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Com 'Titane', Julia Ducournau se torna a segunda mulher a receber a Palma de Ouro

Publicado: 19/07/2021 às 09:00

A diretora, mais nova concorrendo, bateu outros grandes nomes com seu filme de terror peculiar/Foto: Valery Hache/AFP

A diretora, mais nova concorrendo, bateu outros grandes nomes com seu filme de terror peculiar/Foto: Valery Hache/AFP

A francesa Julia Ducournau tornou-se neste sábado (17) a segunda mulher a conquistar a Palma de Ouro do Festival de Cinema de Cannes, com o filme Titane, o mais violento e transgressor da competição.
 
O cineasta americano Spike Lee, presidente do júri, anunciou o nome do filme vencedor de forma acidental, no começo da cerimônia, quando deveria revelar o prêmio de interpretação masculina. Posteriormente, ele pediu desculpas.
 
Julia Ducournau, 37, levou o prêmio máximo 28 anos após Jane Campion, da Nova Zelândia, por O Piano. Também era a mais jovem entre os 24 diretores que concorriam à Palma de Ouro desta edição do festival.
 
“Obrigada ao júri por ter apelado a uma maior diversidade em nossas experiências no cinema e em nossas vidas. Obrigada ao júri por deixar os monstros entrarem”, disse entre lágrimas a diretora, apreciadora dos filmes de terror.
 
Vinte e quatro filmes estavam em competição no total, quatro deles dirigidos por mulheres e nenhum por um cineasta latino. Ao lado de Lee no júri (de maioria feminina), estavam, entre outros, o cineasta pernambucano Kleber Mendonça FIlho e a atriz americana Maggie Gyllenhaal.
 
Radical e excêntrico, Titane começa com um acidente de carro em que uma menina, Alexia, fica gravemente ferida e os médicos têm que colocar uma placa de titânio em seu crânio. Anos mais tarde, a jovem, interpretada pela enigmática Agathe Rousselle, passa a sentir atração sexual por carros e se torna uma assassina convulsiva.
 
Cinema de Gênero
"Um dos meus objetivos foi trazer o cinema de gênero, ou os filmes 'ovni', para os festivais em geral, a fim de deixar de marginalizar parte da produção francesa", disse a diretora dias atrás. “O gênero também permite falar sobre o indivíduo, e, muito profundamente, sobre os nossos medos e desejos”, acrescentou.
 
Julia já havia sacudido Cannes em 2016, com Raw, seu filme sobre uma estudante de veterinária que se convertia em canibal. Este ano, ela se impôs sobre grandes nomes do cinema, como Wes Anderson, Asghar Farhadi, Paul Verhoeven e Nanni Moretti, e desbancou o japonês Drive My Car, favorito da crítica, que levou o prêmio de melhor roteiro.  
 
Premiações
O Grande Prêmio, segundo mais importante, foi para A Hero, do iraniano Asghar Farhadi - que joga luz sobre a perversidade das redes sociais -, juntamente com Compartment No. 6, do finlandês Juho Kuosmanen.
 
O filme contemplativo Memoria, do tailandês Apichatpong Weerasethakul, protagonizado pela britânica Tilda Swinton e rodado na Colômbia em espanhol e inglês, levou o Prêmio do Júri, juntamente com Ahed's Knee, do israelense Nadav Lapid.
 
Ao receber o prêmio, o cineasta tailandês fez um chamado aos governos de Tailândia e Colômbia para que "acordem e trabalhem para seus povos".
 
O prêmio de melhor atriz foi para a norueguesa Renate Reinsve, considerada a revelação do festival. Aos 33 anos e desconhecida do grande público, ela foi reconhecida por seu papel de millennial em crise em The Worst Person in the World, do compatriota Joachim Trier.
 
Outro jovem ator, o americano Caleb Landry Jones, 31, levou o prêmio masculino, por encarnar o autor de um massacre que traumatizou a Austrália em 1996 no filme Nitram.
 
A América Lativa teve participação discreta na seleção oficial. O curta Céu de Agosto, da brasileira Jasmin Tenucci, recebeu a Menção Especial. Nas mostras paralelas, os filmes mexicanos La Civil e Noche de Fuego, e o colombiano Amparo, foram premiados.
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