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MEDICAMENTO

Ex-chanceler atuou para garantir fornecimento de cloroquina ao Brasil

Publicado em: 11/05/2021 07:32 | Atualizado em: 11/05/2021 10:51

 (Foto: Evaristo Sá/AFP)
Foto: Evaristo Sá/AFP

Telegramas mostram que o ex-ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo agiu para garantir o fornecimento de cloroquina ao Brasil. O medicamento não tem eficácia contra a Covid-19. Os documentos, obtidos pela Folha de S. Paulo, mostram que, por sua vez, o empenho para conseguir vacinas foi baixo. O ex-chanceler, que pediu demissão há pouco mais de um mês, será um dos ouvidos da CPI da Covid, no Senado, na próxima semana.

Segundo a reportagem, em março de 2020, Araújo pediu aos diplomatas brasileiros que tentassem “sensibilizar o governo indiano para a urgência da liberação da exportação dos bens encomendados pelas empresas antes referidas (EMS, Eurofarma, Biolab e Apsen) e outras que se encontrem em igual condição, cujo desabastecimento no Brasil teria impactos muito negativos no sistema nacional de saúde”. Na época, o governo da Índia havia restringido a exportação de cloroquina.

Um dia antes do pedido, a Prevent Senior e o Hospital Albert Einstein tinham anunciado estudos para saber se a cloroquina poderia ser eficaz contra a Covid-19. A pesquisa do Einstein, publicada em julho, concluiu que o medicamento não tem nenhum benefício para os infectados pela doença e que o uso dela pode causar alterações no fígado e no coração. Já a da Prevent Senior apontou redução no número de internações, porém, a pesquisa foi colocada em dúvida pela comunidade científica por não seguir padrões aceitáveis.

Um dos telegramas, de 4 de abril, mostra que o presidente Jair Bolsonaro chegou a conversar com o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi. No diálogo, teria afirmado que o Brasil obteve resultados animadores com o uso da cloroquina, mesmo não existindo nenhum estudo comprovando a declaração.

A ação de março não foi a única interferência do então ministro. Em todo o mês de abril, ele tentou a obtenção do remédio para o Ministério da Saúde, e os pedidos continuaram em junho, quando a Sociedade Brasileira de Infectologia, a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia e a Associação de Medicina Intensiva Brasileira já haviam desaconselhado o uso da cloroquina em pacientes com Covid-19. Estudos têm demonstrado que o uso do medicamento pode ter aumentado a quantidade de infecções pela doença, pela falsa sensação de segurança.

Ainda de acordo com a reportagem, enquanto batalhava pela cloroquina, Araújo teve baixo empenho para conseguir imunizantes contra a Covid-19 vindos da China. Até novembro de 2020, não houve, por parte do ministério, instruções para os diplomatas negociarem o fornecimento de vacinas ou insumos ao Brasil. O país asiático é o maior produtor de imunizantes do mundo.

Somente neste ano, a embaixada da China foi acionada para conseguir suplementos para a produção da vacina da AstraZeneca.

Posicionamento da Aspen Farmacêutica
"A APSEN Farmacêutica produz hidroxicloroquina no Brasil há 18 anos, com indicação no tratamento de pacientes crônicos com lúpus e artrite reumatoide. Em abril de 2020, com as dificuldades de importação impostas pela pandemia, os esforços da companhia foram concentrados na manutenção do tratamento sem prejuízos à saúde dos mais de 100 mil pacientes crônicos em uso contínuo do medicamento; e em segundo momento, na contribuição com os estudos em andamento na época para análise da possível eficácia para o tratamento da COVID-19.

Reforçamos que, os pedidos de compras de insumos são realizados a cada final de ano para atendimento do ano seguinte, portanto os pedidos referentes ao ano de 2020 haviam sido feitos em novembro de 2019 junto aos fornecedores indianos. Com a proibição das importações por parte do governo indiano em abril de 2020, a Apsen trabalhou com estoque reduzido e comercialização racionalizada durante os meses de abril, maio, junho e julho. Diante do cenário de possível desabastecimento, contatamos o Ministério da Saúde e o consulado da Índia para auxiliar com importação dos insumos adquiridos em novembro de 2019, assegurando assim o tratamento dos pacientes que fazem uso contínuo dessa medicação, conforme indicação em bula e prescrição médica".
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