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Tico Santa Cruz diz ter 80% do corpo tatuado, mas evita encorajar prática: 'País hipócrita'
Publicado: 09/11/2022 às 13:37

Detonautas Roque Clube é atração da Art Tattoo Expo Recife/Crédito: Divulgação
O elo entre tatuagem e música irá se fortalecer a partir da próxima sexta-feira (11) até dia 15, no Classic Hall, onde acontece a segunda edição da Art Tattoo Expo em Pernambuco. Feira renomada de tattoos e body piercing no Brasil, este ano reserva um formato diferente, com uma programação musical composta por Poesia Acústica, Shapeless e Detonautas, do vocalista Tico Santa Cruz. A presença do artista é simbólica, uma vez que tem os desenhos no corpo enquanto marca registrada.
O show, marcado para sexta, promove o retorno do grupo ao estado depois da apresentação na Caruaru MotorFest, em setembro. Quando se trata da capital, o público recifense não confere o conjunto desde 2019. Em entrevista exclusiva ao Viver, Santa Cruz revela a ansiedade pela volta a Recife. “É uma oportunidade de reencontrar o público de Recife, já tem um tempo que o Detonautas não toca aí. Pernambuco sempre nos recebe bem e faz falta essa presença na capital. Espero que a gente consiga reunir o pessoal pra celebrar depois dos dias difíceis que tivemos”, declarou.
Aos 44 anos, o cantor é entusiasta de tatuagens desde jovem, mas apenas de 2000 em diante houve um aumento súbito na confecção. Santa Cruz conta que a escalada coincide com os momentos mais tensos de sua vida - e a tatuagem é a zona de conforto para registrar o que ele não deseja esquecer. Ele já cobriu mais de 80% do corpo e não tem planos de parar.
“Comecei a ter tatuagem no rosto em 2010 e fui, talvez, um dos primeiros artistas brasileiros. Hoje em dia é mais comum. Estou tentando encontrar, na minha terapia, uma relação entre os períodos mais tensos pra mim e uma tendência a procurar mais a tatuagem”, apontou. “Uma pessoa me falou algo que me marcou muito: ‘as tatuagens são cicatrizes que a gente colhe pra colocar na pele’. De certa forma, as minhas são relacionadas com essas questões que levo na vida”, completou o artista.
Voz ativa em causas políticas e sociais, Santa Cruz também descarrega pensamentos e discursos no formato de tatuagem. Algumas se destacam, como a frase “Viva o SUS” nos dedos das mãos e o símbolo da justiça no rosto: “A gente conta histórias na tatuagem. É uma forma de expressar no corpo o que você acredita ser importante. Também tem a parte estética,. A tatuagem está relacionada a uma série de outras questões que transcendem o significado mais profundo pra mim”, afirmou.

Além de vocalista do Detonautas, Tico também começou a construir carreira no ramo empresarial ao adquirir um estúdio de tatuagem. Ele ressalta, no entanto, que tem consciência da posição privilegiada na qual está inserido e prefere não levantar bandeira em defesa da prática. Para o cantor, desmistificar a concepção do homem de terno e gravata é um caminho mais viável do que fazer frente ao que ele entende como "hipocrisia'' de alguns brasileiros.
“Minha posição como artista me dá certos privilégios que outras pessoas não têm. É complicado levantar uma bandeira diante de um país hipócrita, preconceituoso, que não respeita a diversidade e tem uma série de problemas estruturais. Enquanto artista, com condição financeira que me dá liberdade de ir a lugares que o trabalhador de rua não pode, acho perigoso falar assim. É mais fácil dizer como podemos ser preconceituosos em relação a olhar alguém tatuado, ter estigma e, ao mesmo tempo, olhar alguém de terno e gravata e fazer uma leitura oposta”, disse.
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