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FESTA DO MORRO

Morro da Conceição e sua história de formação cultural

Celebração da 120ª edição, neste fim de semana, é ápice das manifestações diversas que fazem parte da história do lugar e seguem atraindo multidões

Publicado em: 07/12/2024 06:00 | Atualizado em: 09/12/2024 07:23

 (Músico multi-instrumentista Lucas dos Prazeres, nascido no Morro da Conceição, conversa com o Viver sobre suas influências culturais e formativas. Foto: Maira Pontes)
Músico multi-instrumentista Lucas dos Prazeres, nascido no Morro da Conceição, conversa com o Viver sobre suas influências culturais e formativas. Foto: Maira Pontes
Desde o dia 28 de novembro que o Morro da Conceição pulsa em festividades na Zona Norte do Recife e, neste fim de semana, a programação atinge seu ápice e agrega a comunidade cultural com todos os tipos de público através da variedade de suas manifestações. Completando 120 edições neste ano, a festa histórica, que em 1904 recebeu a imagem da Imaculada Conceição pela França em celebração ao cinquentenário do dogma proclamado pela Igreja Católica, é tanto demonstração contínua de fé quanto evento vivo dos diferentes ritmos musicais.
 
Tanto na música quanto na fé – e na junção criativa das duas coisas – o Morro remete às suas origens de matriz africana, já que Nossa Senhora é representada pela divindade Iemanjá e os batuques do maracatu, do samba e do coco são preservados como patrimônio ao longo de todos os anos, dentro e fora deste período festivo na atmosfera da região. A escola de samba Galeria do Ritmo é um desse movimentos permanentes, com 62 anos de história e vários prêmios acumulados ao longo das décadas, além das quadrilhas juninas representadas pelos 20 anos de trajetória e repercussão interestadual da bicampeã nacional e pernambucana Junina Tradição. Mesmo o Homem da Meia-Noite já deixou sua marca no Morro, na célebre festa de 2019 que marcou uma apoteose do sincretismo tão celebrado pelo povo recifense.
 
As iniciativas populares da cultura que ganharam força nas últimas décadas são fruto de um pensamento comunitário que se espalhou para outros morros e regiões fora até de Pernambuco, como relembra o multi-instrumentista Lucas dos Prazeres, nativo do Morro da Conceição e uma das principais vozes atuais da preservação de seu patrimônio artístico.

"Eu nasci aqui no Morro mesmo, em 1984, e tenho muito orgulho disso. Eu tenho por essência a história de crescimento, evolução, emancipação jurídica, política e comunitária desse lugar. Vou para sempre observar e fazer parte da preservação do patrimônio cultural que esse lugar representa inclusive para outros bairros, que se inspiraram nessas iniciativas de rua. Eu nasci juntamente com a metodologia de aprendizagem pela prática cultural, no Quilombo dos Prazeres, e durante a minha vida toda essa vivência moldou o meu posicionamento crítico, artístico e comunitário, de entender como a música, além do entretenimento, ela serve como ferramenta pedagógica para transmissão da ancestralidade. As minhas influências culturais, então, também me formaram como cidadão: o músico é também ativista", explicou o artista e mestre em cultura popular. "A gente aqui no Quilombo dos Prazeres está num momento de festejo. Ontem foi aniversário da minha avó, hoje é o dia da minha mãe e amanhã, domingo, é o dia em que celebramos a Nossa Senhora. Então aqui em casa são três dias de celebração."

Lucas pontuou, no entanto, que, com toda a força cultural do Morro, existem vários problemas de estrutura da região que precisam de um olhar especial e que impedem que o clima de festa seja disseminado amplamente entre os moradores.

“A festa do Morro deixou de ser uma ‘festa do Morro’, eu acho. Eu percebo que a maioria das pessoas que festejam são mais de fora. Depois do acidente do desabamento, em que dois moradores idosos da comunidade que estavam lá para receber cesta básica, ficou claro para nós que muita gente com dificuldades tanto de alimentação e até mesmo de saneamento não consegue entrar nesse clima de festejo como já entrou, na minha época de criança, por exemplo. Acho importante em um momento como esse nós direcionarmos um olhar mais atencioso a mostrar e denunciar essas dificuldades, além de celebrar a data e a nossa cultura”, concluiu.

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