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LITERATURA

Livro compila textos raros de romancista Zelda Fitzgerald

Publicado em: 29/07/2021 09:53

Importante romancista da Era do Jazz teve muito do seu material descreditado (Foto: Reprodução)
Importante romancista da Era do Jazz teve muito do seu material descreditado (Foto: Reprodução)
Um novo livro está sendo lançado e reúne 13 textos raros da romancista Zelda Fitzgerald. Intitulado como Artigos e textos jornalísticos, a obra propõe uma leitura contemporânea de suas facetas de ensaísta, contista, bailarina e artista plástica. Concebida como um livro de artista, a edição apresenta os escritos menos conhecidos em diálogo com as intervenções artísticas originais da escritora brasileira Clara Averbuck e da cartunista Bruna Maia.
 
Lançado pela Ponto Edita, a obra tem ainda um ensaio crítico exclusivo escrito por Marcela Lanius, doutora em Estudos da Linguagem pela PUC-Rio e uma das principais pesquisadoras da obra de Zelda Fitzgerald no Brasil. Ao longo da vida, Zelda (1900-1948) publicou apenas um livro, o romance Esta valsa é minha, de 1932. No entanto, entre os anos de 1917 e 1948, ela escreveu uma série de contos, artigos e textos jornalísticos.
 
Embora muitos desses escritos tenham se perdido ao longo do tempo, alguns chegaram a ser publicados na época. Entretanto, como eram assinados também por seu marido, F. Scott Fitzgerald, o nome de Zelda acabou sendo apagado e sua autoria só reapareceu anos depois, quando descobriu-se que o próprio Scott atribuiu os créditos a ela em seus cadernos de registro.
 
Parte da produção começa a chegar ao público brasileiro em publicação que, pela primeira vez no país, coloca Zelda no lugar de autora e propõe que ela seja lida não como grande heroína ou esposa de um escritor famoso, mas como escritora modernista pelos próprios méritos: "Que esta seja uma oportunidade para não mais reproduzirmos os discursos que nos cercam, mas sim para encontrarmos um novo", escreve Lanius.
 
Clara Averbuck envia uma carta ao passado e engata uma conversa ficcional com a escritora no ensaio poético A melindrosa não está morta!, que abre a edição. Já a cartunista Bruna Maia, famosa por abordar temas como transtornos mentais, feminismo e dilemas geracionais, cria uma série de crônicas visuais que acentuam as diversas manifestações do trabalho de Zelda e a atualidade dos temas retratados nos textos.
 
Marcela Lanius destaca que os escritos que compõem Artigos e textos jornalísticos encapsulam um momento específico na história da cultura estadunidense e registram o amadurecimento da artista de vários talentos, atenta não apenas às mudanças que viu, sentiu e viveu, mas também aos reflexos dessas mudanças em seu próprio corpo, sua própria vida, nas vidas daqueles que estavam à sua volta.

Escritos de Zelda Fitzgerald 
Artigos e textos jornalísticos traz O livro mais recente de meu marido, uma debochada resenha de Os belos e malditos na qual Zelda ironiza o fato de páginas desaparecidas de seu diário ressurgirem no romance de Scott, e o conto O iceberg, publicado no jornal literário da escola onde ela estudava, redescoberto em 2013 e até agora inédito em livro. Escrito quando Zelda tinha por volta de 17 anos, o conto retrata e desafia, com ironia fina, os papéis que a conservadora sociedade americana do início do século 20 esperava das mulheres.
 
Também integra a antologia Elogio da Melindrosa, cujo tom satírico transmuta-se na comédia atenta e mascarada de Todo homem casado tem um dia um momento de revolta? A melodia reflexiva e urbana de A beleza inconstante da Park Avenue, por sua vez, dá lugar à leveza censuradora de Tinta e pó e Que fim terá levado a melindrosa?, e a nostalgia dolorida de Acompanhe o sr. e a sra. F ao quarto - e Leilão - Modelo 1934 se desmancha na idiossincrasia colorida de Sobre F. Scott Fitzgerald.
 
Sobre a autora
Zelda Sayre Fitzgerald foi uma ensaísta, contista, romancista, dramaturga, bailarina e artista plástica norte-americana do início do século 20. Nascida em 1900 em Montgomery, Alabama, tornou-se um ícone nos anos 1920 e um dos maiores símbolos da Era do Jazz ao lado do escritor F. Scott Fitzgerald, com quem se casou aos 20 anos.
 
Aos 27 voltou a estudar dança e chegou a ser convidada a participar da companhia de balé do Teatro San Carlo, em Nápoles, mas Scott a convenceu a não aceitar. Na década de 1930, começou a enfrentar o sofrimento mental que a acompanharia até o fim da vida. Em 1932, enquanto se tratava numa clínica psiquiátrica em Baltimore, utilizou material autobiográfico para escrever o romance Esta valsa é minha e criar uma série de pinturas.
 
O legado de Zelda Fitzgerald passou por uma profunda revisão em 1970, quando Nancy Milford, então estudante de pós-graduação da Universidade Columbia, publicou Zelda: A Biography, primeiro trabalho de fôlego sobre a vida da escritora. A pesquisa pioneira de Milford reacendeu o interesse na figura emblemática de Zelda e em sua produção artística.
 
Na noite de 10 de março de 1948, houve um incêndio na cozinha do hospital em Asheville, Carolina do Norte, onde Zelda estava internada. Ela estava trancada em uma sala à espera de uma sessão de terapia de eletrochoque. O fogo se alastrou através do poço do elevador de comida e se espalhou por todos os andares. Nove mulheres, incluindo Zelda Sayre Fitzgerald, morreram.
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