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OBSERVATÓRIO ECONÔMICO

Economia em marcha lenta

Publicado em: 03/06/2019 14:16

O IBGE divulgou na última semana os resultados para o Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre. A depender de como se olhe os resultados podemos ficar mais pessimistas ou menos otimistas, se preferir. Comparando com o último trimestre de 2018, o PIB apresentou leve queda de 0,2% (série com ajuste sazonal). No entanto, na comparação mais relevante que é com o primeiro trimestre de 2018, apresentou crescimento de 0,5%. É a velha história do copo meio cheio ou meio vazio. No fundo, esses números revelam que a economia ainda está em marcha lenta e que vai demorar um pouco mais para que comece a andar mais rápido. No cenário atual, com quadro fiscal deteriorado, as soluções passam por prosseguir nas reformas estruturais, mas talvez haja espaço para algum alívio no curto prazo. 

Os resultados não muito positivos do PIB não chegou a ser uma surpresa para muitos. Se olharmos para as projeções para o ano de 2019, essas já vinham apresentando queda nas últimas semanas de acordo com os dados do Boletim FOCUS do Banco Central. Na última semana, por exemplo, as expectativas eram de crescimento de 1,2% em 2019 contra expectativas de 1,5% no início do ano. É ainda muito pouco para uma economia que recém saiu de uma brutal recessão, mas algum crescimento é melhor que nenhum. 

Parte da explicação são os efeitos ainda persistentes das distorções criadas pelos governos anteriores, da redução dos gastos do governo federal e ainda do quadro de incertezas com a recuperação da economia, o que retrai consumo e investimento. Some-se a isto as incertezas com relação à aprovação da reforma da previdência, nossa prioridade número um. A preocupação é com o tipo de reforma que será aprovada e com o impacto fiscal que isso terá. A esperada economia de R$ 1 trilhão já “subiu no telhado”, mas se chegarmos perto disso já conseguiremos sinalizar maior sustentabilidade das contas públicas. E isso é essencial. A previdência hoje consome mais da metade do orçamento federal e sem equacioná-la, rumamos para a insolvência ou para a hiperinflação. 

Alguns têm sugerido usar as reservas cambiais em excesso para expandir os gastos fiscais e com isso recuperar o fôlego da economia. No entanto, é preciso levar em conta os impactos sobre o câmbio, vender dólares levaria a um movimento de apreciação do Real, reduzindo a competitividade de nossas exportações e encarecendo nossas importações com impactos sobre a inflação. Além disso, deve-se levar em conta que com uma dívida pública beirando os 80% do PIB e um déficit nominal de 7% do PIB, se é para usar as reservas, deveríamos usá-las para abater nossa dívida. A recente depreciação do Real pode ter aberto uma janela de oportunidades. Isso geraria um alívio fiscal, mas eu esperaria a aprovação da reforma da previdência. 

Do lado monetário, estimativas apontam para uma redução na  taxa neutra de juros (taxa que não gera pressões inflacionárias ou deflacionárias) e, portanto, a redução SELIC nos últimos anos foi menos estimulativa do que o esperado. Isso poderia sugerir que num cenário onde as expectativas de inflação estão dentro da meta de inflação e com uma conjuntura ainda desfavorável, a política monetária poderia ser mais estimulativa. Imagino que essa seja uma opção no “radar” do Banco Central, mas não esperaria quedas abruptas nos juros nos próximos meses.
Resta-nos torcer para que alguma reforma da previdência seja aprovada e com isso o horizonte fiscal fique mais claro. Menos “balbúrdias” na política, maior previsibilidade fiscal,  uma dose mais estimulativa na política monetária poderiam ajudar na recuperação da confiança na economia e com isso aumentar o consumo, o investimento e o emprego. 

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