ESTADOS UNIDOS

Diretor-Geral de Saúde dos EUA afirma que violência armada é emergência de saúde pública

O mais alto responsável médico dos EUA divulgou um parecer após o país enfrentar mais um fim de semana marcado por tiroteios em massa

Publicado em: 25/06/2024 17:33

Diretor-Geral de Saúde dos Estados Unidos, Vivek Murthy (foto: Mandel Ngan/AFP)
Diretor-Geral de Saúde dos Estados Unidos, Vivek Murthy (foto: Mandel Ngan/AFP)

Nesta terça-feira, o Diretor-Geral de Saúde dos Estados Unidos, Vivek Murthy, anunciou que a violência armada é uma crise de saúde pública no país, devido ao acelerado aumento do número de mortos e feridos com armas de fogo. O mais alto responsável médico dos EUA divulgou um parecer após o país enfrentar mais um fim de semana marcado por tiroteios em massa que  causaram dezenas de mortos e feridos.

 

"As pessoas querem poder andar pelos seus bairros e estar seguras. A América deveria ser um lugar onde todos pudessem ir para a escola, para o trabalho, ao supermercado, ao nosso lugar de culto, sem termos de nos preocupar com que tal possa pôr a nossa vida em risco. Está na hora de retirarmos esta questão do controle de armas de fogo do domínio da política e colocá-la no domínio da saúde pública, como fizemos com o tabagismo há mais de meio século", defendeu Murthy.

 

Murthy apelou às autoridades do país para que proíbam as espingardas automáticas, imponha de forma geral o controle de antecedentes na compra de armas, regulamentem a indústria, aprovem leis que restrinjam o seu uso em espaços públicos e penalizem as pessoas que não guardem as suas armas em segurança.

 

No entanto, essas propostas para serem aplicadas precisam da aprovação do Congresso, que atualmente tem maioria conservadora e costuma desaprovar qualquer medida de controle de armas. Os congressistas Republicanos, a maioria dos quais já se opôs há anos atrás, por duas vezes, a sua confirmação no cargo, por causa das suas declarações e posições sobre a violência armada. Mas, alguns parlamentos estaduais adotaram ou poderão considerar algumas das propostas do Diretor-Geral de Saúde.

 

De acordo com Murthy, há no país um amplo consenso de que a violência armada é um problema, baseado em uma sondagem feita em 2023 que revelou que a maioria dos norte-americanos se preocupa, pelo menos algumas vezes na vida, com a possibilidade de um familiar ser ferido por uma arma de fogo. A Academia Norte-Americana de Médicos de Família também considera há mais de uma década a violência armada uma epidemia de saúde pública. "Os médicos de família há muito entenderam, e viram em primeira mão, o impacto devastador que a violência com armas de fogo tem nos nossos doentes e nas comunidades que servimos", declarou Steven Furr, presidente do grupo.

 

Além de nova regulamentação, Murthy apelou por um aumento da investigação sobre a violência armada e para que o sistema de saúde nacional promova e eduque os doentes sobre a segurança das armas além do seu armazenamento adequado durante as consultas regulares. Somente em 2022, mais de 48 mil norte-americanos morreram de ferimentos causados por armas de fogo.

 

Entretanto, o pedido do Diretor-Geral de Saúde dos EUA deve esbarrar também no forte lobby das armas. A National Rifle Association (NRA, Associação Nacional de Espingardas) já criticou a sugestão de Murthy. "Isto é uma extensão da guerra do governo Biden contra os proprietários de armas cumpridores da lei", acusou Randy Kozuch, presidente da organização. 

 

Em 2017, o então presidente, Donald Trump, demitiu Murthy, mas Joe Biden nomeou-o novamente para o cargo, em 2021.

 

Mas, Murthy considera que o seu parecer intitulado "Violência com armas de fogo: Uma Crise de Saúde Pública na América", mude as perspectivas sobre esta questão. Ele tem sido encorajado por alguns desenvolvimentos no Congresso, incluindo a aprovação da Lei Bipartidária das Comunidades Mais Seguras em 2022, que melhorou as verificações de antecedentes relacionados com armas de fogo.

 

Um relatório também da Casa Branca revela que verificações de antecedentes mais completas impediram cerca de 800 vendas de armas de fogo a menores de 21 anos. Além de mais de 500 pessoas, entre as quais algumas ligadas a cartéis transnacionais e redes de crime organizado, foram acusadas de tráfico de armas e outros crimes ao abrigo da histórica legislação sobre segurança de armas. As taxas de suicídio com armas de fogo aumentaram em quase 70% para as pessoas com entre 10 e 14 anos de idade. Mesmo quando as crianças não são vítimas diretas de um tiroteio, podem sofrer as consequências da violência armada na sua saúde mental, de acordo com o relatório.

 

“As crianças e os jovens norte-americanos, em particular, estão sofrendo com a violência armada. Cerca de metade dos adolescentes nos Estados Unidos preocupam-se com a hipótese de um tiroteio na escola. E em zonas que foram alvo de um tiroteio fatal numa escola, o uso de antidepressivos por jovens aumentou em mais de 20%.” apontou Murthy em seu parecer.  


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