Nesta quinta-feira (5), o artista visual pernambucana Fefa Lins abre na Torre Malakoff a mostra individual 'Um Plano de Corte', com realização da Amparo 60 através do Edital de Ocupação da Torre, que apresenta um conjunto de seis obras recentes, realizadas entre 2023 e 2024, produzidas pelo artista, entre pinturas a óleo, objeto e escultura em fragmentos de paredes demolidas no centro do Recife. O texto crítico é de Agrippina R. Manhattan, artista visual e pesquisadora de São Gonçalo.
Fefa Lins transita em sua pesquisa entre pintura, identidade e espaço urbano, propondo nesta exposição uma investigação focada no ato de cortar – tanto em seu sentido literal quanto simbólico. Inspirado pelos planos de corte da arquitetura, que revelam as estruturas internas de edifícios, o artista transpõe essa lógica para a pintura, explorando as camadas visíveis e invisíveis que compõem corpos, espaços e histórias.
O corte, aqui, é um gesto de revelação, uma forma de desconstrução e reconfiguração que conecta elementos estéticos, políticos e autobiográficos. A nova série inédita que compõe a exposição representa uma nova direção na prática artística de Fefa, ao integrar elementos arquitetônicos diretamente em sua obra.
“Trabalhar com esses materiais de demolição tem a ver com a arquitetura, que é minha formação. Mas acho que tem também relação com um fascínio que eu sempre tive, desde a infância, com escombros, com materiais, com o trabalho manual, com o uso de ferramentas. Esses trabalhos me deram uma oportunidade para, de certa forma, mexer com isso. Porque eu pego esses escombros e eu esculpo eles, não só me aproprio e pinto em cima”, conta Fefa. “Eu não sei de onde vieram esses fragmentos, eles podem ter sido tantas coisas. Eu acho que de certa forma é uma libertação, você tirar aquele pedaço de parede da sua função original que era sustentar algo e transformar numa peça muito frágil. Quando você corta algo isso revela outras coisas, revela uma fragilidade, mostra o que tem dentro. Você desencaixa um pedaço de algo que ele deveria ser e ele pode ser outra coisa, pode se transformar”, reflete.
Os fragmentos, obsoletos e desgastados, são transformados em em suporte e superfície para pintura, onde a memória urbana se funde às narrativas pessoais. A escolha desse material também destaca a relação entre ruínas e desconstrução, tanto no espaço físico quanto nos processos de subjetivação.
Entre as outras obras apresentadas, destaca-se Autorretrato com e sem seios (2020-2024), uma pintura que retorna a Recife após passar por exposições em outras cidades. A obra carrega as marcas de sua trajetória física e simbólica: foi cortada em duas partes, costurada e agora exibe cicatrizes que remetem às próprias marcas da transição no corpo do artista. Dividindo o mesmo tecido, as duas figuras representadas na pintura contrastam – uma com seios, outra com peito liso – sublinhando a ideia de transformação como um processo contínuo, sempre em trânsito.
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