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Crítica: Ghostbusters - Mais Além caça o fantasma da nostalgia com homenagens

Publicado: 11/11/2021 às 10:23

A sequência reboot é um ode a franquia original e seus fãs, além de uma homenagem ao falecido Harold Ramis, intérprete de Egon Spengler/Foto: Sony Pictures/Divulgação

A sequência reboot é um ode a franquia original e seus fãs, além de uma homenagem ao falecido Harold Ramis, intérprete de Egon Spengler/Foto: Sony Pictures/Divulgação

Se teve um sentimento que tomou de assalto Hollywood na última década, esse foi a nostalgia. Realizadores que cresceram nos anos 80 comandam hoje as produções, enchendo os cinemas e streamings de reboots, remakes, spin-offs, prequels e qualquer outro derivado de resgate de uma obra já existente. Se às vezes a nostalgia é apenas um artifício da indústria para atrair público, outras ela parece ter o coração no lugar certo, como é o caso de Ghostbusters - Mais Além, que estreia no Brasil no dia 18 de novembro (próxima quinta-feira). Em uma espécie de sequência reboot, o longa tenta reanimar a franquia do grupo de Caça-Fantasmas, formado originalmente por Bill Murray, Dan Aykroyd, Harold Ramis e Ernie Hudson.

Após a morte do seu pai, uma mãe solteira se muda com seus dois filhos, Phoebe (Mckenna Grace) e Trevor (Finn Wolfhard), para uma cidade do interior. Tendo que se adaptar à nova rotina e revirando artefatos da casa, os irmãos descobrem que podem estar relacionados de alguma forma com os Caça-Fantasmas e que seu avô se preparava para combater o retorno de antigas divindades malignas.

Como a continuação de 1989 já tinha falhado em fazer, o conflito dos filmes dos Ghostbusters sempre giram em torno da mesma dinâmica de invocação fantasmagórica do original, aqui ainda mais diretamente reverenciado pela repetição das figuras de Gozer e Zuul. Se a problemática surge apenas para completar a história, o destaque se concentra então na apresentação dos novos personagens, especialmente na jovem Phoebe, que protagoniza o filme com um carisma invejável até para os atores veteranos. Ainda que em um ritmo mais pacato e descompromissado, os primeiros atos são eficientes em nos envolver nos conflitos infantojuvenis inéditos na saga.

Trocando a ambientação urbana de Nova York e o humor inapropriado por um tom bem mais família, o longa não soa como um filme dos Ghostbusters, mas sim como um retrato do público fã em seu ato de “brincar de ser um Caça-Fantasmas” enquanto criança. O DNA da franquia, porém, continua presente, até de forma literal na direção de Jason Reitman, filho do diretor dos filmes originais, Ivan Reitman.

Clima familiar também atrás das câmeras. Elenco junto a Ivan Reitman (esquerda), diretor dos clássicos, e Jason Reitman (direita), seu filho e diretor do filme

Por outro lado, a nostalgia cobra seu preço ao impedir que franquias sejam verdadeiramente atualizadas para o século XXI, como tentou o reboot de 2016, protagonizado por uma equipe totalmente feminina. Ainda que funcionando muito mais no humor, o filme foi rechaçado pelo público, levantando questões como base de fãs tóxica e público-alvo. Dessa vez, a base dura de fãs não precisa se preocupar, pois encontrará uma contemporaneidade oitentista, que olha com ternura para as memórias daquele universo.

Fato é que o ‘efeito Stranger Things’, como podemos chamar a exploração da nostalgia (e não somente a onipresença do ator Finn Wolfhard), tem sido uma mina de ouro para Hollywood. Se por um lado ela limita a criatividade e independência dos filmes, por outro ela constrói um novo tipo de diálogo do público com as obras. É uma relação colaborativa que se aproveita dos símbolos de culto de uma franquia anos depois, tempo suficiente para identificar quais falas e objetos se consolidaram na cultura pop. Assim, os realizadores preenchem o espaço com inúmeras referências, de sutis como uma coluna de livros empilhados em um canto a explícitas como um grande tributo a Harold Ramis, o único integrante falecido da equipe original, no terceiro ato.

Ghostbusters - Mais Além é um dos resultados mais diretos desse fenômeno, ao mesmo tempo em que consegue propor um divertimento autêntico. Já está na hora de superarmos a década de 80, mas enquanto a indústria ainda encontra motivos para tirar novas velhas franquias do baú, que o faça com homenagens realmente tocantes e em tom de despedida, para conseguir finalmente se livrar dos fantasmas do passado.

Confira o trailer abaixo:


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