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CINEMA

Inspirado em Bukowski, filme pernambucano abre programação do 30º Cine Ceará

Publicado em: 04/12/2020 14:15 | Atualizado em: 04/12/2020 14:19

Primeiro longa do diretor caruaruense Eduardo Morotó, 'A morte habita à noite' é ambientado no Centro do Recife. (Foto: Divulgação)
Primeiro longa do diretor caruaruense Eduardo Morotó, 'A morte habita à noite' é ambientado no Centro do Recife. (Foto: Divulgação)


A transgressão, o sentimentalismo, o álcool, a violência e a misoginia, características que norteiam a obra do escritor norte-americano Charles Bukowski e a sua maneira de descrever a brutalidade do mundo, marcaram uma geração de leitores, encontrando identificação principalmente no público jovem. No ano em que o autor completaria centenário, seu universo literário se tornou inspiração para o filme pernambucano A morte habita à noite, que será exibido neste sábado (5) na abertura do 30º Cine Ceará - Festival Ibero Americano de Cinema. A produção marca a estreia em longas-metragens do caruaruense Eduardo Morotó como diretor e da atriz recifense Endi Vasconcelos como protagonista. O festival segue até o dia 11, de forma híbrida, com exibições presenciais no Cine-Teatro São Luiz, em Fortaleza, e virtualmente no Canal Brasil Play.

"O filme retrata a vida de um escritor decadente, que vive na zona central do Recife, e como ele ressignifica o amor e a morte quando conhece um novo amor", explica Morotó. O diretor se inspira nos personagens marginalizados do universo de Bukowski e na construção de afetos inesperados. "Não é uma adaptação muito presa. Trago mais a atmosfera expressionista, noturna, a vivência do proletariado. O filme revela personagens que resistem a esses modos mais convencionais de viver e se vêem à margem da sociedade." O protagonista é interpretado pelo ator carioca Roney Villela, que faz um escritor decadente que ressignifica o amor e a morte a partir do encontro com Cássia (Endi Vasconcelos), uma jovem desgarrada e cheia de vida que está em busca de uma figura paterna.

Também integram o elenco as atrizes Mariana Nunes e Rita Carelli, além das participações de Pedro Gracindo, Nínive Caldas e Everaldo Pontes. O Pátio de Santa Cruz, na Boa Vista, área central do Recife, é a locação principal do filme, assim como uma pensão situada no entorno, a Praça do Sebo e o Edifício Pernambuco, demarcando cenários característicos da capital. O longa foi rodado no final de 2017, e teve estreia mundial no último mês de fevereiro, na 49ª edição do Festival de Cinema de Rotterdam, na Holanda, dentro da seção Bright Future, dedicada às primeiras obras de novos realizadores.



Com a pandemia da Covid-19, o filme parou de circular em eventos e teve a estreia nacional adiada. O filme ainda integrou o 32º Festival de Viña Del Mar, no Chile, e o Inffinito Brazilian Film Festival, dos Estados Unidos, onde Roney conquistou o prêmio de melhor ator. Com uma carreira artística marcada pela atuação nos palcos, Endi Vasconcelos estreou seu primeiro longa com indicação ao prêmio de melhor atriz no Inffinito. “Eu acho Cássia forte, mas eu não esperava. É um incentivo estrear com essa repercussão, é como se me dissesse para continuar”, afirma. “Quando fiz o teste, eu estava em uma fase bem desacreditada de ser artista, o filme foi um respiro muito grande e me fez voltar a acreditar na arte e em mim como profissional.”

A personagem Cássia é uma jovem mulher que passou por muitos traumas e carrega consigo uma coragem de viver. “Embora a morte esteja sempre presente em sua vida, em contraponto ela é cheia de vida. O encontro com Raul é um encontro de duas almas perdidas nesse mundo”, conta a atriz. Para ela, a sua adaptação do tablado para a telona foi um processo de descoberta positivo. “Eu gosto muito do trabalho corporal, e sempre fui levada ao teatro pela questão física. Então foi um desafio criar o corpo de Cássia, e levar isso para o cinema. Descobrir a personagem e adaptar para a nova linguagem. Cinema é uma tela. A tridimensionalidade do teatro, que explora mais o movimento corporal, tem um diferencial, mas sou a mesma atriz, só adaptada para tela”, explica.
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