Com R$ 3 milhões declarados, Gilson Machado diz não ter dinheiro para pagar ação contra vereadora do PT
Juíza determinou que ex-ministro apresente faturas de cartão e declarações de imposto de renda para provar sua incapacidade financeira
O ex-ministro do Turismo Gilson Machado Guimarães Neto (PL) pediu gratuidade de Justiça por hipossuficiência, ou seja, falta de recursos financeiros, em processo que move contra a vereadora do Recife Kari Santos (PT). Na ação, o político quer a remoção de publicação que o chama de "sanfoneiro do diabo" e "prisioneiro do diabo".
Ao analisar o pedido, a juíza Nayra Celle Beltrão Aguiar, da Seção B da 20ª Vara Cível da Capital, destacou que Gilson Machado é “pessoa notoriamente pública, com atuação de relevo no cenário político e empresarial".
Segundo ela, a solicitação de gratuidade de justiça para mover a ação se amparou apenas em declaração genérica de hipossuficiência, "desprovida de qualquer elemento documental que respalde minimamente tal pretensão". A decisão estabelece prazo de 15 dias para que o político comprove sua situação financeira.
A magistrada explica que, em outras demandas cadastrais, Gilson Machado descreve ser empresário, músico, agropecuarista e, eventualmente, ocupante de cargo público.
"Nessa linha, o deferimento da justiça gratuita exige a efetiva e comprovada demonstração da incapacidade financeira", acrescenta.
Nos 15 dias estabelecidos, Gilson Machado deve apresentar cópias das três últimas declarações de Imposto de Renda, dos últimos comprovantes de pagamento de condomínio de sua residência habitual, das últimas faturas de cartão de crédito e de rendimentos provenientes da atividade empresarial e de outras possíveis fontes de renda.
"Advirto, desde já, que o não atendimento integral às determinações ora fixadas ensejará o indeferimento da petição inicial", reforça a juíza.
Bens milionários
Gilson Machado concorreu à Prefeitura do Recife nas eleições de 2024. Na ocasião, ele declarou ter R$ 3.354.263,29 em bens. O valor representa um aumento de 94% do que foi declarado quando ele concorreu a senador dois anos antes, em 2022, e apresentou um total de bens de R$ 1.729.307,27.
Em 2024, o ex-ministro disse ter um apartamento em Jaboatão dos Guararapes, no Grande Recife, no valor de R$ 72 mil, um sítio em Alagoas calculado em R$ 22 mil, uma gleba de terra rural em Tocantins de R$ 817 mil, uma lancha avaliada em R$ 50 mil, oito mil euros em espécie, R$ 1,1 milhão em fundos, entre outros valores.
O processo
Gilson Machado processou a vereadora do Recife Kari Santos e o Facebook para que uma postagem da parlamentar, de 13 de junho deste ano, seja removida. Segundo a defesa do sanfoneiro, o conteúdo "dissemina ataques de ódios" e "causou prejuízos irreparáveis à honra e imagem".
Na publicação, Kari Santos faz piada com a prisão do ex-ministro. "O sanfoneiro do diabo acabou de ser preso, em plena ‘sexta-feira 13’. Sanfoneiro do diabo não, é prisioneiro do diabo. Agora vai lá, Gilson Machado, me processa de novo”, dispara. “Tem gente dizendo por aí que tu não vai ter São João, mas já tem a sanfona, e o xadrez já garantiu”, acrescenta.
A postagem fazia alusão à prisão de Gilson Machado, em 13 de junho, sob suspeita de tentar emitir um passaporte português para o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro. O ex-ministro chegou a ficar detido no Centro de Observação e Triagem Professor Everardo Luna (Cotel), em Abreu e Lima, no Grande Recife, sendo liberado por volta das 22h do mesmo dia.
Kari Santos já foi condenada em 2024 por chamar Gilson Machado de "sanfoneiro do diabo". "Ou seja, claramente podemos verificar que a demandada debocha da Justiça brasileira. Onde, mesmo condenada anterior pelo mesmo ato, novamente realiza a mesma ofensa e agora sendo bem pior, relacionando o demandante a prisioneiro em referência a prisão do mesmo realizada no dia 13 de junho de 2025", escreve a defesa dele no processo atual.
Além da remoção da publicação, a defesa pede indenização de R$ 50 mil por danos morais. Procurada, a assessoria de imprensa do ex-ministro disse que o valor mínimo do processo já foi pago.