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Após cinco meses, universidades pernambucanas reiniciam aulas a partir desta segunda

Publicado em: 15/08/2020 10:00 | Atualizado em: 14/08/2020 20:21

Túlio Santos não sabe quando vai concluir o curso de odontologia na UFPE. (Foto: Peu Ricardo/DP)
Túlio Santos não sabe quando vai concluir o curso de odontologia na UFPE. (Foto: Peu Ricardo/DP)

Com os calendários acadêmicos suspensos desde março, as universidades públicas de Pernambuco começam a retomar as atividades nos cursos de graduação a partir desta segunda-feira (17). A paralisação das atividades presenciais esteve, nos últimos cinco meses, acompanhada de desafios; necessidade de reinvenção e mudança de planos para estudantes, especialmente para os que estavam na reta final do curso.

A angústia de não saber quando vai concluir o curso de odontologia tem acompanhado Túlio Santos, 24 anos, que está no nono período da graduação na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Neste mês de agosto, ele estaria iniciando o último semestre do curso e se formaria no fim do ano. Com a suspensão das aulas, ainda estão faltando dois períodos. Em 2021, aconteceria a sonhada festa de formatura.

"A gente faz todo um planejamento, principalmente no último ano do curso, vislumbrando uma pós, residência, mestrado, mas a pandemia embaralhou tudo o que idealizamos. Apesar de entendermos a necessidade do isolamento e da suspensão das atividades, este período trouxe uma angústia", diz o universitário. 

As aulas práticas, que são reforçadas nos últimos semestres dos cursos, não estão acontecendo e só devem ser retomadas no próximo ano. Túlio, que está matriculado para o semestre suplementar 2020.3 da UFPE, espera, com a retomada do ensino remoto, conseguir adiantar algumas das disciplinas necessárias para a conclusão do curso. "Minhas perspectivas, como concluinte, são fazer as disciplinas nesse formato, ser cauteloso e me adaptar a essa nova realidade para prosseguir com a formação profissional da melhor forma possível", afirma.

Na última quarta-feira (12), a UFPE alterou as datas para a retomada das atividades da graduação no modelo remoto. Inicialmente planejadas para esta segunda-feira (17), o início das aulas passou para o dia 24 deste mês. "O novo calendário acadêmico, aprovado pelo Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe/UFPE), visa atender à grande demanda estudantil por matrículas no período, além de compensar eventuais dificuldades apresentadas pelos estudantes, sobretudo os novatos, para efetivar a matrícula", esclareceu a universidade, quando anunciou a prorrogação do cronograma.

Para incluir os estudantes no semestre suplementar, a UFPE tem recebido doações de equipamentos eletrônicos para alunos, pesquisadores e servidores. Pessoas físicas e jurídicas podem se inscrever para doar desktops, notebooks, chromebooks e tablets até o dia 28 deste mês. Para doar, é necessário fazer a inscrição pelo e-mail doacoes@economia.gov.br ou via protocolo eletrônico, no site do Ministério da Economia ou via peticionamento eletrônico, no site do Ministério do Planejamento.

Concluinte do curso de pedagogia da UFPE, Airton Roseno, 23, diz que, apesar de ter os recursos tecnológicos para acompanhar as aulas virtuais, concordou com a suspensão das atividades na instituição para que mais estudantes fossem incluídos e também conseguissem participar das disciplinas oferecidas no modelo remoto. "Felizmente, tenho desktop e celular, além de internet de boa qualidade. Aprovo o fato de a UFPE ter se solidarizado com todos os estudantes, pois nem todos tem condições de estudar a distância. A política do semestre suplementar ainda não consegue englobar todos, mas foi uma aplicação inteligente para o momento difícil", pontua.

Conclusão antecipada para alunos de saúde

Portaria do Ministério da Educação garantiu a formatura de Rayane Matos. (Foto: Arquivo Pessoal)
Portaria do Ministério da Educação garantiu a formatura de Rayane Matos. (Foto: Arquivo Pessoal)

Semanas depois de a família de Rayane Matos, 23 anos, fazer uma vaquinha para arcar com os custos do pacote básico da formatura da turma 103 da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Universidade de Pernambuco (UPE), as atividades acadêmicas da instituição foram suspensas por causa da pandemia do novo coronavírus. 

Como os estudantes da turma de Rayane já haviam concluído mais de 75% do internato do curso, eles foram autorizados, graças a uma portaria do Ministério da Educação (MEC), que permitiu, em todo o país, a formatura antecipada de médicos para reforço das equipes de saúde para o enfrentamento à Covid-19.

No dia 22 de abril, em vez de vestidos longos, familiares reunidos e champagne estourado, Rayane e os colegas de classe participaram de uma colação de grau virtual. "Por uma questão financeira, eu não ia participar da formatura. Como os meus colegas sinalizaram que iam me indicar como aluna oradora, meus familiares fizeram uma cota para pagar o plano básico da festa. Logo depois, veio a pandemia e não sabemos quando serão os eventos da formatura", conta a médica.

