Observatório Econômico
A pauta das eleições
Por: André Magalhães
Publicado em: 10/09/2018 09:33 Atualizado em:
Estamos há pouco menos de um mês do primeiro do turno das eleições. Vamos eleger um novo presidente, governadores, senadores e deputados. Apesar da proximidade, uma parcela significativa dos eleitores não conseguiu definir em quem vai votar. Aproximadamente um quarto diz pretender votar em branco ou anular o voto. Números fortes. A população não sabe o que quer? Talvez. Mas, o que me parece mais provável é que os candidatos não têm conseguido convencer o eleitor.
Com menos recursos circulando e um tempo menor de campanha, o desafio é grande. É preciso dizer rapidamente ao que veio. Discutir problemas. Apresentar propostas e soluções. As propostas deveriam fazer sentido. Deveriam refletir os anseios da população e a realidade do país. Não é bem o que estamos vendo.
Com um número grande de candidatos à presidência, temos um espectro razoável que vai da esquerda à direita. As pautas são diversas. Vamos da ideia de privatizar tudo até a reestatização completa. Do estado mínimo até o grande irmão (grande mãe e pai). De nenhuma interferência na vida das pessoas até a completa definição de como as pessoas devem se comportar.
Claro, nessa confusão toda entram pautas pessoais como o tema da homoafetividade, definição de família e aborto. É nesse momento que parece que perdemos o rumo. As discussões e ideais propostas parecem querer jogar a sociedade e economia para o passado.
Um ponto em particular que tem sido colocado de forma atrapalhada diz respeito à discriminação de gênero no mercado de trabalho. De forma lamentável o problema tem sido colocado de forma simplista e trivial. Uma tese fortemente veiculada é a de que não há diferencial de salários. As mulheres não ganham menos dos que os homens. E se isso acontece, quando isso acontece, é por simples questão de (in)competência.
Tirando o fato de os argumentos ignoram os diversos trabalhos científicos e evidências existentes do contrário (ver, por exemplo, os trabalhos de Marianne Bertrand, da Universidade de Chicago), a conclusão lógica é que não é preciso pensar no assunto. Lamentável, no mínimo.
Reconheço que pode ser difícil para os homens entender o tópico. Não sendo afetado diretamente de forma negativa, seria possível viver toda uma vida sem pensar no assunto. Possível, mas improvável. Bastar estar aberto a leitura e observar a realidade.
O diferencial de salários no mercado de trabalho é apenas uma dimensão do problema. O tratamento diferenciado para homens e mulheres pode ocorrer nas famílias (tarefas específicas) e na escola (conhecimentos e habilidades supostamente específicas). As meninas se afastam de áreas importantes da ciência por direcionamentos que são dados, talvez até de forma involuntária, desde cedo. Esperam-se posturas e interesses diferentes. Como resultado, temos menos meninas atuando na matemática e engenharia, por exemplo.
Não podemos ou devemos permitir que temas tão caros como esses sejam tratados com superficialidade. Precisamos chamar os candidatos para debater esse, e outros temas, de forma séria. Ignorar ou desmerecer o tema não agrega nada à sociedade. Ao contrário, pode nos fazer regredir e perder os avanços duramente conquistados.
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