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INCLUSÇÃO
'Frevo às Cegas' traz oficinas e um glossário da dança para pessoas com deficiência visual
Publicado: 07/01/2022 às 14:40

Idealizado por Danielle França, o projeto realiza primeiras oficinas em janeiro enquanto constrói um glossário com os passos do ritmo pernambucano/Divulgação
Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade, o Frevo promove encantamento pelas suas diversas formas musicais, mas também por meio dos corpos que se jogam em sua dança, dotada de uma dinâmica intensa, veloz e acrobata. Um empenho em aproximar esse encanto específico para a população com deficiência visual vem tomando forma a partir do trabalho da audiodescritora e especialista em acessibilidade cultural Danielle França, idealizadora do projeto Frevo às Cegas. O grande objetivo é a construção de um glossário em audiodescrição e em braille sobre os passos do ritmo. E parte fundamental disso será uma série de oficinas de dança para seu público-alvo, realizadas no Paço do Frevo e com inscrições abertas.
O Frevo às Cegas ganhou corpo de fato com os estudos na especialização em acessibilidade que Danielle fez na Universidade Federal do Rio de Janeiro, mas já a partir de um contato prévio que teve quando trabalhou com audiodescrição no espetáculo Entre Ruas, voltado para o frevo. O processo se mostrou complexo, levando em conta a velocidade e as acrobacias do ritmo.
“Enquanto eu falava um passo, os bailarinos já tinha dado outros dez. Então criei um glossário e apresentava esses passos para o público cerca de uma hora antes do espetáculo, fazendo também uma espécie de mini-oficina para ensiná-los, fazendo necessário apenas falar os nomes dos movimentos para eles entenderem. Funcionou bem e percebi uma necessidade ali, eles queriam saber outros passos e isso ficou na minha cabeça”, relata França.
De lá pra cá, ela mergulhou de cabeça, se matriculando na Escola Municipal de Frevo, levando a questão para sua especialização e desenvolvendo o projeto do Frevo às Cegas, aprovado em editais como o Funcultura e o Itaú Rumos. As oficinas serão realizadas pelo o passista e professor Jefferson Figueiredo, especialista em dança educacional e inclusão, contando ainda com consultoria geral do projeto realizada por Milton Carvalho, sendo verdadeiros laboratórios tanto para a criação do glossário, mas também para o desenvolvimento de um método de ensino mais inclusivo para a dança. Dessa forma, a iniciativa busca promover uma acessibilidade cultural que não coloque seu público apenas no lugar de contemplação, mas como verdadeiros agentes da arte.
“As pessoas com deficiência começaram a ser incluídas, mas muito no lugar da plateia. E elas começaram a querer fazer parte também do palco, de exercer o direito delas de participarem dos processos culturais, como o próprio frevo, o carnaval em si, elementos que fazem parte da vivência da cidade como um todo. Não é verdade que elas não procuram realizar essas atividades, a realidade é que falta acolhimento e espaços que promovam esse sentimento de pertencimento. Já presenciei algumas atividades semelhantes e sempre estão lotadas e sempre com muitos talentos”, explica Danielle.
Após a próxima oficina, marcada para começar no dia 19 de janeiro, será realizada uma outra em março, finalizando os estudos para a preparação da versão final do glossário com os passos do frevo. Os planos são de produzir, além dos glossários em audiodescrição, versões em braille, disponíveis nas bibliotecas de espaços como o próprio Paço do Frevo, a Escola Municipal de Frevo e o Instituto de Cegos, além de registros em vídeo do processo de criação. As informações sobre as inscrições nas oficinas podem ser acessadas na página do Instagram do projeto, @frevoascegas.
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