CULTURA

Pesquisa explora biografia e amizade de Mauro Mota e Gilberto Freyre

Publicado em: 10/08/2022 10:26

 (Pesquisa explora a biografia e a amizade do jornalista, professor, poeta, geógrafo e imortal da ABL Mauro Mota com o sociólogo Gilberto Freyre. Foto: Fundaj/Arquivo)
Pesquisa explora a biografia e a amizade do jornalista, professor, poeta, geógrafo e imortal da ABL Mauro Mota com o sociólogo Gilberto Freyre. Foto: Fundaj/Arquivo
Jornalista, professor, poeta, geógrafo, gestor cultural e imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL). Foi sobre esse currículo que o jornalista e pesquisador Tércio Amaral se debruçou para traçar o perfil de Mauro Mota. Um dos intelectuais mais importantes de Pernambuco foi tema da tese É impossível substituir uma amizade fraternal: As conquistas de um intelectual em uma biografia de Mauro Mota (1908-1983), escrita por Tércio para o Programa de Pós-Graduação em História da UFPE.

Como o próprio título sugere, para além do caráter biográfico, o trabalho estabelece uma análise relacional do intelectual, principalmente com o conterrâneo Gilberto Freyre. “Existe essa rede de relacionamento que um intelectual vai construindo para chegar aos seus objetivos. No caso de Mauro Mota, tem um personagem muito importante, que foi Gilberto Freyre. Era uma relação que, em partes, foi de subordinação”, explica Tércio.

Em sua tese, a partir dos eixos teóricos proporcionados por nomes como Judith Butler e Vladimir Safatle, o autor analisa a construção da identidade sujeitada e relacional do escritor pernambucano. Mota era um fiel escudeiro de Freyre, e a amizade lhe facilitou algumas conquistas, como assumir a direção do Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, atualmente, a Fundação Joaquim Nabuco.

A amizade também demandava uma sujeição de Mota aos pedidos de Freyre. “Por exemplo, Freyre era muito forte no Diario de Pernambuco - chegou a ser diretor geral em duas ocasiões. Na década de 50, ele já era um nome influente, até no cenário internacional. E Mauro Mota vai ter essa relação com ele a partir do Diario, com pedidos de publicações e notas. Inclusive, há uma nota que ele (Freyre) pediu para o Mauro plantar dizendo que foi escolhido como novo embaixador do Brasil na Inglaterra. E isso nunca chegou a acontecer”, conta Tércio, que também foi repórter do Diario.

Para além da análise relacional, o trabalho também destaca a carreira construída por Mauro Mota. “Ele foi um intelectual de bastante projeção em Pernambuco, com dimensão nacional. Ele foi, por muitos anos, funcionário do Diario. Foi de redator a diretor da empresa, sendo por muitos anos editor de um suplemento literário famoso na região Nordeste”, conta o jornalista.

Formado em Direito, Mauro Mota não seguiu a carreira jurídica e trilhou sua vida profissional a partir das redações dos jornais impressos. Passou pelo Diário da Manhã antes de ser contratado pelo Diario de Pernambuco, onde consolidou sua carreira.  

“Ele tem um aspecto muito interessante. Apesar de ter essa subordinação ao Gilberto Freyre, Mauro Mota foi um vencedor. Ele foi órfão muito cedo, quando fazia a faculdade de Direito no Recife, também com bolsa de estudos, mal tinha o que comer. Chegava nos restaurantes e pedia um café e pão com manteiga. Então, ele não teve uma vida muito favorável. E a submissão a Freyre foi um pouco das condições que ele tinha para crescer em Pernambuco, como muitos intelectuais na época também faziam”, diz Tércio.

Não se centrando na obra poética, e aprofundando uma faceta pouco explorada de Mauro Mota, Tércio analisa a sua importância para o jornalismo e a sua obra intelectual. É por esse caminho que descobrimos suas visões sobre o Brasil da época, mas também guiadas por uma estética freyriana.

“A questão do tratamento da mulher negra, por exemplo, é um dos equívocos da obra de Freyre que ele vai reproduzir. Como intelectual, ele pode ser considerado um freyriano. Ele discutia bastante a questão da casa para a sociedade brasileira, que as pessoas não estavam mais se reunindo na mesa de jantar como antigamente, fazia também uma crítica aos costumes das mulheres deixarem de utilizar livros de receitas”, explica.

Mauro Mota foi o sexto ocupante da cadeira 26 na ABL, tendo recebido o Prêmio Olavo Bilac da instituição. Em grande destaque literário, suas Elegias, publicadas em 1952. Veio a falecer em 22 de novembro de 1984, no Recife.

A tese do jornalista Tércio Amaral pode ser lida na biblioteca da UFPE, com planos de ser publicada em livro futuramente.

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