Um dia depois da colação de grau online, Rayane foi à sede do Conselho Regional de Medicina (Cremepe), onde obteve o registro para começar a atuar na área. "Saindo de lá, comecei a trabalhar. Estou atuando na linha de frente da Covid-19 e a demanda por profissionais na área tem sido grande. Tive sete semanas de trabalho, sem um dia de folga, pois sempre era chamada para plantões", revela a médica que está atuando em um hospital de Vitória de Santo Antão, em um posto de saúde de Itapissuma e no Hospital de Referência Unidade Boa Viagem Covid-19, antigo Alfa, que foi reaberto pelo governo do estado para receber pacientes com Síndrome Respiratória Aguda Grave (Srag) durante a pandemia.

O reitor da UPE, Pedro Falcão, disse que a instituição tem olhado, neste período de suspensão das atividades, para os concluintes com atenção. "Desde março, mesmo com a interrupção das aulas presenciais, os alunos de qualquer graduação que só precisam entregar o TCC (trabalho de conclusão de curso) estão sendo orientados e participando de bancas virtuais para conseguirem colar grau. Neste período, 133 estudantes de medicina, sendo 75 no Recife, 40 em Garanhuns e 18 em Serra Talhada, puderam se formar por causa da portaria do MEC. Além disso, 53 alunos de enfermagem também conseguiram se formar e já estão trabalhando", ressalta.

Retomada será no modelo remoto de ensino

Emanuel Silva, que cursa licenciatura em química na UFRPE, vai fazer semestre suplementar a partir desta segunda. (Foto: Pedro Caldas/Divulgação)
Emanuel Silva, que cursa licenciatura em química na UFRPE, vai fazer semestre suplementar a partir desta segunda. (Foto: Pedro Caldas/Divulgação)

Nesta segunda-feira, a Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) será a primeira instituição pública de ensino superior do estado a reiniciar as atividades. A UFRPE terá o chamado Período Letivo Excepcional (PLE), com dez semanas de aulas remotas para manter as atividades durante a pandemia. O 2020.3 será de agosto a novembro, e o 2020.4, de novembro deste ano a março de 2021. Os semestres suplementares não equivalem aos períodos 2020.1 nem ao 2020.2. Trata-se de um semestre extra e não-obrigatório. A UFRPE está oferecendo ainda um auxílio financeiro de até R$ 1.380 para fazer a inclusão digital de estudantes em situação de vulnerabilidade social.

O estudante do sétimo período da licenciatura em química Emanuel Silva, 23 anos, se matriculou no semestre suplementar da UFRPE para adiantar disciplinas do curso. "Espero que dê tudo certo, uma vez que a universidade trouxe essa opção para não atrasarmos tanto o curso. Por causa da ocupação que houve na Rural em 2016, iniciei a graduação, em 2017, com o calendário atrasado. Só em 2019 conseguimos regularizar o cronograma e, agora, mais uma vez, vamos atrasar os semestres", diz Emanuel. 

A aceitação do semestre suplementar, segundo a pró-reitora de Ensino e Graduação da UFRPE, Socorro Lima, tem sido grande. Segundo ela, quase 70% das disciplinas oferecidas pela universidade estarão disponibilizadas no ensino remoto. Mais de 95% dos professores vão dar aulas nesse esquema. "Em março, fomos surpreendidos com a complexidade da pandemia e suspendemos o calendário acadêmico. Isso não significa, no entanto, que as atividades foram paralisadas. A universidade entrou, naquele momento, com a construção do trabalho remoto e acadêmico", afirma.

A construção do modelo a ser adotado pela instituição, de acordo com a pró-reitora, foi feita ouvindo a comunidade acadêmica. Oito grupos de trabalho foram criados para debater diferentes eixos: educação a distância (EAD); acessibilidade e inclusão; calendário acadêmico; alunos concluintes, sendo um grupo para monografias, TCCs e atividades complementares e outro para dispensas e equivalências; ensino remoto; formação docente e formação discente. "Após essa construção, colocamos para a comunidade uma consulta pública. Na consulta, recebemos contribuições de professores, alunos, sindicatos. Na sequência, foi para os conselhos. A proposta foi aprovada em primeira reunião e por unanimidade, pois todos participaram do processo", enfatiza Socorro.

Para ela, o principal legado do período da pandemia, deve ser a inclusão do ensino remoto entre as possibilidades de oferta de disciplinas na UFRPE. "Este momento atual tem sido muito desafiador e trouxe visibilidade maior para a educação a distancia. O futuro deve ser de oferta não só no ensino presencial, como era anteriormente, mas também no virtual, com o estabelecimento do ensino híbrido (que mescla o ensino remoto e o presencial). Deve haver uma reformulação curricular para estabelecer o ensino híbrido. O que for de dotação prática, será presencial, mas o teórico, pode ser oferecido a distância", esclarece.

