Paixão de Cristo do Marco Zero chega à 26ª edição

Semana Santa no Marco Zero começa hoje (Divulgação)

A Semana Santa no Marco Zero, como manda a tradição, será a partir de hoje momento de recontar a história eternizada ao longo de séculos e com a qual particularmente o público pernambucano guarda uma conexão intensa. ‘A Paixão de Cristo do Recife: Jesus, a Luz do Mundo’ chega agora em sua 26ª edição e toma conta de hoje, amanhã e do Domingo de Páscoa, sempre a partir das 18 horas. Contando desde 2019 com a direção e roteiro de Carlos Carvalho e retomando a cada ano, a montagem é realizada pela Associação dos Produtores de Artes Cênicas de Pernambuco, traz ao palco 50 atores no elenco e 80 figurantes.

Pelo terceiro ano consecutivo, Asaías Rodrigues (Zaza) interpreta Jesus e, pela segunda vez, Brenda Lígia interpreta Maria. A novidade desse ano é a entrada da atriz e multiartista Clau Barros no papel de Madalena, depois de ano participando da Paixão de Cristo do Recife em diferentes papéis.

Ao Viver, Zaza descreveu sua participação na montagem como parte de uma tarefa maior. “Esse trabalho para mim vai muito além de uma oportunidade profissional, é uma questão de missão mesmo, de servir a um sentimento tão brilhante como esse da Páscoa. Jesus, no meu entender, era selvagem: o amor, a justiça, a compaixão e a solidariedade não são sentimentos apáticos, mas selvagens, ou seja, da natureza mesmo. A filosofia dele era trazer o bicho humano para sua natureza fraternal, amiga, não indiferente ou robótica. Não existe honra maior do que levar adiante essa filosofia crística de humanidade através do que eu nasci nessa terra para fazer, que é o teatro. É um sentimento enorme de gratidão e uma obrigação sem tamanho ter garra e entusiasmo para cumprir essa tarefa”, afirma.

A mineira Brenda Ligia, que estava no elenco de 2023, nunca havia assistido à peça antes do convite e relembra como tudo foi novidade para ela no começo. “De onde eu venho, nós não temos a mesma tradição que se tem aqui de maneira tão forte e foi muito gostoso o processo de descoberta. Esse é um papel histórico que tantas grandes atrizes já fizeram e a beleza e poética da personagem estará sempre aí, então é uma honra imensa fazer parte dessa história. Uma coisa que permanece intacta desde o ano passado é a emoção de viver o papel. Às vezes até mesmo nos ensaios em casa, eu me toco profundamente com a gravação. O momento da crucificação é de uma dor imensa para mim como mãe de ouvir, e viver aquilo no espetáculo é muito forte”, conta a atriz. “Sem contar que é fácil e lindo trabalhar com Zaza, que é um homem muito voltado para a natureza, muito próximo do povo, preto, periférico e que representa uma humanidade e proximidade que seria o que imaginaríamos de Jesus hoje em dia”, completa.

A multiartista Clau Barros fala sobre sua relação com o espetáculo e sobre sua interpretação do significado histórico da sua personagem. “Tenho uma relação incrivelmente afetuosa com essa Paixão. Vinha muito com minha avó quando criança e ela era a minha maior referência. Quando subi no palco pela primeira vez parecia a realização de um sonho. Estar dando voz a Madalena é importante demais para mim porque ela representa várias mulheres silenciadas ao longo da história, invisibilizadas pela sua forma de viver. A presença de um corpo negro dando vida a ela já é bastante simbólica desse processo”, diz.

“É uma história que precisa funcionar para pessoas de todas as crenças e nosso trabalho está em fazer essas relações com o mundo, mas seguindo um texto celebrado por gerações. O interessante é que, a cada ano, o que temos na peça não é ‘apenas’ a Paixão que todos já viram, mas a Paixão contada por outros corpos e outras vozes”.