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OBSERVATÓRIO ECONÔMICO

Até as paredes reagem

Publicado em: 20/05/2019 10:12

Algumas centenas de anos atrás Isaac Newton apresentava ao mundo sua terceira lei que mostrava que para toda ação há uma reação oposta de mesma intensidade. Embora aplicável a física, esta lei também ilustra o padrão do comportamento social, onde os objetos de uma determinada política não costumam ficar inertes e, para complicar, reagem de forma não tão previsível. A medida que o mercado começa a entender a forma como trabalha o atual governo fica cada vez mais clara a impressão que alguns lá acreditam que não existe reação, ao que Newton replicaria ao avisar que até as paredes reagem.

Nos últimos dias, por exemplo, vimos uma comunicação atabalhoada por parte do ministro da educação reviver os dias de grandes manifestações. O governo central, por sua vez, parece ainda não estar convencido que para cada ação que tomar haverão reações e, em alguns casos, com intensidade suficiente para obliterar o objetivo pretendido. E quantas ações. O governo Bolsonaro parece querer atacar todos os grandes problemas do Brasil de uma única vez, abrindo inúmeras frentes simultâneas independente de ter ou não capacidade de gerenciar cada um destes teatros de operação.

A resposta do mercado tem sido negativa, o que é refletido pela piora nas expectativas e
um possível resultado próximo de zero do PIB no primeiro trimestre. Como a capacidade de investimento do governo central foi pulverizada por uma sucessão interminável de resultados negativos, e as famílias permanecem com elevado nível de endividamento, o que restaria para impor algum ritmo a economia seriam expectativas positivas que levassem os investidores a voltar a investir na produção. No jargão dos economistas, seria agir do lado da oferta, visto que o governo não teria instrumentos para continuar a agir do lado da demanda. Mas com a União atuando em diversas frentes e sem um horizonte razoavelmente esperado de resultados para apresentar, isto não deve acontecer.

A princípio, o grande problema da União hoje é o déficit público, que tem como principais componentes os gastos com juros da dívida e com despesas previdenciárias. No caso dos juros, há pouco espaço de ação visto que os títulos já estão sendo emitidos com Selic de 6,5%, o que implica juro real de 2,5% ao ano. O problema é o estoque, e que estoque. A título de curiosidade, se você totaliza o resultado mensal do tesouro nos últimos governos o total fica em torno de 930 bilhões com Lula, 1,6 trilhão com Dilma e 1,2 trilhão com Temer, todos resultados negativos. Estamos rodando sistematicamente com déficit mês após mês, ano após ano, década após década. E como para financiar isto precisa emitir títulos públicos, o estoque de dívida gera uma imensa despesa. Resta a despesa previdenciária, que deve em tese ser tratada na reforma.

Todas as demais ações que o governo vem tomando em outras frentes difusas, por sua vez, só fazem mitigar a confiança do investidor e do consumidor. E como em economia fundo do poço não existe, vide a Venezuela, a não recuperação da capacidade de investimento da União pode de fato custar muito caro em termos de bem-estar ao Brasil.

E no Nordeste? A economia nordestina reagiu de forma mais intensa a última recessão que o resto do país, e as estatísticas de emprego, por exemplo, pioraram de forma significativa tanto em termos absolutos quanto relativos. Ou seja, temos a maior taxa de desocupação e também a que cresceu mais rápido. Os rendimentos, por sua vez, continuam em torno de 70% da média nacional, e mesmo Pernambuco já perdeu o ganho que obteve até 2013. A falta de parcimônia do atual governo em escolher cada embate que irá travar, e uma visível falta de estratégia, é mais cara aos nordestinos que ao resto do país. É esperar que se entenda que de uma canetada você tem apenas uma folha assinada, e para que ação de torne concreta é preciso lidar com as reações, e elas sempre vão vir, já dizia Newton.

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