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CRÍTICA

'Top Gun: Maverick' atualiza tecnologia, mas preserva ideal à moda antiga de masculinidade

Publicado em: 26/05/2022 15:06 | Atualizado em: 26/05/2022 16:29

 (Filme é produzido e estrelado por Tom Cruise, com direção de Joseph Kosinski. Paramount/Divulgação.)
Filme é produzido e estrelado por Tom Cruise, com direção de Joseph Kosinski. Paramount/Divulgação.
É notório que o status de clássico de Top Gun: Ases indomáveis (1986), de Tony Scott, se deve muito mais aos números monstruosos da bilheteria mundial e à presença de seus astros em plena ascensão do que propriamente à recepção da crítica da época. Emblemático por suas sequências de ação envolvendo os caças da marinha e pelo casal central, interpretado por Tom Cruise e Kelly McGillis, o longa chegou a receber quatro indicações ao Oscar, mas sua abordagem kitsch divide opiniões até hoje. Agora, com o lançamento da aguardada continuação Top Gun: Maverick, o público pode testemunhar a evolução de muitas ideias formais e, simultaneamente, a preservação do conceito de masculinidade do filme original.
 
Retomando novamente o protagonismo de Tom Cruise, desta vez na posição de mentor da equipe de pilotos de elite Top Gun, o filme dirigido por Joseph Kosinski traz uma leva de rostos novos à história a fim de que a persona de Maverick, conhecido por sua insubmissão e coragem, se destaque ainda mais como uma lenda viva. Nesse sentido, esse trabalho carrega nas costas a nostalgia do antecessor e toda forte iconografia de franquias de ação inerente ao seu astro.
 (Paramount/Divulgação.)
Paramount/Divulgação.
Essas novas gerações presentes em Top Gun: Maverick passam a aparência de atualização, mas os seus personagens funcionam basicamente como réplicas dos arquétipos contidos no longa de 1986. Miles Teller, no papel do filho do falecido Goose, melhor amigo de Maverick, é o elo dramático central entre os dois filmes e o que move boa parte do conflito, sobretudo no tocante ao senso de culpa e responsabilidade do protagonista. Os demais são vividos por atores suficientemente carismáticos e fotogênicos, mas possuem utilidade bastante estratégica: o interesse romântico usual (Jennifer Connelly), a figura de autoridade proibitiva (Jon Hamm), o “soldado” de ego inflado (Glen Powell).

O interesse por essa “funcionalidade” do roteiro - que preza pela jornada clássica de heroísmo e redenção, sem qualquer tentativa de subversão - permite que Top Gun: Maverick invista seu tempo em homenagear (às vezes recriar mesmo) cenas icônicas do original. A mais significativa delas talvez seja o grande momento de diversão da equipe, que o filme descaradamente apenas troca de uma partida de vôlei para um futebol americano na praia. Ainda que aquele aspecto cafona característico da direção de Tony Scott esteja ausente na continuação, é curioso como Joseph Kosinski e Tom Cruise mantêm esse espírito (hoje problematizado) de uma irmandade intensamente masculina e exploram essa energia dos corpos em atrito de maneira assumidamente publicitária.
 (Paramount/Divulgação.)
Paramount/Divulgação.
 
Frequentemente as referências e flashbacks caem no esquematismo eficiente para situar o espectador que não assistiu ao filme anterior, mas Top Gun: Maverick conhece bem suas limitações dramáticas e alterna com objetividade entre as cenas passadas em terra e as passadas no ar. Gravadas em caças reais e contando com efeitos quase que exclusivamente práticos, as sequências de ação são formidáveis e, pela primeira vez, geograficamente compreensíveis. Tom Cruise fez questão de colocar o elenco em caças reais, cada um contando com uma câmera, e naturalmente tiveram que aprender por meses tanto técnicas de aviação quanto de filmagem para que o impacto final fosse mais do que a soma das partes.  

Num projeto que parece ter como fim o equilíbrio da reverência às origens com a injeção de vitalidade tecnológica, é coerente que o novo Top Gun - para toda primazia técnica - seja um blockbuster de apelos clássicos e uma ode nostálgica a esse ideal à moda antiga de hombridade.
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