° / °

Vida Urbana
LIDERANÇA

Professor de Harvard compartilha ações de psicologia positiva no Recife

"Os líderes mais eficazes não tentam ser heróis — eles criam ambientes onde os outros podem prosperar", ensina Michael McCarthy

Diario de Pernambuco

Publicado: 28/05/2025 às 07:38

PROFESSOR DE HARVARD MICHAEL MAcCARTHY/Divulgação

PROFESSOR DE HARVARD MICHAEL MAcCARTHY (Divulgação)

O professor Michael McCarthy, da Universidade de Harvard, trouxe sua expertise em psicologia positiva para o Recife, onde conduziu um treinamento para os colaboradores do Grupo Luiz Alberto Carneiro (LAC) e do escritório TCA Advogados, realizado na Associação Comercial de Pernambuco.

Durante o encontro, McCarthy abordou como os princípios da psicologia positiva podem ser aplicados na gestão de equipes e liderança, enfatizando a importância de focar nas forças individuais e nas conexões interpessoais para criar um ambiente de trabalho mais colaborativo e engajado.

Com uma abordagem que valoriza a transparência e a comunicação estratégica, o professor destacou como líderes podem cultivar a confiança e a motivação intrínseca entre suas equipes. A palestra forneceu ferramentas práticas para enfrentar desafios e promover uma cultura organizacional positiva.

Na sua passagem pelo Recife, o professor norte-americano concedeu entrevista exclusiva ao Diario. Confira os principais pontos abordados.

Como a psicologia positiva pode ser aplicada na gestão de equipes e liderança nas empresas?

A psicologia positiva melhora a gestão de equipes ao focar nas forças, conexões de alta qualidade e motivação intrínseca. Líderes que aplicam esses princípios promovem confiança, engajamento e segurança psicológica. Por exemplo, usar feedback baseado em pontos fortes — destacando o que as pessoas fazem bem em vez de apenas o que precisa ser corrigido — aumenta a confiança e o desempenho. Equipes lideradas dessa forma tendem a ser mais resilientes e colaborativas, especialmente durante períodos de mudança.

Em sua experiência, quais são os principais desafios enfrentados pelas empresas ao tentar implementar uma cultura positiva? Como os líderes podem superar esses obstáculos?

Um dos grandes desafios é que muitos líderes confundem positividade com alegria superficial ou evasão de verdades difíceis. Cultura positiva não significa ignorar os problemas — significa enfrentá-los com otimismo, transparência e uma mentalidade de crescimento. Líderes precisam demonstrar vulnerabilidade e curiosidade. Outro desafio é a falta de consistência. Cultura positiva não se constrói em um workshop de um dia; exige compromisso contínuo com valores, reconhecimento e propósito no trabalho. E, por fim, a criação de cultura precisa ser endossada pelos níveis mais altos da gestão para abranger toda a organização.

Quais são as características fundamentais de um líder eficaz que utiliza os princípios da psicologia positiva? Poderia compartilhar exemplos práticos de como isso se manifesta no dia a dia de uma organização?

Líderes eficazes nesse campo praticam inteligência emocional, gratidão e senso de protagonismo — a sensação de que podem alcançar metas. Eles atuam como mentores, e não como controladores. Por exemplo, realizam “encontros de gratidão” no início da semana, em que os membros da equipe agradecem uns aos outros por algo pelo qual são genuinamente gratos. Também dão autonomia, permitindo que as pessoas definam como alcançar seus objetivos. Um líder que assessorei reformulou as avaliações de desempenho para incluir o “índice de utilidade” — perguntando a cada colega o quanto aquele profissional foi útil para eles.

Como a comunicação estratégica contribui para a construção de alto desempenho nas equipes? Que práticas comunicacionais o senhor recomenda para líderes que desejam fomentar um ambiente colaborativo?

A comunicação estratégica trata de clareza e conexão. Ela constrói confiança quando os líderes são transparentes, consistentes e praticam escuta ativa. Equipes de alto desempenho frequentemente adotam rituais de diálogo aberto: conexões de alta qualidade, nas quais os membros fazem perguntas profundas e reflexivas sobre o trabalho, aprendendo assim os valores uns dos outros. Também aplicam o exercício das “3 coisas boas”, começando reuniões com cada pessoa compartilhando três coisas boas em sua vida — isso eleva o humor e, por consequência, estimula a criatividade e a inovação. Recomendo ainda as conversas sobre “intenção versus impacto” — criando espaço para esclarecer mal-entendidos sem atribuição de culpa. Líderes que usam narrativas e visão de futuro também geram alinhamento e inspiração.

O senhor poderia nos contar um caso de sucesso em que a aplicação da psicologia positiva resultou em melhorias significativas nos resultados de uma empresa? Quais lições podemos extrair dessa experiência?

Em um cliente da Fortune 500, introduzimos um programa de liderança baseado em forças e rituais de reconhecimento entre pares durante as reuniões de equipe. Em seis meses, os índices de engajamento aumentaram 23%, e a rotatividade voluntária caiu quase 30%. A principal lição? Quando as pessoas se sentem vistas, valorizadas e empoderadas, elas investem mais de sua energia discricionária. Desempenho, retenção e inovação são consequências desse investimento emocional.

Que conselho o senhor daria a líderes que estão iniciando sua jornada rumo a uma gestão mais positiva? O que eles devem priorizar para garantir um impacto duradouro nos negócios?

Comece pequeno e lidere pelo exemplo. Não é preciso transformar toda a cultura da noite para o dia — basta começar fazendo perguntas melhores, como: “O que te deu mais energia esta semana?” ou “De que apoio você precisa para dar o seu melhor?”. Priorize comportamentos consistentes, baseados em valores, e reconhecimentos autênticos. Os líderes mais eficazes não tentam ser heróis — eles criam ambientes onde os outros podem prosperar.

Mais de Vida Urbana