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HOLOCAUSTO

Judeu teria entregado Anne Frank aos nazistas

Publicado em: 18/01/2022 07:28

 (Foto: Anne Frank Museum/Divulgação)
Foto: Anne Frank Museum/Divulgação
Durante seis anos, o ex-agente do FBI (polícia federal norte-americana) Vincent Pankoke comandou uma investigação para descobrir quem delatou o esconderijo de Anne Frank, a menina que escreveu um diário sobre a rotina nos dois anos que permaneceu trancafiada com outros seis judeus em um anexo secreto dentro de um armazém, às margens de um canal de Amsterdã, durante a Segunda Guerra Mundial.

Então com 15 anos, Anne foi descoberta pelos nazistas em 4 de agosto de 1944 e enviada ao campo de concentração de Bergen-Belsen, onde morreu em fevereiro ou março de 1945. Pankoke concluiu que o tabelião judeu Arnold van den Bergh é o principal suspeito de ser o traidor.

Os detalhes da investigação são contados na obra The Betrayal of Anne Frank (A Traição de Anne Frank), da autora canadense Rosemary Sullivan. De acordo com Pankoke, Van den Bergh teria revelado o local do esconderijo da menina para salvar a própria família.

As acusações contra Van den Bergh, que morreu de câncer em 1950, são baseadas em evidências, incluindo uma carta anônima enviada ao pai de Anne, Otto Frank, após a Segunda Guerra, segundo trechos publicados pela imprensa holandesa. Apesar de considerar a hipótese "fascinante", o Museu de Anne Frank reagiu com cautela e informou à agência France-Presse que são necessárias mais investigações sobre o caso.

De fato, as conclusões de Pankoke estão longe de ser uma unanimidade. Em entrevista ao Correio, Eric Somers — historiador do Instituto Holandês de Pesquisa sobre a Guerra (Niod), especialista sobre a perseguição aos judeus na Holanda e conselheiro da equipe comandada por Pankoke — disse que "o resultado da investigação baseou-se em evidências muito pobres para chegar a uma conclusão tão importante, em um documento anônimo, cujo remetente é desconhecido".

"Os investigadores supõem que o traidor usou listas com endereços de judeus que estavam escondidos, elaboradas pelo Conselho Judaico Holandês. Isso é impossível, pois tais listas absolutamente não existiram. Elas nem sequer foram mencionadas nos interrogatórios feitos depois do fim da guerra", acrescentou.

Somers lembra que o Conselho Judaico Holandês foi dissolvido em setembro de 1943, enquanto Anne Frank foi detida quase um ano depois, em agosto de 1944. "O traidor teve acesso às listas, então? Isso não é realista. Temos, aqui, uma questão de imoralidade. Os próprios investigadores apontam que sua explicação é 85% realista. No entanto, nas manchetes, o tabelião Arnold van den Bergh é colocado como o traidor. Uma condenação somente é possível com base em 100% de certeza", alertou.

"Não temos uma arma fumegante, mas temos uma arma quente com cápsulas vazias ao redor", admitiu Pankoke à emissora holandesa NOS.
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