OBSERVATÓRIO ECONÔMICO

Sinais de melhora à vista

Publicado em: 05/08/2019 14:53

Tenho escrito neste espaço sobre a recuperação lenta da economia. Os números ainda são desanimadores, com renda estagnada, quase 13 milhões de desempregados e com revisões para baixo para as previsões de crescimento do Produto Interno Bruto em 2019, que saíram de 2,5%, no início do ano, para 0,8%, nas últimas previsões do boletim FOCUS do Banco Central (BC). Neste cenário e com inflação sob controle, o BC finalmente fez o que todos esperávamos e, com algum atraso, reduziu os juros básicos da economia (Selic) na semana passada. Estes saíram de 6,5% para 6,0% a.a. A decisão foi acertada e pegou até alguns de surpresa, não pelo corte em si, mas pela magnitude. 

Minha expectativa era que o BC seria mais conservador e reduziria em 0,25% a Selic, mas vejo com bons olhos a redução em 0,5%. Primeiro, porque apesar dos últimos números da CAGED terem apontando uma melhora no mercado de trabalho, com a criação de mais de 48 mil vagas em junho, melhor número desde 2013, temos ainda um contingente elevado de desempregados e uma ociosidade alta em alguns setores da economia, o que explica um pouco a inflação mais baixa. 

Por outro lado, no comunicado divulgado logo após a reunião do Comitê de Política Monetária, foi reiterada a preocupação com a continuidade das reformas e dos demais ajustes necessários para a retomada do crescimento.  Minha leitura é que, nas entrelinhas, o BC deu um recado ao Congresso, maiores quedas dos juros podem estar a caminho desde que o Congresso aprove, sem muitas alterações, a reforma da previdência no formato atual. No entanto, não podemos depositar todas as nossas esperanças na redução de 0,5% na Selic, tampouco apenas na aprovação da reforma da previdência ou ainda na ideia (errada) de afrouxar a política fiscal. Precisamos de mais.

É neste cenário, que o governo se esforça para apresentar o “caminho das pedras” para a retomada do crescimento.  O recente anúncio da liberalização do mercado de gás, quebrando o monopólio da Petrobrás, é positivo e deve baratear este insumo importante. Esforços de automatização e digitalização de alguns serviços públicos, a Medida Provisória da Liberdade Econômica, reforma tributária (sendo tocada pelo Congresso), privatizações de empresas públicas, atração de investimentos privados em infraestrutura são algumas dessas outras medidas que devem ajudar na retomada.

No mercado de crédito, a entrada em operação do Cadastro Positivo deve aumentar a competição neste setor e ajudar na redução dos famigerados juros altos para famílias e firmas no país. O anúncio de um novo modelo para o FGTS também é positivo. O FGTS é uma daquelas políticas públicas que têm boas intenções, mas seu resultado é ruim. Ao elevar o custo do trabalho formal, desestimula a contratação de trabalhadores formais (e eleva a informalidade), além de aumentar a rotatividade do trabalho. Para o trabalhador, o retorno do fundo é ruim, perde até da poupança. Uma alternativa seria ter transformado o FGTS num fundo de capitalização, com liberdade de escolha onde investir. Além de aumentar a renda da aposentadoria, teria efeitos positivos sobre o mercado de crédito. Obviamente, os trabalhadores poderão sacar parte dos valores e aplicar no mercado financeiro. Mas, como muitas famílias estão com a “corda no pescoço”, acho que o destino será quitar dívidas. Talvez sobre algo para o consumo. Apesar das turbulências no mundo da política, já dá para enxergar a luz no fim do túnel na economia. A retomada pode estar mais próxima do que muitos esperam. 

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