Água

Há quatro anos sem abastecimento, moradores de Águas Compridas compram água dos poços de vizinhos

Publicado em: 29/10/2020 18:37 | Atualizado em: 30/10/2020 21:13

O bairro de Águas Compridas, em Olinda, não tem feito jus ao seu nome nos últimos anos. Desde 2016 o fornecimento de água é precário e as famílias já não sabem mais a quem recorrer.  ( Fotos: Paulo Paiva / DP.)
O bairro de Águas Compridas, em Olinda, não tem feito jus ao seu nome nos últimos anos. Desde 2016 o fornecimento de água é precário e as famílias já não sabem mais a quem recorrer. ( Fotos: Paulo Paiva / DP.)
Quando ouvimos o nome do bairro de Águas Compridas, em Olinda, logo vem à cabeça abundância de água, que o local deveria ter, esse pensamento não representa a realidade que os moradores da região vivem, em meio à pandemia do Covid-19, com a precariedade de abastecimento desde 2016, as famílias já não sabem mais a quem recorrer. A maioria dos moradores já desistiram de esperar à água, que demora muito a chegar e quando chega é insuficiente para abastecer os reservatórios dos residentes da Rua Dona Marina Valença. Alguns, como medida de socorro, optaram pelo comércio de água, por meio de poços, que os próprios vizinhos montaram na localidade, de forma improvisada. O preço varia de R$ 30 chegando até R$ 50 pela hora de abastecimento de água. 

"Há mais ou menos 4 anos não recebemos água da Compesa em nossas torneiras. Temos que pagar a um vizinho que fornece a água do poço que ele tem, pagamos R$ 80,00 por mês, é a única opção que temos", disse Alexandre Rodrigues, 47, frentista. Ele mora próximo à escadaria da rua, que em nenhum trecho recebe água da Companhia e diz se sentir humilhado por não ter o direito à água.

"Eu coloquei na justiça a Compesa, em julho de 2018. Eles disseram que iriam mandar um caminhão pipa de 15 em 15 dias, mas esse prazo não é cumprido", disse o aposentado, João Severino, 65. A última vez que chegou água na casa dele foi no mês de maio, e a penúltima foi há dois anos. A máquina de lavar da família está em desuso. Com recursos próprios, João resolveu pagar alguém para quebrar a calçada da frente de sua casa e investigar o motivo da falta de água, descobrindo que o cano da Compesa estava entupido, foi quando a família começou a receber água em suas torneiras.

Segundo a filha de João, a Compesa alega que a água não chega até a residência por conta das pessoas da região, que colocam bombas para abastecer seus reservatórios, quando é dia de abastecimento. "Eles dizem que tem que trocar a tubulação e fazer reformas, mas não fizeram nada até agora. Em uma das audiências, eles alegaram que o dinheiro das contas que pagamos era o valor referente ao carro de abastecimento", disse a moradora Ivanir de Lira, 40. 

Em nota, a Companhia informou que desconhece o longo período de desabastecimento da Rua Dona Marina, em Águas Compridas e informou que irá enviar uma equipe até a sexta-feira (30), para averiguar a situação. 

A moradora, Lucia Barbosa, 70 anos, residente na Rua Severina Cássia, frequentemente passa dias e até meses sem água, ela conta que tem um problema sério com a coluna e tem dificuldades em carregar os baldes quando a água chega, na torneira mais baixa da casa. Normalmente, segundo a moradora, a água chega sempre nas madrugadas, e, mesmo assim, vem com o fluxo muito fraco. "Fazem dois meses que estou vivendo essa falta d’água. A maioria dos vizinhos tem poço, na minha casa eu não tenho. Todos os meses eu pago as contas, é R$ 44,08. Se eu tivesse condições já teria furado um poço", desabafou a moradora. Lucia recebeu uma comissão da Compesa em sua residência, que averiguou, há alguns meses, que a água não subia por ser fraca demais. Ela pediu que eles levassem essa questão para a empresa, tomar alguma solução sobre o caso, mas até o momento nenhuma obra para melhorar o abastecimento foi feita.

A solução que a Compesa deu à moradora foi que, todas às vezes quando ela precisar da água em sua casa ela deveria solicitar, através de uma ligação, um caminhão pipa. A reportagem do Diario de Pernambuco flagrou o momento em que o caminhão pipa abastecia a residência da moradora, com apenas 500 litros, quantidade insuficiente, segundo Lucia. "Nós fazemos o necessário quando chega a água, tomar banho e fazer comida. Aqui só lavamos os banheiros e passamos pano na casa quando a vizinha sede a água do poço dela”, falou a moradora. Ela contou ainda que às vezes precisa recolher a água da chuva para realizar os serviços domésticos.






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