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CRISE

Divergências sobre candidaturas à Prefeitura de Ipojuca geram tensão interna no PL

Presidente estadual Anderson Ferreira lançou Patrícia de Leno, nome desaprovado por ala de Gilson Machado, que apoia indicada da atual prefeita Célia Sales (PP)

Publicado em: 25/03/2024 05:03 | Atualizado em: 22/03/2024 19:10

Anderson Ferreira indicou Patrícia de Leno à Prefeitura de Ipojuca (Divulgação)
Anderson Ferreira indicou Patrícia de Leno à Prefeitura de Ipojuca (Divulgação)
O diretório estadual do Partido Liberal (PL) enfrentou um possível estopim de crise interna na última semana, com potencial para minar relações essenciais para os planos da sigla em Pernambuco - como a do dirigente Anderson Ferreira, e do pré-candidato do Recife, Gilson Machado, cujos grupos na legenda apoiam diferentes nomes para a Prefeitura de Ipojuca.

No último fim de semana, o candidato do ex-presidente Jair Bolsonaro ao Governo do Estado em 2022 decidiu lançar a recém-filiada Patrícia de Leno, atual vice-prefeita de Ipojuca, como candidata própria do PL. Leno se colocou na disputa após rompimento com a atual gestora do município, Célia Sales (PP), que não viu nela uma sucessora, optando por indicar a vereadora Adilma Lacerda (PP).

“Meu tempo de estágio passou. Estou preparada e sou sim pré-candidata a prefeita. Quando terminamos um estágio, estamos preparadas, sabemos todos os caminhos”, disse Patrícia de Leno à Rádio Cabo FM.

O Podemos, então partido de Leno, saiu em apoio à pré-candidata de Sales, levando a vice a deixar a sigla e buscar aliados em variadas direções do espectro político. O primeiro nome de peso a defender sua candidatura foi o deputado federal Felipe Carreras (PSB), o que indicou uma possível filiação aos socialistas. A movimentação teria tido, inclusive, aval do prefeito do Recife, João Campos.

Acontece que o diretório estadual do PSB priorizou a deputada federal Simone Santana para o pleito. Ainda determinada a lançar sua própria candidatura, Leno encontrou aliados no PL estadual, desagradando as lideranças municipais da sigla, de braços dados com Célia Sales e sua sucessora. A súbita filiação e indicação de Leno por Anderson Ferreira causou confusão entre os correligionários, que declararam não reconhecer a pré-candidatura.

"Política é um movimento democrático, e para se fazer com justiça e retidão, é necessário o diálogo e a construção em conjunto. Imposições não dialogam jamais com nossos propósitos. Em nenhum momento a direção municipal foi ouvida na construção deste ou de quaisquer outros caminhos”, expressou, em comunicado, o dirigente do PL de Ipojuca, Carlos Eduardo Machado, irmão de Gilson Machado.

"Vamos marchar com quem Célia Sales marchar", completou o vice-presidente municipal Mário Pilar, publicizando o apoio do grupo à Adilma Lacerda.

Boicote

O motim dos bolsonaristas em Ipojuca foi se esquentando ao longo da semana, e o grupo dos irmãos Machado chegou a ameaçar boicotar candidaturas do PL em outros municípios, como a de Jaboatão dos Guararapes, terra-natal de Anderson Ferreira, onde o mesmo já foi prefeito duas vezes. Ao blog de Jamildo, Carlos Eduardo Machado convidou tanto seu irmão, quanto Jair Bolsonaro, para subirem no palanque de Clarissa de Tercio (PP) em Jaboatão caso Anderson não recue na indicação de Patrícia de Leno.

“O ex-presidente Jair Bolsonaro e Gilson Machado estarão livres para subir no palanque da deputada Clarissa de Tercio, assim como nos palanques ‘verdadeiramente’ bolsonaristas nos mais de 30 municípios onde Gilson Machado foi majoritário em votação na sua campanha para o Senado em 2022", declarou o dirigente.

Imposição

Com o racha instaurado, Anderson se pronunciou através de nota na última quinta-feira (21), onde indicou apoio à pré-candidatura do “ministro sanfoneiro” de Bolsonaro à Prefeitura do Recife para estabelecer um ponto pacífico com os amotinados, mas afirmou que “projetos pessoais” não se sobressaem às estratégias do partido.

“Nosso partido cresceu, e tem hoje um protagonismo importante. É natural que haja debates internos e divergências, mas nenhum projeto pessoal vai se sobrepor à estratégia do partido de crescer. Temos hoje prioridades bem definidas como o Recife, com Gilson, a reeleição de Mano [Medeiros] em Jaboatão, Caruaru, Cabo, Ipojuca, Olinda e muitos outros municípios. Nosso foco é seguir trabalhando para fortalecer o partido em todo estado”, disse o presidente da sigla em nota.

“Coronelista”

A tentativa de apaziguar os ânimos ao público não funcionou, e o grupo dos irmãos Machado voltou a se pronunciar contra a posição do ex-prefeito de Jaboatão na última sexta-feira (22). Em nota assinada por Carlos Eduardo Machado e Mário Pilar, o grupo expressa surpresa por terem sido destituídos do diretório municipal do PL, ratifica o apoio à sucessora de Clécia Sales, e julga a atitude de Anderson como “coronelista”.

“Fomos pegos de surpresa. Chegamos a imaginar que se tratava de ‘pegadinha’, uma vez que era do conhecimento de todos que iríamos marchar com Adilma Lacerda. Surpresa também quando fomos destituídos do diretório municipal do PL após amplo trabalho de filiações de candidatos competitivos alinhados aos propósitos do PL e do presidente Bolsonaro. Tivemos, inclusive, o apoio do deputado federal Eduardo Bolsonaro, que esteve em Porto de Galinhas durante suas férias”, escreveu.

“A forma coronelista como tudo ocorreu não condiz com o perfil de nosso Partido Liberal. Política é a arte do diálogo, não de imposições. Continuaremos firmes acreditando na democracia e na boa convivência, salientando que o PL não deverá ser ‘curral’ de quaisquer clãs políticos”, concluiu.

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