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Observatório Econômico Crescimento Vegetativo

Por: Fernando Dias - Diario de Pernambuco

Por: Fernando Dias - Diario de Pernambuco

Publicado em: 14/05/2018 09:52 Atualizado em: 15/05/2018 11:41

Recentemente foi divulgada a taxa de desocupação brasileira para o primeiro trimestre de 2018, e o resultado está longe de ser bom, 13,1%. Para piorar as coisas, o resultado foi ainda pior que o trimestre anterior, que registrou 12,6%, e é o terceiro resultado seguido em que a taxa de desocupação só aumenta. Contrastando com outras estatísticas que mostram uma tímida, porém continua, melhora da economia, tal resultado precisava de uma justificativa oficial e ela veio em uma interessante colocação feita pelo próprio presidente Temer. Segundo ele o resultado piorou de forma boa, pois reflete um aumento da procura por emprego superior a abertura de vagas. Piora boa? Desde que Nicolás Maduro explicou ao mundo que na Venezuela falta papel higiênico porque a população está comendo mais não tínhamos uma explicação tão pitoresca.

Mas faz sentido esta explicação do Temer? Poderia até fazer, em verdade, mas os números não corroboram esta hipótese. Então o emprego de fato está caindo? Não, nesta parte o Temer está correto, o volume de emprego está subindo ainda que timidamente. Há duas formas de confirmar isso, pelo acompanhamento do mercado formal através dos dados do Ministério do Trabalho via CAGED, e pelos dados do IBGE via PNAD Contínua. No caso do CAGED, que acompanha toda a movimentação do mercado formal, desde abril de 2017 há criação de vagas e o saldo acumulado desde então é de 140 mil empregos no Brasil. Já na PNAD Contínua é possível comparar o primeiro trimestre de 2018 (90,581 milhões de empregados) com o primeiro trimestre de 2017 (88,947 milhões de empregados). Em verdade, a taxa de desocupação no primeiro trimestre de 2018 (13,1%) é mesmo menor que a do primeiro trimestre de 2017 (13,7%).

E as tais pessoas a mais procurando emprego que o Temer falou? De fato, a taxa de desocupação depende do número de ocupados e dos que estão procurando emprego, pois formalmente que não tem ocupação e não procura ocupação não é considerado desempregado. Porém, considerando o período de análise, o número de pessoas que procuravam emprego no primeiro trimestre de 2017 era maior que no primeiro trimestre de 2018. Assim, a leitura correta é que a taxa de desocupação caiu (não que subiu) em relação ao mesmo trimestre do ano anterior porque o número de vagas subiu (não que caiu) e o número de pessoas procurando emprego caiu (não que subiu). É um tanto confuso, mas isso se deve a forma como se calcula a taxa de desocupação e ao fato que o mercado de trabalho sofre efeitos temporais (sazonais) ao longo do ano e se deve, assim, considerar a evolução baseada em períodos similares.

Então a trajetória do emprego está em conformidade com o resto da economia? A do emprego sim, a da taxa de desocupação não. O emprego está crescendo timidamente desde o ano passado, porém neste caso timidez causa estrago. Ocorre que precisamos comparar a criação de vagas com a necessidade delas, ou seja, com o tamanho da população, e este não é fixo, ele cresce. Nos últimos anos a população brasileira vem crescendo há uma taxa vegetativa até baixa, entre 0,7% - 0,8%, mas o emprego não tem crescido além disso. Neste cenário o crescimento de vagas é absorvido pelo crescimento da população e, com isso a taxa de desocupação média acabou estacionando num patamar elevado mesmo no período recente quando houve expansão do número de vagas.

Isto nos lembra que a necessidade de crescimento econômico deve caminhar ao lado da necessidade de estabilidade econômica, evitando ajustes estáveis, porém excessivamente recessivos. Até o momento sem sinais concretos que seja nosso caso, mas as estatísticas de emprego acenderam o alerta. Vamos agora aguardar os programas dos candidatos a presidente para conjecturar sobre o que nos aguarda no futuro.