O mesmo deve acontecer na UPE, que retoma as aulas no dia 8 de setembro, num semestre extra, chamado de Calendário Acadêmico Suplementar. O período terá 10 semanas de duração e atividades exclusivamente remotas. "Ninguém vai sair ileso dessa pandemia. Alguns acontecimentos que chegaram com ela não terão volta. No meu entendimento, as aulas teóricas poderão continuar acontecendo no virtual, além de reuniões, que estamos fazendo online e que têm funcionado. Isso não deve ter volta. Um desafio, no entanto, é garantir conectividade a todos", destaca o reitor da UPE, Pedro Falcão.

Na Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), as aulas remotas começam no dia 14 de setembro. A data foi definida nessa quinta-feira (13), em reunião do Conselho Universitário (Conuni) da instituição. "O mês de agosto será para planejamento e capacitação dos docentes. A previsão é de um calendário suplementar e não-obrigatório com 15 semanas de duração. Estamos preparando um edital de inclusão digital para que os alunos não fiquem de fora. Os nossos desafios têm sido fazer tudo no modelo remoto e também a questão orçamentária, pois ainda há a necessidade de aporte financeiro para a retomada das atividades", diz o vice-reitor pro tempore da Univasf, Valdner Daízio.

IFPE também retorna nesta segunda
Aulas remotas do IFPE serão retomadas gradualmente a partir desta segunda-feira. (Foto: Tarciso Augusto/Esp.DP)
Aulas remotas do IFPE serão retomadas gradualmente a partir desta segunda-feira. (Foto: Tarciso Augusto/Esp.DP)

O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco (IFPE) dará início, também a partir desta segunda-feira, à retomada progressiva das atividades de ensino do calendário letivo de 2020. Inicialmente, o ensino retornará de forma remota, com ou sem uso de tecnologias digitais, para os 22.918 estudantes dos cursos ofertados pelo instituto.

Nos campi Abreu e Lima, Afogados da Ingazeira, Barreiros, Cabo de Santo Agostinho, Garanhuns, Ipojuca, Igarassu, Olinda, Pesqueira, Palmares e Vitória de Santo Antão as atividades começam na segunda. Já nos polos de Educação a Distância (EAD), o início será na quarta-feira (19); no campus Paulista, no dia 24 de agosto; e nos campi Belo Jardim, Caruaru, Jaboatão dos Guararapes e Recife, no dia 31 deste mês. As aulas remotas ocorrerão de segunda a sexta, de acordo com os horários estabelecidos por cada unidade. Em alguns campi, também serão realizadas atividades aos sábados.

"Inicialmente, haverá um período de adaptação, tanto para revisar os conteúdos ministrados ainda no início do semestre quanto para adequar as estratégias que estão sendo adotadas localmente, como forma de garantir que todos os estudantes sejam incluídos no processo de ensino e aprendizagem. Algumas ações como empréstimo de tablets, abertura de salas somente para estudantes que não possuem acesso à internet e com respeito a todos os protocolos de segurança também estão sendo adotadas. Não haverá aulas presenciais", esclareceu o IFPE.

As estratégias de ensino são adaptadas para cada campus e para cada curso. Serão utilizados ambientes virtuais de aprendizagem, como Moodle, Google Sala de Aula, entre outros, definidos junto às comunidades acadêmicas. Os materiais didáticos serão disponibilizados nesses ambientes virtuais, e cada estudante assiste às aulas de acordo com seu tempo e conveniência. As videoaulas estarão disponibilizadas de duas maneiras: gravadas previamente, produzidas pelos professores e disponibilizadas nas plataformas e, em alguns casos, até por meio de pendrivers. Também poderá haver aulas on-line, por meio de videoconferência, que permitirá aos professores e estudantes, em tempo real, interação durante a realização de trabalhos, tirar dúvidas de exercícios de complementação e aprofundar conteúdos trabalhados.

Para incluir os estudantes, em especial os que não têm acesso à tecnologia digital, os campi do IFPE, quando necessário, poderão enviar materiais didáticos para a casa dos alunos, como livros, trabalhos escolares, fichas, roteiros de estudo e lista de exercícios. As avaliações também estarão disponíveis tanto nos ambientes virtuais como nas estratégias de atividades remotas sem o uso de tecnologias. "Nesse novo cenário, o IFPE comunica que o calendário letivo de 2020 precisou ser revisto. Cada campus e respectivos cursos definirão a melhor maneira de reestruturá-lo, adequando as disciplinas e conteúdos teóricos e práticos para trabalhar toda a carga horária, sem haver prejuízo dos conteúdos ministrados aos estudantes", pontuou a instituição. 
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