Vereador do Recife aciona polícia contra professores que o chamaram de "fascista e racista" na Câmara
Eduardo Moura foi segurado por parlamentares durante tumulto após suspensão da sessão
O vereador Eduardo Moura (Novo) protagonizou um tumulto na Câmara Municipal do Recife nesta segunda-feira (30) ao chamar a polícia contra professores sindicalistas que o chamaram de “fascista” e “racista” nas galerias do plenário. Uma viatura da Polícia Militar chegou ao local, mas ninguém foi preso.
A confusão teve início durante a discussão de um projeto de autoria da vereadora Liana Cirne (PT) que proíbe os parlamentares de interferirem em ações de sindicatos. O texto seria uma resposta ao próprio Eduardo Moura, que removeu cartazes antirracistas numa escola da rede municipal de ensino.
Os manifestantes puxaram os gritos de “facista” e “racista” enquanto Moura discursava na tribuna do plenário. Ele interrompeu sua fala para comentar o ocorrido.
“Estou quase pedindo as câmeras das galerias, presidente”, disse o vereador ao presidente da Casa, Romerinho Jatobá (PSB).
Em seguida, ele se dirige a um manifestante específico que estaria incitando as acusações. “Vou identificar o senhor. Como está me chamando de facista e racista, está me imputando um crime. Vou levar o senhor para a delegacia”, dispara, antes de deixar a tribuna e sair do plenário em direção às galerias.
A sessão ordinária foi suspensa logo em seguida, sendo retomada 10 minutos depois.
Fora do plenário, Eduardo Moura precisou ser segurado por colegas parlamentares, incluindo colegas da bancada de oposição, como o líder Felipe Alecrim (Novo). Durante o tumulto, os sindicalistas deixaram a Câmara escoltados pelas vereadoras Liana Cirne e Jô Cavalcanti (PSOL).
O que diz a Câmara Municipal
Em nota, a Câmara Municipal do Recife "reafirma o seu lugar como espaço democrático, de diálogo e de respeito com as diferentes correntes ideológicas".
"O Poder Legislativo Municipal é formado por 37 parlamentares, legitimamente eleitos, que devem exercer as suas funções dentro dos limites estabelecidos pelo Regimento Interno da Casa, Lei Orgânica do Recife e Constituição Federal", escreveu.
O que diz o vereador
Por meio de nota, a assessoria do parlamentar disse que “um integrante do Simpere, encorajado pelo sindicato, incitou manifestantes, no plenário, chamando o vereador Eduardo Moura (Novo) de racista e fascista”.
Ainda segundo a nota, a acusação é “falsa e criminosa”. “Mesmo com os pedidos para que as acusações parassem, o integrante do sindicato continuou a chamar o parlamentar de racista”, acrescentou a assessoria parlamentar.
Por fim, a nota disse que o vereador “se manteve calmo e, mesmo com a permanência das agressões, em nenhum momento, o alterou o tom de voz”.
“O parlamentar defende a democracia e a liberdade de expressão, mas repudia toda e qualquer expressão contra a honra e dignidade de qualquer pessoa, inclusive de parlamentares. E rejeita veementemente qualquer tipo de ação ou comportamento desrespeitoso que incitem a desordem pública”.
O vereador disse que vai registrar boletim de ocorrência na Polícia Civil para apurar criminalmente a ação realizada pelos integrantes sindicais envolvidos no caso.
O que diz o sindicato
Em nota, o Sindicato Municipal Dos Profissionais de Ensino da Rede Oficial do Recife (SIMPERE) repudiou o comportamento do parlamentar. Leia a íntegra:
“O SIMPERE vem a público repudiar veementemente a atitude autoritária e persecutória do vereador Eduardo Moura (Novo), durante a sessão da Câmara Municipal realizada nesta segunda-feira, 30 de junho.
Durante o debate democrático nas galerias, professoras e professores expressaram sua indignação frente a um político que, em maio deste ano, protagonizou um dos episódios mais lamentáveis contra a liberdade de expressão e a luta antirracista: a retirada de uma bandeira com os dizeres “Por uma educação antirracista” da Escola Municipal Anita Paes Barreto. Um ato racista, violento, e em desacordo com os princípios da Constituição e das leis que garantem a liberdade sindical e o direito à educação com compromisso social.
Na tentativa de intimidar a manifestação legítima da categoria, o vereador acionou a Polícia Militar, criando um ambiente de intimidação e censura. O SIMPERE considera essa postura uma grave ameaça à democracia e à liberdade de organização dos trabalhadores e trabalhadoras da educação.
Não aceitaremos que nossa categoria seja criminalizada por exercer o direito à livre manifestação política e sindical. Os profissionais da educação do Recife têm lado: o lado da democracia, da justiça social e da luta antirracista. As galerias do povo não serão silenciadas por aqueles que tentam transformar o debate político em caso de polícia.
Seguiremos firmes na luta por uma escola pública crítica, democrática e antirracista, com liberdade de cátedra, valorização profissional e respeito à nossa atuação sindical.”