até a clínica. Após passar o dia se submetendo ao procedimento, voltou para casa por volta das 16h.

No dia seguinte, foi encontrada pelo filho, desacordada, no banheiro de sua residência e apresentando sangramento no nariz, além de estar com as pernas e o rosto escuro.

"O Samu foi acionado, porém, o óbito foi constatado no próprio local", acrescentou a polícia.

Conclusões do inquérito

A polícia disse que o médico "tinha pleno conhecimento dos riscos associados ao uso de PMMA, mas mesmo assim realizou o procedimento, assumindo o risco do resultado fatal".
Além disso, a paciente foi atendida pela primeira e única vez no dia do procedimento, ocasião em que pagou R$ 21 mil. Não houve qualquer exame pré-operatório adequado.

"O foco era o lucro, não o bem-estar da paciente. Há indícios de incentivo ao uso de grandes volumes do produto (mínimo de 180 ml), independentemente da real necessidade clínica", acrescentou a polícia.

O inquérito apontou também que Marcelo não tinha registro no Conselho Regional de Medicina de Pernambuco (CREMEPE), o que caracteriza o "exercício ilegal da medicina no estado."

Ainda segundo o documento, as consultas eram feitas de forma superficial e intermediadas por atendentes. O próprio médico comparecia ao local apenas uma vez por mês.

A polícia constatou, ainda, que o médico "tem envolvimento em um esquema de fraudes em vestibulares de medicina nos estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro, com cobrança de até R$ 140 mil por vaga, conforme processo no TJMG".

"A conduta do autor evidencia indiferença à vida e à ética médica, configurando dolo eventual na morte da paciente", acrescentou.

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