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Dia Estadual do Bacamarteiro: Entenda a tradição dessa manifestação cultural
Publicado: 24/06/2022 às 08:00

/Foto: Material cedido ao Diario
Não se sabe ao certo a origem dos grupos de bacamarteiros. Enquanto uns afirmam que a tradição nasceu no período da invasão holandesa em Pernambuco, outros alegam que o costume de atirar pólvora seca no chão teria surgido após a Guerra do Paraguai (1864-1870), em comemoração aos soldados que conseguiram retornar do conflito e em agradecimento aos santos juninos.
Vestidos com fardas azuis, lenços e chapéus de couro ou de palha, os bacamarteiros mantêm a tradição viva desfilando pelas ruas acompanhados de seus bacamartes - armas utilizadas durante a Guerra, mas com algumas adaptações para o uso festivo.
Essa tradição é tão comum no interior de Pernambuco que o ex-governador Eduardo Campos sancionou uma lei estadual estabelecendo o dia 24 de junho, dia de São João, como o Dia Estadual do Bacamarteiro. E, em comemoração a esta data, o Diario conversou com o mestre bacamarteiro João Pimentel, da Sociedade dos Bacamarteiros da Cidade dos Palmares, na Zona da Mata Sul de Pernambuco, grupo criado por seu pai, o Mestre Moisés, em 1951.
“O grupo Bacamarteiros de Palmares foi criado pelo meu pai, Mestre Moisés. Ele não era de Palmares, era de Paquevira, Agreste, que era distrito de Canhotinho. Essa cultura veio dos meus bisavós. Ele passou à frente do grupo de 1951 a 1992: 41 anos. Em 1980 ele perdeu a visão e isso dificultou muito. Todo mundo achava que o grupo ia acabar, mas o povo se enganou. Meu pai, quando ele saia, a turma não sabia que ele era cego. Quando a gente fazia a apresentação, ele fazia igual aos outros: atirava e carregava mesmo cego. Em 1991, ele perdeu o pé e atirava sentado numa cadeira”, comentou Mestre João. Após a perda do Mestre Moisés o grupo fez uma pausa, mas voltou a ativa em 2008 com 12 pessoas. Atualmente, 14 anos após o recomeço, os Bacamarteiros de Palmares têm 37 pessoas.
Qual é a origem das nomeações que vemos nos grupos de bacamarte? Como “capitão”, “major”, por exemplo
Mestre João Pimentel - Há muitos anos, quando o exército ia às festas dos bacamarteiros, ele nomeava o chefe do bacamarteiro como “capitão”, “major”, “tenente”. Hoje em dia não tem mais isso. Antes, o exército se envolvia mais, tanto é que ele veio para um encontro que o meu pai fez aqui em Palmares quando eu morava na praça Maurity. A tradição da gente (de Palmares) é diferente. Usamos “presidente da associação”, “mestre”, "vice-presidente", “secretário”, “tesoureiro”... mas tem grupos da região do Agreste que usam “capitão”, “major” e “tenente”.
Quando e como aconteceu o seu primeiro contato com a cultura do bacamarte?
Mestre João Pimentel - Meu pai foi o fundador do grupo e ele queria que todos os filhos dele fizessem parte. A gente, inclusive, tem 13 membros da nossa família no grupo. Eu comecei a andar com meu pai aos 5 anos de idade, em 1985. Meu primeiro dia de saída com ele foi em 09 de junho, dia do aniversário de Palmares. Eu não comecei atirando, porque era muito novo, então meu pai me colocou para andar com a maletinha de primeiros socorros. Aí o pessoal começou a reclamar: “Seu Moisés, bota ele pra andar com o bacamarte”. E, no dia de Santo Antônio, ele me deu a garrucha que era da minha irmã. Aos 10 anos, ele me deu o meu primeiro bacamarte e até hoje a cultura segue.
Qual é a emoção de ser bacamarteiro?
Mestre João Pimentel - A nossa tradição é antiga e, pra mim, é uma emoção muito grande fazer parte do grupo dos bacamarteiros, representando o meu pai. Quando a gente veste a farda, a roupa do bacamarteiro, é emocionante. A gente sai com o bacamarte, festejando como uma família.
Como funciona o processo de entrada para um grupo de bacamarteiros?
Mestre João Pimentel - Para fazer parte de qualquer grupo de bacamarteiro, primeiro a gente verifica os antecedentes criminais, porque não sabemos quem é quem. Tem que participar de uma reunião, se apresentar ao grupo e entregar a documentação necessária para podermos dar entrada no exército. Se tiver algum problema nessa documentação, você não faz parte do grupo. A maioria do grupo da gente são amigos e familiares. Não entram pessoas que não conhecemos, porque o grupo também é formado por crianças, mulheres e idosos.

Todos os bacamartes são feitos por alguém do grupo ou existe um comércio especializado?
Mestre João Pimentel - Tenho dois bacamartes que foram fabricados pelo meu pai: uma riúna preta e um de inox, o primeiro e único que ele fez desse material. O lugar que a gente faz os bacamartes é em Belém de Maria (PE), com dois artesãos do bacamarte, Lenilson Ferreira e Calibson Ferreira (Bola), tio e sobrinho. Também tem outros fabricantes por aí, como o Seu Zé de Brás, em Ameixa (PE). Esses três fabricantes são autorizados a fazer bacamarte.
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