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CINEMA

'Frevo Michiles' finalmente ganha as telas do Recife

Dirigido por Helder Lopes, documentário sobre Jota Michiles, um dos maiores compositores brasileiros, ganha pré-estreia hoje no Cinema da Fundação (Sala Museu)

Publicado em: 12/02/2025 06:00 | Atualizado em: 12/02/2025 11:35

 ('Frevo Michiles' relembra a obra e a personalidade icônica do compositor pernambucano (Divulgação))
'Frevo Michiles' relembra a obra e a personalidade icônica do compositor pernambucano (Divulgação)
A inspiração bate, o artista cria, recria, reinventa; capta a música no ar, devolve ao público e escreve a história. Não foi apenas a cena do carnaval que Jota Michiles transformou, com sua visão já bastante cinematográfica do frevo, a partir de suas letras, eternizando os Quatro Cantos, o Bicho Maluco Beleza, o Diabo Louro e tantos outros símbolos emblemáticos que entraram para sempre na corrente sanguínea da cultura pernambucana. Essa força é registrada em várias vibrações sonoras no documentário Frevo Michiles, que ganha pré-estreia hoje, às 19h, no Cinema da Fundação (Sala Museu), onde entra em cartaz a partir de amanhã. 
 
Em 2017, o cineasta Helder Lopes (que já tinha retratado um personagem da música com o documentário Onildo Almeida: Groove Man) conheceu Michiles em um café da manhã e já registrou ali mesmo o espírito elétrico, o jeito característico de batucar na mesa e a inteligência na forma de contar histórias. Em 2021, a produção do longa começou a todo vapor, registrando uma série de depoimentos do compositor em lugares como sua casa, o Mercado da Encruzilhada, as ruas que inspiraram suas canções e também com as pessoas próximas que levam adiante a força de sua criação.
 (Helder Lopes (esq) e Jota Michiles (dir). Foto: Priscilla Melo/DP)
Helder Lopes (esq) e Jota Michiles (dir). Foto: Priscilla Melo/DP
Alceu Valença, Elba Ramalho, Fafá de Belém, Maria Bethânia, Geraldo Azevedo, Daniela Mercury, Marrom Brasileiro, Claudionor Germano e o saudoso Naná Vasconcelos estão entre os diversos artistas brasileiros que deram voz a canções que atravessaram gerações e viraram cânones do repertório nacional. Me Segura Senão Eu Caio, Bom Demais, Fazendo Fumaça e a premiada Recife, Manhã de Sol permeiam o filme de Helder Lopes de maneira discreta, no começo, para que o espectador mergulhe naquelas narrações e no espírito do biografado. À medida que a projeção avança, o frevo toma conta da tela, como deve ser.

Frevo Michiles foi visto pelo público pernambucano pela primeira vez em uma sessão emocionada no Teatro do Parque, no Cine PE de 2023, no qual foi premiado nas categorias de Trilha Sonora e Prêmio da Crítica (Abraccine). Após circular por festivais pelo país no último ano, entre eles o In-Edit Brasil, a obra volta aos braços do Recife.
 (Imagem do cartaz do filme (Divulgação))
Imagem do cartaz do filme (Divulgação)
“Nossa intenção nas gravações era deixar Michiles muito à vontade para contar suas histórias do seu jeito, mas sabíamos em que tipo de ânimo ele ficaria a depender do lugar: quando queríamos um momento mais elétrico, bastava ele estar na rua, com pessoas em volta e uma mesa na frente, para começar a batucar e festejar. Nos momentos mais introspectivos, como numa longa entrevista que ele dá no filme, fizemos o possível para conectá-lo com suas memórias, com uma roupa e uma ambientação que estimulasse esse lado da saudade", conta Helder Lopes, em conversa exclusiva com o Viver.

O diretor segue: "Era muito importante retratar não só essa dimensão da obra de Michiles, o peso que ela tem no imaginário coletivo, mas essas variações do próprio personagem. Ninguém é uma coisa só o tempo todo, e ele particularmente é uma pessoa com muitas reflexões profundas que surgem de maneira totalmente espontânea, então fizemos o máximo para levar isso ao filme”.
Para o compositor, a experiência foi mágica. “Na hora de gravar, tudo foi bem natural, como nas minhas composições. A inspiração para escrever vem do povo, da rua, das situações que eu vejo naquela hora, e o filme mostra isso, essa velocidade em fazer a música. Às vezes eu paro e penso: ‘rapaz, como é que eu fiz isso?’ É como se a música já existisse no ar e aí eu apenas a captasse”, reflete Jota Michiles no bate-papo. “A vida passa numa velocidade meteórica. De repente, você se vê um ancião contando suas histórias. Quando envelhecemos, viramos um poço de saudade, porque tudo é memória. Frevo Michiles tem muito dessa saudade, mas também tem a alegria, a festa. É bom demais!”. Ninguém melhor do que o mestre para saber o valor dessa expressão.

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