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Mestras coquistas de Olinda têm trajetórias contadas em curtas-documentários
Publicado: 20/04/2021 às 10:50

Dona Ana Lúcia, Dona Glorinha, Dona Cila e Dona Célia aprenderam com os pais a paixão pelo coco e seguem lutando pela valorização e preservação da cultura popular/Foto: Ladjane Rameh/Divulgação
As vozes femininas que mantêm viva a tradição secular do coco de roda nas periferias olindenses terão suas histórias contadas no projeto Mestras coquistas de Olinda - Mulheres que fazem a brincadeira acontecer, uma série de entrevistas com olhares sobre raça, gênero, geração e fé, dirigida pela produtora pernambucana Ladjane Rameh. Os vídeos começaram a ser veiculados no canal Pernambucanas da Cultura no YouTube, na última sexta e ganharão novos episódios nesta terça-feira (20), neste sábado (24) e na próxima terça (27), sempre às 12h. Dona Cila, Dona Ana Lúcia, Dona Célia e Dona Glorinha aprenderam com os pais a paixão pelo coco e seguem lutando pela valorização e preservação da cultura popular. A iniciativa tem incentivo da Lei Aldir Blanc.
Nesta terça-feira, será apresentada a história de Dona Ana Lúcia, de 77 anos, moradora da comunidade Alto do Serapião, em Amaro Branco. Ela se dedica ao coco e ao pastoril há mais de 55 anos. “Quem assistir ao curta-documentário terá a oportunidade de rir e se emocionar e, certamente, se apaixonará por essa mulher, que é uma estrela que brilha muito além do que se vê nos palcos e rodas de coco”, conta Ladjane. A diretora diz que Olinda tem uma importante tradição de mulheres coquistas. Das rodas do Amaro Branco, Guadalupe, Amparo e Varadouro, despontaram grandes mestras, como Dona Selma do Coco, Dona Maria Belém, Dona Aurinha, Mãe Beth de Oxum, além das quatro retratadas na produção.
“A curiosidade de ouvir as histórias dessas mulheres experientes e cheias do que dizer, além do desejo de contribuir como pesquisadora com o registro das memórias de pessoas tão importantes para a nossa cultura, foi o que me inspirou”, destaca Ladjane. “Essas mulheres desempenham um papel fundamental na salvaguarda das tradições que representam, pois, além do importante papel na arte, no entretenimento e até no fortalecimento do tecido social de suas comunidades, como mestras, elas dão continuidade, recriam e ensinam as manifestações às novas gerações”, frisa.
O projeto tem, sobretudo, o intuito de firmar a participação feminina na manutenção do patrimônio cultural do estado. A diretora lembra ainda que a diferença entre os gêneros começa ainda dentro de casa, bem antes de algumas coquistas conquistarem espaço. “Algumas mulheres são impedidas por seus companheiros de participar das manifestações culturais. Durante as entrevistas, ouvi relatos sobre coquistas que só puderam se dedicar à cultura depois de ficarem viúvas. Uma das entrevistadas relatou que o seu marido ameaçava a separação caso ela seguisse cantando coco ‘cercada por homens’. Essas questões só reforçaram a minha admiração pela luta e resistência das mestras”, destaca.
O trabalho é fruto de uma pesquisa desempenhada por Ladjane durante o doutorado. “Pesquisei o carnaval do Sítio Histórico de Olinda e registrei algo que, como moradora do local e foliã, já percebia há certo tempo: ao contrário do que muitos pensam, o coco está presente na cidade não apenas durante o ciclo junino, mas o ano inteiro, sendo um importante elemento de entretenimento e coesão social em algumas comunidades”, relata.
As entrevistas resultaram em uma série de quatro curtas. Os depoimentos foram transcritos na íntegra e serão disponibilizados como fonte de pesquisa, junto a um banco de imagens. A ideia é difundir esses conteúdos a estudantes, pesquisadores e demais interessados. A primeira entrevistada da série foi a mestra Dona Cila do Coco, de 81 anos, moradora do Varadouro e uma das maiores representantes da tradição cultural. O conteúdo está disponível no YouTube. O terceiro episódio apresentará a vida e trajetória de Dona Célia, residente da comunidade de Sapucaia de Dentro, e vai ao ar no dia 23 de abril. Para encerrar, no dia 27, é a vez de Dona Glorinha do Coco, de 86 anos, moradora do Amaro Branco.
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