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FERNANDO DE NORONHA

"Luto pela perna e gratidão pela vida", diz advogado do jovem baleado em Noronha

O Diario conversou com Anderson Flexa, advogado de Emmanuel Apory, de 26 anos, que sofreu amputação de parte da perna direita após ser baleado no último dia 5 de maio pelo delegado Luiz Alberto Braga, durante uma discussão em uma festa em Fernando de Noronha

Nicolle Gomes

Publicado: 20/05/2025 às 11:36

Momentos antes do delegado Luiz Braga atirar em Emmanuel /Foto: Reprodução/Redes Sociais

Momentos antes do delegado Luiz Braga atirar em Emmanuel (Foto: Reprodução/Redes Sociais)

Quatro dias após sofrer amputação de parte da perna direita, o jovem Emmanuel Apory, de 26 anos, ainda tenta processar tudo o que aconteceu. A vida do rapaz mudou completamente após o último dia 5 de maio, quando foi baleado pelo delegado Luiz Alberto Braga durante uma discussão em uma festa em Fernando de Noronha.

Internado desde então no Hospital da Restauração, no Derby, na região central do Recife, Emmanuel passou por cirurgia para amputar a perna direita acima do joelho, no último sábado (17). O Diario conversou com Anderson Flexa, advogado do rapaz, para entender como ele está.

Segundo Flexa, Emmanuel passa por um momento emocional delicado. “Aquela mistura de sentimento de agressividade, de rejeição, chateação. Ele não é um menino de brigar, de gritar, ele tá impaciente. Existe um abalo emocional de natureza grave na vida dele”, disse.

“Ele está vivendo um certo de luto pela perda e uma gratidão pela vida. Vez ou outra, ele agradece a Deus, e no mesmo instante ele fica chateado, e quer justiça. Ele se pergunta ‘por que?’, ele está num ferimento sentimental muito grande, num período muito ruim. É muito complicado”, continuou.

Anderson disse à equipe de reportagem do Diario que Emmanuel reitera que é inocente.

“Ele diz: ‘Flexa, eu tô falando a verdade, Flexa, tu pode procurar, pode perguntar, eu não fiz, eu não fiz, e aí você traz as imagens, mostra para ele que tá vendo que eu não fui, cara. Eu não falei para você que não fui eu’. Ele está nessa situação de querer mostrar. Tudo que se fala contra ele é mentira, e querer mostrar que ele de fato não é essa pessoa”, comentou.

No último sábado (16), Emmanuel publicou, nas redes sociais, um vídeo se pronunciando sobre a amputação da perna. Confira na íntegra:

“Hoje preparei algumas palavras do meu coração para falar para vocês. Venho aqui me pronunciar porque me sinto no dever de falar com vocês que estão na torcida por mim, fazendo orações por mim. Primeiramente quero agradecer pelo apoio do pessoal da ilha que foi prestar por justiça por mim. Eu torço muito para que essa união e que realmente tudo que estamos passando seja para uma melhoria”, disse inicialmente.

“Peço a vocês que continuem brigando por nós moradores da ilha por uma saúde melhor, um hospital melhor, um atendimento se houver o melhor, mais rápido porque eu posso dizer que se eu tivesse chegado ao continente mais cedo talvez a história teria sido diferente e não fosse preciso eu amputar. E eu não sou o caso isolado, quantos já sofreram, perderam até a vida por causa da demora do salva-aéreo ou da falta de estrutura do nosso hospital”, continuou.

“Vai ser necessário amputação para preservar a minha vida. Então conseguiram o que queriam, se não matam, alegam. E talvez meu erro foi querer ajudar e ter empatia por alguém que não merece. Não dei em cima de ninguém, respeitei a todo momento e por mais que demore, a verdade tarda, mas não falha”, explicou.

“O que quero no momento é chegar em casa e estar bem, porque no momento me encontro em cima de uma cama, prestes a fazer uma cirurgia de amputação. Precisando de ajuda para tudo. Para comer, para tomar um banho, para me limpar, para me cobrir, para me deitar, para poder dormir e se não é minha mãe segurando toda essa bronca, toda essa barra do meu lado, eu não sei o que seria de mim. Graças a Deus, eu tenho minha mãe na minha vida”, acrescentou.

“A pessoa que tentou ceifar minha vida está tranquila em algum lugar, como se fosse só mais um caso e isso não podemos deixar ser só mais um caso para estatística, eu sei que tentaram me matar. Desejo nenhum mal, apenas quero que a justiça seja feita e tenho certeza que a justiça pode tardar, mas a justiça de Deus não falha”, finalizou.

Relembre o caso

O delegado Luiz Alberto Braga tentou intimidar Emmanuel em um dos espaços da festa, que aconteceria no Forte dos Remédios, em Noronha. A motivação do desentendimento foram ciúmes por parte do delegado, que acusou Emmanuel de assédio contra a nutricionista Thamires Cavalcanti, namorada de Braga.

O ambulante reagiu, e então Braga pegou a sua arma, uma pistola 0.9 milímetros e disparou contra Apory. Em imagens que circularam nas redes sociais, é possível ver o momento em que tudo aconteceu. De imediato, Emmanuel já não conseguia mais se apoiar na perna direita, amputada até a região da coxa, 15 dias após o ocorrido.

O delegado Luiz Alberto Braga estava em Fernando de Noronha está afastado pela Secretaria de Defesa Social (SDS-PE), por 120 dias, o órgão também determinou o recolhimento das armas e a identificação funcional do policial, que responde a um inquérito do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).

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