ATLAS
Brasil tem 76,1% dos conflitos sociais e territoriais da região amazônica
Por: Jailson da Paz
Publicado em: 24/09/2020 08:00 | Atualizado em: 24/09/2020 19:46
Foto: Magno Guajajara/Divulgação |
O Brasil é líder na lista de conflitos entre os quatro dos nove países com maiores áreas na região da Pan-Amazônia. São 995 dos 1.308 contabilizados. Além do Brasil, a lista inclui Colômbia, Peru e Bolívia. Os dados constam no Atlas de Conflitos Socioterritorias Pan-Amazônico 2017-2018, levantamento realizado por nove organizações dos quatro países e coordenado pela Comissão Pastoral da Terra (CPT). Muitos dos conflitos ainda persistem e resultaram em ao menos 118 mortes.
Em sua primeira versão, o Atlas aponta para a gravidade do problema no Brasil. Os confrontos no país, que possui 60% da região estudada e concentra 76,1% dos conflitos socioterritoriais, estão em sua maioria relacionados à disputa de terra com pecuaristas e produtores de monoculturas. A Colômbia, na segunda posição, soma 227 registros, enquanto o Peru registra 69 e a Bolívia, 17. O território da floresta tropical dos quatro países analisados corresponde a 85% da Pan-Amazônia.
A disputa vai além dos conflitos entre pequenos agricultores, indígenas, quilombolas, seringueiros e ribeirinhos com o agronegócio. Como segundo maior fator de conflitos, o Atlas indica a extração de madeira, chegando a 139 casos, o que representa 13,1% do total. Na Bolívia, a questão madeireira alcança 43,2% dos conflitos. Estes também envolvem negócios de mineração e de extração de petróleo e gás, construção de hidrelétricas e de estradas e produção de drogas.
Ao analisar os conflitos sobre o aspecto da quantidade de afetados, o Atlas identificou 167.559 famílias. Destas, 131.309 eram do Brasil, vindo o Peru em seguida, com 27.279 famílias, e Colômbia, 7.040. A Bolívia teve 1.931 famílias listadas.
Nos dois anos avaliados pelas nove organizações, contou-se 118 mortes. Sete vítimas eram mulheres, que lutaram por suas famílias e por seus territórios. A maior parte de todos os crimes na área ocorreu no Brasil, com 80 assassinatos, sendo seis mulheres. O país teve os dados mais altos de tentativas de assassinato (100), ameaças de morte (225) e agressões diversas (115), além de 351 pessoas detidas, presas ou submetidas a processos judiciais por defender seus territórios.
VISÃO
Coordenador da CPT em Rondônia, Josep Iborra, que participou da sistematização dos dados, afirmou ser preciso qualificar e unificar a visão dos que defendem a Amazônia a partir do que acontece na região. E assim, segundo ele, “fortalecer o enfrentamento e a resistência daqueles que lutam por suas terras e territórios, dos povos da floresta e dos povos das águas, incluindo nos territórios os rios e lagos, as águas que tanta importância tem na região amazônica”.
O Atlas, lançado nesta quarta-feira (23), além de mapear os conflitos sociais e de terra, traz textos analíticos sobre a conjuntura dos quatro países estudados e casos emblemáticos de violação de direitos dos povos da região.