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Espetáculo gratuito
Baile do Menino Deus é apresentado no Marco Zero do Recife
Evento faz uma reverência para a cultura popular pernambucana
Publicado: 22/12/2023 às 08:33

Baile do Menino Deus é apresentado no Recife/Foto: Arquivo/DP

Brasileiro, plural e cheio de afeto. É uma pequena amostra do que representa o Baile do Menino Deus - o maior espetáculo natalino do país.
A peça e o Natal dos recifenses se confundem há 40 anos, quando os amigos Ronaldo Correia de Brito, Assis Lima e Antônio criaram um auto de Natal permeado pelas tradições globais e regionais, sem imitar o formato importado de celebração repleto de elementos desconectados da realidade brasileira. Com transmissão no Youtube, a encenação deste ano acontece no sábado (23) e no domingo (24), de forma gratuita, sempre às 20h, e marca a 20ª edição desde que foi transferida para a Praça do Marco Zero.
As inovações para cada edição do Baile do Menino Deus sempre criam expectativas. Baseadas nas vivências do diretor Ronaldo Correia de Brito ou em temas relevantes na sociedade contemporânea, todas as novidades buscam aprimorar a experiência do público na história mais contada do mundo. “O espetáculo deste ano foi ampliado, melhorado e apurado mais ainda. Acreditamos que é novo em vários aspectos”, garante. Uma das alterações corresponde à ampliação da passagem para celebrar os reis magos, com ocupação do palco por 62 artistas - o maior número simultâneo desde a estreia da montagem - entre eles os bailarinos de Okado do Canal e o percussionista Luan Rian, de apenas 10 anos.
A origem do espetáculo remonta a um esboço de representação teatral idealizada por Francisco Assis Lima e enviado a Ronaldo. Antonio Madureira contribuiu para transformá-lo em nove composições musicais inspiradas em ritmos pernambucanos, nordestinos, brasileiros e ibéricos. Com Rafa Marques à frente da orquestra, o Baile descreve o nascimento de Jesus no contexto da herança dos folguedos e das brincadeiras populares. “Hoje é, sem dúvidas, o espetáculo natalino mais importante do país”, celebra Ronaldo. A estimativa é que mais de 75 mil pessoas compareçam aos três dias de apresentações.
Pela primeira vez, o Baile possui um ator indígena e uma atriz negra escalados para viver José e Maria, respectivamente. Caique Ferraz é do grupo fulni-ô, aldeado em Águas Belas, no Agreste do estado, e um dos únicos do país a conservar o idioma nativo. Laís Senna é uma atriz, cantora e compositora com trânsito e reconhecimento em manifestações artísticas do Litoral ao Sertão pernambucano. “O Baile sempre foi muito diversificado, inclusivo e ligado às tendências do nosso estado”, sublinha o diretor. Dando sequência ao rodízio de atores, os dançarinos de Okado do Canal, do Arruda, com hip hop e break, foram convidados novamente neste ano.
“Fazer parte deste espetáculo é como tocar meu coração, pois ele contempla a minha criança interior, os artistas, todos os profissionais e todas as pessoas próximas a eles. É algo muito gratificante”, exalta Laís. Ela não esconde a emoção diante da oportunidade única de interpretar a mãe de Jesus, algo que não aconteceu nem mesmo nos espetáculos natalinos da escola. “Me sinto muito em casa, porque sou essa mistura, sou essa mulher negra popular. Sou fruto dessa grande mistura, dessas lutas, dessas vitórias, e de tudo que representa esse todo”.
Silvério Pessoa, Carlos Filho, Elon, Surama Ramos, Cláudia Rabeca e Isadora Melo estão entre os nomes já confirmados como solistas. Estreante no Baile, Maestro Forró é uma das grandes atrações no elenco. Mas Ronaldo Correia de Brito ameniza as expectativas. “Ninguém deve ficar com a expectativa de que Forró vai descer de parapente e cairá no palco tocando frevo”, brinca. “É um grande músico, uma pessoa maravilhosa para trabalhar e, com certeza, se somará a essas 300 pessoas que dão a vida para o espetáculo acontecer e brilhar”.